Tecnologia do Blogger.

17 de jun. de 2012

Teste genético é criticado por avaliar “pureza racial”

Escândalo científico na Hungria avalia origens e reaviva noções discriminatórias
por Alison Abbott e revista Nature
T. Kovacs, MTI/AP

Oficiais húngaros se uniram nesta semana para condenar a violência étnica e os ataques antissemitas, incluindo uma agressão contra o ex-Rabino-Chefe, em 5 de junho. Mas surgiu um motivo para mais introspecção: um escândalo científico relembrando noções desacreditadas sobre pureza racial.

O Conselho de Pesquisa Médica da Hungria (ETT), que assessora o governo em políticas de saúde, pediu que o Ministério Público investigasse uma companhia de diagnósticos genéticos que certificou que um membro do parlamento não tinha ascendência cigana ou judia.

A pessoa em questão é do partido de extrema-direita Jobbik, que recebeu 17% dos votos na eleição geral de abril de 2010. Aparentemente, ele requisitou o certificado da firma Nagy Gén Diagnostic and Research, em Budapeste. A empresa produziu o documento em setembro de 2010, poucas semanas antes das eleições locais.

O certificado – com o nome da pessoa apagado – surgiu em um site no mês passado e atraiu a mídia húngara. Um dos parceiros financeiros da Nagy Gén, Tibor Benedek – três vezes medalha de ouro em polo aquático olímpico e membro de uma proeminente família judaica – imediatamente se retirou da empresa.

O secretário da ETT, József Mandl, diretor de química médica da Semmelweis University em Budapeste, diz que o certificado é “profissionalmente errado, eticamente inaceitável e ilegal”. O conselho discutiu o problema em 7 de junho e concluiu que o teste viola a Lei de Genética de 2008, que só permite testes desse tipo para fins de saúde.

“A posição do conselho é importante”, aponta Lydia Gall, pesquisadora do grupo de direitos civis Human Rights Watch, da Europa Oriental e dos Bálcãs, que mora em Amsterdã. “Na Hungria houve muitos crimes violentos contra ciganos e atos de antissemitismo nos últimos anos”, reforça ela. Políticos que tentam usar testes genéticos para provar que são “puramente húngaros” alimentam as chamas do ódio racial, adiciona ela.
A Nagy Gén verificou 18 posições no genoma do membro do parlamento procurando variantes que, segundo a empresa, são características de grupos étnicos ciganos e judeus; seu relatório conclui que uma ancestralidade cigana ou judaica pode ser descartada. O certificado adiciona: “Para uma interpretação do resultado do teste e para consultas genéticas relativas à árvore genealógica, favor contatar-nos quando conveniente”.

A Nagy Gén não respondeu emails e telefonemas da Nature para comentar o assunto. Uma declaração em seu site, porém, alega que os jornais relataram a história “de maneira incompleta” e aponta a recomendação do certificado para consultas posteriores. A declaração argumenta que a companhia “rejeita todas as formas de discriminação, então não tem o direito de julgar os propósitos para os quais um indivíduo usará os resultados de seu teste. Então, por razões éticas, não poderia ter se recusado a realizá-lo”.

O certificado apareceu pela primeira vez em um site de direita, que descreveu a intenção por trás do teste genético como “nobre”, apesar de ter questionado a ciência. Depois de o blog de notícias Petőfi utca republicar o certificado em 14 de maio, a Sociedade Húngara de Genética Humana publicou uma declaração condenando o teste. István Raskó, diretor do Instituto de Genética da Academia Húngara de Ciências, em Szeged, e vice-presidente da sociedade, explica ser impossível deduzir as origens de variações genéticas a partir de alguns poucos locais do genoma. “Esse teste não faz sentido nenhum e o assunto é muito nocivo à profissão da genética clínica”, declara.

O contrato de locação da Nagy Gén com a Eötvös Loránd University se encerrou este mês, disse György Fábri, porta-voz da universidade. “A universidade não está comentando o assunto publicamente porque isso não é da nossa conta – nossos pesquisadores não tiveram contato com a empresa”. Em uma declaração escrita, ele adicionou que a universidade “rejeita completamente” o abuso de resultados científicos para promover a discriminação e o ódio.

 

0 comentários:

Postar um comentário

Total de visualizações de página

 
Desenvolvido por Othon Fagundes