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19 de fev. de 2016

Entenda a tecnologia radioativa que promete conter o Aedes aegypti

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Image caption Nos laboratórios de órgão da ONU, mosquitos são esterelizados com radiação
Uma tecnologia que esteriliza mosquitos por meio da exposição à radioatividade é uma nova arma dentro dos esforços para combater o Aedes aegypti, vetor de transmissão dos vírus da dengue, chikungunya e zika no Brasil.
A proposta vêm do órgão das Nações Unidas que coordena energia nuclear, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), e deverá ser debatida em um encontro em Brasília nos dias 22 e 23 deste mês.
A agência da ONU está oferecendo a transferência de conhecimento e espera ver a aplicação da técnica dar resultado dentro de um ano após sua adoção, explicou à BBC Brasil o vice-diretor da organização e chefe do departamento de Ciências Nucleares e Aplicações, o brasileiro Aldo Malavasi.
Na esterilização proposta pela AIEA, os mosquitos machos do Aedes aegypti são expostos à radiação eletromagnética ionizante de raios gama. A radiação danifica aleatoriamente o material genético contido no sêmen do inseto, gerando infertilidade. Quando os machos irradiados acasalam com as fêmeas, os filhotes gerados são ovos que não vingam.
"Você solta insetos são normais no seu comportamento, só que o esperma não é normal, ele tem pedaços quebrados. Quando o óvulo da fêmea recebe o esperma, o embrião não consegue se desenvolver e esses óvulos são maculados", explicou Jorge Hendrichs, chefe do departamento de controle de pestes da AIEA.
A tecnologia está sendo testada em Fernando de Noronha pela Fiocruz Pernambuco e pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Já foram liberados 27 mil mosquitos na ilha. Com o uso da técnica em testes de laboratório, apenas 30% dos ovos dos mosquitos se tornaram larvas. Os pesquisadores, agora, querem saber se esta diminuição se repetirá na natureza.
Uma pesquisa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP também iniciou testes com a tecnologia em 2012, mas foi interrompida por falta de verbas. Segundo o pesquisador Valter Arthur, coordenador da pesquisa, ela será retomada neste ano, após aumento do interesse no tema devido à associação apontada entre zika e malformações em bebês.
O método é uma alternativa que faz parte do conceito SIT (Sterile Insect Technique, ou Técnica dos Insetos Estéreis). O SIT é uma definição abrangente, que engloba várias técnicas de esterilização, que em comum empregam a estratégia de combater uma população "inundando" o meio ambiente com indivíduos estéreis.
A AIEA possui há anos um programa em conjunto com a FAO, agência da ONU para alimentação, para desenvolver aplicações de radioatividade contra pragas rurais.

Segurança

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Image caption Aedes aegypti está no centro das epidemias de zika e dengue
Malavasi afirma que a técnica é inofensiva às pessoas, apesar de lidar com radiação. Segundo ele, não se trata de uma radiação com risco de contaminação, mas sim de algo semelhante a uma onda eletromagnética.
"Se você faz um raio-X no dentista, você volta para casa radioativo? O raio passou por você e foi embora. (…) Quando você cozinha com o micro-ondas a comida fica com radiação? Não. Aqui é a mesma coisa. É totalmente seguro", afirma Malavasi.
Existem diversas formas de radiação eletromagnética. Eles apenas diferem em frequência e comprimento de onda. Entre essas formas estão ondas de calor, ondas de rádio, luz infravermelha, luz, luz ultravioleta, raios-X e raios gama.
Somente a alta frequência do espectro eletromagnético é considerada ionizante. É nessa parte da escala que estão os raios gama e "X", capazes de gerar alterações genéticas.
Mas, para o pesquisador Marcelo Firpo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz, a nova técnica demanda atenção.
"Eu não conheço a técnica profundamente, mas em princípio todo uso de tecnologia envolvendo radiação ionizante é problemática, porque toda radiação ionizante é potencialmente cancerígena", diz ele.
Firpo, que é coordenador do Grupo de Saúde e Ambiente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), defende que o foco não deve ser a "eliminação do mosquito, mas sim a eliminação contínua dos criadouros do mosquito".
Isso, afirma, passa por medidas de saneamento básico, melhoria de fornecimento de água e redução da pobreza.
Outras críticas ao método passam pela quantidade de mosquitos que devem ser liberados para que a medida seja eficiente.
A técnica SIT requer que o número de machos modificados liberados no meio ambiente seja muito superior à de selvagens. Só com a "inundação" de 20 machos estéreis para cada selvagem é que as fêmeas têm boas chances de copular com o inseto maculado.
Malavasi reconhece que o uso da SIT é um complemento às técnicas de controle de vetor tradicional e sozinho não pode acabar com o Aedes aegypti. Por isso, a AIEA recomenda que ela seja utilizada em comunidades pequenas e em conjunto com os métodos tradicionais de controle sanitário.

