Oficiais
húngaros se uniram nesta semana para condenar a violência étnica e os ataques
antissemitas, incluindo uma agressão contra o ex-Rabino-Chefe, em 5 de junho.
Mas surgiu um motivo para mais introspecção: um escândalo científico relembrando
noções desacreditadas sobre pureza racial.
O Conselho de Pesquisa Médica
da Hungria (ETT), que assessora o governo em políticas de saúde, pediu que o
Ministério Público investigasse uma companhia de diagnósticos genéticos que
certificou que um membro do parlamento não tinha ascendência cigana ou
judia.
A pessoa em questão é do partido de extrema-direita Jobbik, que
recebeu 17% dos votos na eleição geral de abril de 2010. Aparentemente, ele
requisitou o certificado da firma Nagy Gén Diagnostic and Research, em
Budapeste. A empresa produziu o documento em setembro de 2010, poucas semanas
antes das eleições locais.
O certificado – com o nome da pessoa apagado –
surgiu em um site no mês passado e atraiu a mídia húngara. Um dos parceiros
financeiros da Nagy Gén, Tibor Benedek – três vezes medalha de ouro em polo
aquático olímpico e membro de uma proeminente família judaica – imediatamente se
retirou da empresa.
O secretário da ETT, József Mandl, diretor de
química médica da Semmelweis University em Budapeste, diz que o certificado é
“profissionalmente errado, eticamente inaceitável e ilegal”. O conselho discutiu
o problema em 7 de junho e concluiu que o teste viola a Lei de Genética de 2008,
que só permite testes desse tipo para fins de saúde.
“A posição do
conselho é importante”, aponta Lydia Gall, pesquisadora do grupo de direitos
civis Human Rights Watch, da Europa Oriental e dos Bálcãs, que mora em
Amsterdã. “Na Hungria houve muitos crimes violentos contra ciganos e atos de
antissemitismo nos últimos anos”, reforça ela. Políticos que tentam usar testes
genéticos para provar que são “puramente húngaros” alimentam as chamas do ódio
racial, adiciona ela.
A Nagy Gén verificou 18 posições no genoma do membro do parlamento procurando
variantes que, segundo a empresa, são características de grupos étnicos ciganos
e judeus; seu relatório conclui que uma ancestralidade cigana ou judaica pode
ser descartada. O certificado adiciona: “Para uma interpretação do resultado do
teste e para consultas genéticas relativas à árvore genealógica, favor
contatar-nos quando conveniente”.
A Nagy Gén não respondeu emails e
telefonemas da Nature para comentar o assunto. Uma declaração em seu
site, porém, alega que os jornais relataram a história “de maneira incompleta” e
aponta a recomendação do certificado para consultas posteriores. A declaração
argumenta que a companhia “rejeita todas as formas de discriminação, então não
tem o direito de julgar os propósitos para os quais um indivíduo usará os
resultados de seu teste. Então, por razões éticas, não poderia ter se recusado a
realizá-lo”.
O certificado apareceu pela primeira vez em um site de
direita, que descreveu a intenção por trás do teste genético como “nobre”,
apesar de ter questionado a ciência. Depois de o blog de notícias Petőfi
utca republicar o certificado em 14 de maio, a Sociedade Húngara de
Genética Humana publicou uma declaração condenando o teste. István Raskó,
diretor do Instituto de Genética da Academia Húngara de Ciências, em Szeged, e
vice-presidente da sociedade, explica ser impossível deduzir as origens de
variações genéticas a partir de alguns poucos locais do genoma. “Esse teste não
faz sentido nenhum e o assunto é muito nocivo à profissão da genética clínica”,
declara.
O contrato de locação da Nagy Gén com a Eötvös Loránd University
se encerrou este mês, disse György Fábri, porta-voz da universidade. “A
universidade não está comentando o assunto publicamente porque isso não é da
nossa conta – nossos pesquisadores não tiveram contato com a empresa”. Em uma
declaração escrita, ele adicionou que a universidade “rejeita completamente” o
abuso de resultados científicos para promover a discriminação e o
ódio. |
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