Solução limpa

De acordo com Hendrichs, o emprego da SIT é uma solução limpa porque não deixa marcas no meio ambiente, em comparação ao fumacê a aos mosquitos geneticamente modificados.
"Não há persistência no meio ambiente. É o método mais amigável porque na hora em que você quer interromper, (o impacto) acaba. Em algumas outras abordagens, algo permanece na população. Nós, enquanto Nações Unidas, não promovemos isso", disse Hendrichs à BBC Brasil.
Segundo os pesquisadores, outra vantagem em comparação aos pesticidas é que a SIT só impacta uma espécie específica. Com a fumigação, os produtos químicos exterminam diversas espécies ao mesmo tempo.
Malavasi reforçou que os mosquitos transgênicos se diferem da técnica SIT por terem genes externos inseridos no seu código.
Além disso, a aplicação de transgênicos é mais complexa porque envolve legislação e controle. No caso do Brasil, mosquitos geneticamente modificados estão sendo produzidos na Bahia em uma fábrica das empresas Moscamed e Oxitec. Antes de servir nas ONU, Malavasi era diretor dessa operação.

História

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Image caption Transmisssão de zika por mosquito deixou Ministério da Saúde em alerta
A técnica SIT vem sendo estudada há mais de 60 anos e já foi testada em diversas espécies de moscas, borboletas, mosquitos e outros insetos.
Foi aplicada em larga escala pela primeira vez no sul dos EUA em 1950, no combate à Cochliomyia hominivorax, mosca parasitária cuja larva ataca animais vivos de sangue quente, o que gera grandes perdas em rebanhos de gado.
Testes anteriores com o Aedes aegypti ocorreram na Índia, em 1975, e no Quênia, na mesma década.
Em Nova Délhi os mosquitos foram esterilizados por meio da exposição a Thiotepa, um agente alcalino utilizado em quimioterapia, segundo o livro Sterile Insect Tecnique: Principles and Practice in Area-Wide Integrated Pest Management, editado por V.A.Dyck, J.Hendrichs e A.S.Robinson.
À BBC Brasil, a IAEA afirmou que testes com o Aedes aegypti por meio de radiação por raios gama já ocorreram na Indonésia e os resultados foram "encorajadores". Testes com uma espécie semelhante, o Aedes albopictus, e os mesmos raios estão ocorrendo na Itália e nas ilhas Maurício.

Conheça as outras complicações em bebês ligadas a microcefalia e zika


  • 17 fevereiro 2016
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Bebês com problemas na visão e na audição, atraso no desenvolvimento, crises epiléticas e alterações musculares. Bebês com o perímetro cefálico normal, mas com vários tipos de alterações cerebrais.
Essas são algumas das complicações que vêm sendo investigadas por médicos e pesquisadores diante do surto de zika e microcefalia que atinge o país.
A maioria desses problemas já é conhecida dos profissionais porque costumam aparecer em crianças com microcefalia causada por outros motivos que não o zika vírus - como, por exemplo, rubéola, sífilis ou toxoplasmose contraídas pela mãe durante a gravidez.
Outras complicações, como determinadas lesões oculares e determinadas atrofias cerebrais, estão sendo pesquisadas especificamente nos bebês com microcefalia associada ao zika vírus ou mesmo em bebês com perímetro cefálico normal nascidos em área de grande incidência de zika.
Por esse motivo, especialistas estão inclusive defendendo que é preciso passar a usar termos como "síndrome congênita do zika".

'Nunca é só microcefalia'

"Nunca é só a microcefalia sozinha, ao menos nos casos que eu vi até agora", disse a ginecologista e especialista em medicina fetal, Adriana Melo, ligada ao IPESQ ( Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto) e à Maternidade Instituto Saúde Elpídio de Almeida (Isea), em Campina Grande (PB).
"A microcefalia é o sinal mais evidente. Porque você vê, você mede com a fita métrica. Mas quando a gente faz um ultrassom ou uma ressonância, há outros danos, que podem variar de calcificações (no cérebro) a artrogripose (doença que provoca a contração das articulações ou deformações das das mãos, punhos e joelhos).
Adriana integra um grupo de pesquisadores, ligados também à UFRJ e à Fiocruz, que acompanhou as gestações de 10 mulheres infectadas pelo zika nos estágios iniciais da gravidez e cujos fetos tinham complicações.
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Segundo a médica, uma dessas complicações é a ventriculomegalia, em que a cabeça do bebê pode ter o tamanho normal, mas na realidade, seus ventrículos cerebrais são ampliados por estarem preenchidos de líquido - o que faz o cérebro não se desenvolver da maneira correta.
"As crianças começaram com a microcefalia, mas ela foi compensada pela ventriculomegalia", explica.
Amílcar Tanuri, virologista do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, que também colaborou com a pesquisa, diz que é preciso sistematizar as complicações nesses bebês.
 
"A gente quis sistematizar os problemas que encontramos e descrevê-los como se fosse uma síndrome. É uma tentativa até para ajudar outros médicos, que também poderão acrescentar as características que observarem. Porque há outras complicações, problemas no nervo ótico, no globo ocular, na retina."
Segundo o Ministério da Saúde, na maioria dos casos, a microcefalia é acompanhada de alterações motoras e cognitivas, que variam de acordo com o grau de acometimento cerebral.
"Em geral, as crianças apresentam convulsões, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, e, em alguns casos, as funções sensitivas, como audição e visão, também são afetadas. O comprometimento cognitivo, por exemplo, ocorre em cerca de 90% dos casos", afirmou o Ministério em nota, complementando que todos os casos suspeitos devem ser notificados para que seja possível também identificar causas e alterações neuropsicomotoras associadas.

Crises epilépticas

Entre as complicações que já eram conhecidas pelos médicos estão as crises epiléticas. "Elas são comuns em crianças com qualquer tipo de microcefalia, ocorrendo em até 50% dos casos, em qualquer momento da vida, especialmente nos primeiros anos", explica a neuropediatra Ana Carolina Coan, da Unicamp.
"Mas nas microcefalias mais graves - onde há vários tipos de malformações no cérebro, que pode ter calcificações ou a chamada lisencefalia (transtorno em que cérebro, sem pregas e sulcos, fica "liso") - a criança fica mais debilitada e o risco de crises epiléticas é maior."
Esse dado é relevante visto que um estudo recente de pesquisadores brasileiros que acompanhou 35 bebês com microcefalia mostrou que 71% deles tinham um grau severo da condição.
 
Publicada pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a pesquisa foi coordenada por uma força-tarefa da Sociedade Brasileira de Genética Médica e assinada por pesquisadores de diversas instituições brasileiras, como Universidade Federal do Rio Grande do Sul, USP, Fundação Oswaldo Cruz, Hospital Infantil Albert Sabin (Fortaleza).
O estudo mostrou ainda que 49% dos bebês tinham pelo menos um tipo de anormalidade neurológica. E entre os 27 bebês que passaram por exames de diagnóstico por imagem (ultrassom ou tomografia), todos apresentaram algum problema, como calcificação ou lisencefalia.

Capacidade muscular

O problema neurológico mais comum encontrado nas crianças analisadas nesse levantamento foi a alteração de tônus muscular, ou seja, redução da capacidade de contrair ou relaxar o músculo (em 37% dos casos).

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"Tônus diminuído é um problema que pode fazer com que o bebê tenha dificuldade, por exemplo, de sugar o peito da mãe e que pode causar atrasos nos primeiros marcos (do desenvolvimento), como sustentar a cabeça e deglutir", afirma o neurologista Tarso Adoni, coordenador do departamento de Neuroepidemiologia da Academia Brasileira de Neurologia.
Segundo o estudo publicado pelo CDC, os bebês também apresentavam problemas elevados de reflexos (20%), irritabilidade (20%), tremores (11%) e convulsões (9%).
Fora os problemas neurológicos, foram detectados complicações como artrogripose, pé-torto (má formação em que o pé se encontra torcido em maior ou menor grau) e excesso de pele no crânio, o que indica que o feto sofreu um estresse ainda no útero da mãe, interrompendo seu desenvolvimento normal.

Visão e audição

O secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, também já informou que há registros de surdez e cegueira congênitas, além de malformação do globo ocular em bebês que nasceram com microcefalia causada pelo zika.
No protocolo para orientar profissionais de saúde a lidar com bebês com suspeita de microcefalia e com sua família, o Ministério da Saúde retira a necessidade de se fazer os testes do pezinho, orelhinha e olhinho, para detectar complicações precocemente.
"No caso da microcefalia, a mesma está relacionada a alterações do desenvolvimento neuropsicomotor e do comportamento que podem ser acompanhadas por problemas auditivos e visuais", afirma o protocolo, que indica que a triagem auditiva deve ser feita nos primeiros dias de vida, e completa dizendo que "a presença da microcefalia é um indicador de risco para perda auditiva."
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No caso das lesões oculares, um estudo brasileiro publicado na revista científica The Lancet detalha as lesões oculares encontradas em bebês com microcefalia cujas mães presumidamente tiveram zika na gravidez. Outras possíveis causas de microcefalia, como rubéola, foram descartadas.
Dos 29 bebês examinados, 10 deles (34,5%) tinham anormalidades oculares graves. As mais comuns foram alteração pigmentar (espécie de mancha na retina) e atrofia da retina, além de anormalidades no nervo óptico. Esses são distúrbios que podem causar perda parcial ou total da visão.
"É importante notar que nenhuma dessas mães teve doença ocular", afirma um dos co-responsáveis pelo o estudo, o oftalmologista Rubens Belfort, professor da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), indicando que eles não herdaram esses problemas.
"Ainda não sabemos como essas lesões podem evoluir no futuro, mas sabemos que algumas lesões podem se agravar com o passar do tempo, até muitos anos depois."
Rubens afirma ainda que a pesquisa agora inclui mais de 100 casos nos locais mais afetados pelo surto no Nordeste e confirma que alguns deles demonstram que "há sim a possibilidade de se ter essas lesões oculares sem microcefalia".
Para o oftalmologista, o correto seria examinar todos os bebês nascidos onde há maior incidência de zika.

Uganda: Por que o berço do zika nunca teve nenhum surto?


  • 18 fevereiro 2016
   
(BBC)
Image caption Segundo virologista Julius Lutwama, tipo de Aedes encontrado no país prefere animais a humanos; mutação pode estar relacionada a desmatamento
Apesar de ter sido isolado pela primeira vez por cientistas no final da década de 40, o zika vírus ─ transmitido pelo mosquito Aedes aegypti ─ nunca se tornou uma epidemia em Uganda, onde foi descoberto no sangue de macacos.
Ali, na floresta de Zika, na região central do país, o vírus adquiriu contornos diferentes do que no Brasil, que vive atualmente um surto da doença.
Segundo o Ministério da Saúde, já são mais de 70 mil notificações em 19 Estados brasileiros. O vírus também vem sendo associado ao aumento do número de casos de microcefalia ─ uma má-formação cerebral em fetos ─ com 508 casos confirmados e outros 3.935 suspeitos sendo investigados.
Mas, em Uganda, tampouco houve registros de má-formações congênitas.
Além disso, entre 1947 a 2007, quando foi registrado o primeiro surto de zika fora da Ásia e da África (nas Ilhas Yap, na Micronésia), foram apenas 14 casos confirmados no mundo.
O que explica então a ausência de um surto de zika no país africano?
 

Motivos

Segundo Julius Lutwama, principal virologista do Instituto de Uganda de Pesquisa de Vírus (Urvi, na sigla em inglês), o motivo se deve, em grande parte, ao tipo de Aedes aegypti encontrado em Uganda.
"Em Uganda, a subespécie de Aedes aegypti que temos ─ o Aedes aegypti formosus ─ é diferente da daquela encontrada na América do Sul, o Aedes aegypti aegypti. O mosquito daqui pica mais animais do que humanos", explica ele à BBC Brasil.
"Esse mosquito vive na floresta e costuma se alimentar à noite. Mesmo que um ser humano seja picado e venha a desenvolver a doença, a probabilidade de ela se alastrar é baixa, por causa da ausência do vetor nas áreas urbanas. Ou seja, se não há mosquitos para espalhar o vírus, dificilmente haverá uma epidemia", acrescenta.
Outro fator, destaca Lutwama, envolve características geográficas e climáticas de Uganda.
Segundo ele, diferentemente de outros locais que enfrentaram surtos de zika, o país manteve suas florestas razoavelmente intactas, preservando o habitat natural do mosquito.
(Getty)Image copyright Getty
Image caption Já são mais de 70 notificações de zika no Brasil
"Esse mosquito vive predominantemente nas florestas. Com o desmatamento, acreditamos que ele tenha migrado para as zonas urbanas e evoluído, passando a se alimentar do sangue de seres humanos", diz ele.
Nesse sentido, a forte predominância de chuvas, típicas do clima de Uganda, também teria contribuído para evitar uma epidemia da doença.
"Aqui em Uganda chove muito e, por isso, a população não costuma armazenar água em casa", argumenta.
"Mas nos países africanos que desmataram suas florestas, como no oeste da África, por exemplo, o mosquito migrou para as áreas urbanas e acabou encontrando um ambiente perfeito, pois precisa de água parada para se reproduzir".
Lutwama diz acreditar ainda que a população ugandense teria desenvolvido imunidade à doença, devido a "diferentes flavivírus" (vírus transmitidos por carrapatos e mosquitos) encontrados na região, como dengue, chikungunya e O'nyong'nyong, todos transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti.
"Como temos outras doenças muito semelhantes ao zika, como dengue, chikungunya e O'nyong'nyong, acredito que possa ter havido algum tipo de imunidade cruzada. Dessa forma, quem já contraiu algum desses vírus, teria menor vulnerabilidade a uma nova infecção", observa.
E devido ao baixo número de casos da doença em Uganda, acrescenta Lutwama, não foi possível estabelecer nenhuma relação entre o vírus e a microcefalia.
"Diferentemente do Brasil, não temos um número suficiente de casos de zika para comprovar qualquer associação entre o vírus e essa má-formação congênita em fetos", afirma.

Brasil

BBC
Image caption Julius Lutwama é principal pesquisador do Instituto de Uganda de Pesquisa de Vírus (Urvi, na sigla em inglês)
Principal pesquisador do Uvri, instituto criado em 1936 com financiamento da Fundação Rockefeller, dos Estados Unidos, Lutwama diz que ele e sua equipe vêm realizando um trabalho de prevenção para evitar que a subespécie latino-americana se espalhe em Uganda.
"Coletamos e monitoramos amostras de sangue de pacientes de todo o país. São medidas preventivas importantes", assinala ele.
Lutwama cita o caso dos Estados Unidos, onde o Aedes aegypti ─ virtualmente inexistente há alguns anos ─ já é encontrado em regiões com temperaturas mais amenas, como o Estado da Flórida.

Institutos do Rio montam ‘exército’ contra síndrome neurológica ligada ao zika

  • 18 fevereiro 2016
Paciente - El Salvador GettyImage copyright AFP
Image caption Paciente com a Síndrome de Guillain-Barré em El Salvador, um dos países atingidos pela doença na América Latina
O Instituto Oswaldo Cruz e a Universidade Federal Fluminense (UFF) trabalharão a partir desta semana num grande esforço conjunto unindo laboratórios e pesquisadores das duas instituições com o objetivo de estudar a síndrome Guillain-Barré.
Reação do sistema imune a agentes externos que pode levar a paralisia e até à morte, a doença tem registrado aumento em diferentes Estados e, segundo especialistas e o Ministério da Saúde, a elevação pode estar relacionada ao zika vírus.
Entre seus sintomas estão fraqueza muscular e a paralisia dos músculos, que começam pelas pernas e podem progredir ao tronco, braços e face. Em alguns casos, há a paralisia total dos membros ou efeitos graves sobre os músculos respiratórios.
A notificação de casos de Guillain-Barré ainda não é obrigatória no Brasil, o que torna difícil obter dados nacionais. No entanto, números isolados que têm sido divulgados dão uma ideia da crescente gravidade do problema.
O Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF, em Niterói (RJ), não costumava receber mais de cinco casos da doença por ano, mas somente em janeiro já recebeu 16. Na Bahia, a Secretaria de Saúde estadual divulgou no final do ano passado um boletim registrando 35 casos apenas entre julho e novembro de 2015.
E no Estado de Alagoas, um hospital de Maceió, a Santa Casa do Farol, tem atendido um número crescente de pessoas com a doença. "Em 2014 atendemos somente 14 casos em todo o ano. Já em 2015 foram mais de 50, e desde o início de 2016 já foram mais 14 casos", diz o hematologista Wellington Galvão.
Diante disso e da preocupação em torno das complicações causadas pela doença, entre elas danos neurológicos e diferentes graus de paralisia muscular, o Instituto Oswaldo Cruz e o Neuro UPC, Unidade de Pesquisa Clínica em Neurologia da UFF, trabalharão em parceria em um novo projeto de pesquisa focado na síndrome.
"O estudo envolvendo os departamentos de imunologia e genômica do Oswaldo Cruz é uma cooperação de pesquisa para que possamos entender melhor por que surgem essas complicações, como melhor tratá-las e, principalmente, preveni-las", diz o neurologista Osvaldo Nascimento, coordenador do Neuro UPC e responsável pelo atendimento dos pacientes de Guillain-Barré no Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF, referência nacional em neuropatias periféricas.
Com 44 anos de carreira, Nascimento é um dos principais nomes do tratamento de Guillain-Barré no Brasil. Ele diz que a cooperação deve contar ainda com colaborações da equipe do laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, chefiado pelo virologista Amílcar Tanuri, e um centro de referência em Guillain-Barré da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
Para ele, a iniciativa deve reunir um "verdadeiro exército" de pesquisadores, no que classifica como "um esforço inédito de pesquisa focado na Guillain-Barré no Brasil".
"O que vamos fazer a partir de agora é montar um verdadeiro ‘exército’ de pesquisa contra a Guillain-Barré no país. Sem dúvida nenhuma é algo que nunca foi feito antes", explica.
O Instituto Oswaldo Cruz confirmou à BBC Brasil a cooperação, que ocorrerá por intermédio do seu Laboratório de Pesquisas sobre o Timo (IOC/Fiocruz).

Financiamento e objetivos

Para Nascimento, ainda não é possível estimar o número exato de pesquisadores que estará envolvido no trabalho nem o montante de recursos necessários para que a iniciativa atinja os objetivos a contento.
"Agora vamos dar início aos trabalhos e correr atrás do financiamento com o Governo Federal", diz.
O especialista afirma que além das verbas e recursos para financiar os esforços de pesquisa, é preciso investir no aumento do número de leitos do CTI do Hospital Antônio Pedro, que é federal, além da contratação de neurologistas clínicos para dar suporte à demanda crescente de pacientes e elevação da capacidade da emergência do hospital para lidar com pessoas com complicações do zika vírus.
Zika ReutersImage copyright Reuters
Image caption Especialistas querem entender melhor relação entre zika vírus e aumento de casos da Síndrome de Guillain-Barré
"Nos Estados Unidos investem-se bilhões. Aqui falta investimento em equipamentos e insumos, e vamos ter que pleitear isso. Teremos que contar com verbas e condições suficientes para tornar o Antônio Pedro, que abriga o centro de referência em neuropatias periféricas, um hospital sentinela capaz de atender essa nova demanda", explica.
Nascimento diz que o Núcleo UPC compreende 16 laboratórios e 18 neurologistas especializados e que as áreas estudadas incluirão imunologia e genômica, com o objetivo de mapear melhor as manifestações neurológicas da Guillain-Barré e outras neuropatias.
Um dos atuais desafios dos médicos que deve ter avanços com os futuros resultados do estudo é o diagnóstico da doença, tido como complexo e difícil, e que costuma levar pacientes de hospital a hospital até que se conclua que o quadro é de Guillain-Barré, o que atrasa o início do tratamento.
"Um dos principais problemas é o diagnóstico. Os médicos confundem muito, o que torna mais difícil tratar essas pessoas. Há mais de 30 doenças que podem ser confundidas com a Guillain-Barré", explica Nascimento.

Notificação, zika e tratamento

A ausência de notificação obrigatória no Brasil dificulta o mapeamento de casos por todo o país.
Consultado pela BBC Brasil, o Ministério da Saúde confirmou uma elevação do número de internações por Guillain-Barré de 29,8% de 2014 para 2015, um aumento de 1.439 para 1.868 casos.
Os Estados de Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro registram o maior número de casos.
Sobre a relação com o zika vírus, algo que os especialistas querem entender melhor, o Ministério da Saúde se posicionou em nota confirmando que a infecção pelo pelo zika pode provocar também a Guillain-Barré.
"No Brasil, a ocorrência de síndromes neurológicas relacionadas ao zika foi confirmada após investigações conduzidas em Pernambuco, a partir da identificação do vírus em amostras, de seis pacientes com sintomas neurológicos com histórico de doença exantemática. Deste total, quatro foram confirmadas com doença de Guillain-Barré", diz o documento.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) reconhece a coincidência "espaço-temporal" entre surtos de zika e a incidência da síndrome, mas, diante da escassez de dados, ainda não estabelece um vínculo direto entre as doenças.
Segundo o comunicado do Ministério da Saúde, o principal risco provocado pela Guillain-Barré é quando ocorre o acometimento dos músculos respiratórios, devido à dificuldade para respirar. "Nesse último caso, a síndrome pode levar à morte, caso não sejam adotadas as medidas de suporte respiratório", diz a nota.
A doença não tem uma cura específica, e os tratamentos são voltados a reduzir a gravidade dos sintomas.
Procedimentos usados na fase mais aguda da doença são a imunoterapia com troca de plasma – para bloquear os anticorpos que atacam as células nervosas – e a administração de imunoglobulina, um anticorpo.
A maior parte das pessoas sobrevive e se recupera por completo. Esse processo, contudo, pode levar semanas ou meses, e a síndrome pode provocar deficiências que demandam reabilitação.

17 de fev. de 2016

Slides - INTERAÇÕES ESCOLÓGICAS

Queridos alunos no CEI MIRASSOL, aqui está o link para os slides da aula de hoje,Forte abraço!
Katia Queiroz




http://pt.slideshare.net/profkatiaqueiroz/aularelaesecolgicas-120313120118-phpapp01-1http://pt.slideshare.net/profkatiaqueiroz/aularelaesecolgicas-120313120118-phpapp01-1

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