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6 de fev. de 2016

Transmissão de zika por beijo não está comprovada, diz infectologista

 

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As recentes descobertas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sobre a presença do zika vírus em estado ativo em saliva e urina, deixa ainda grandes dúvidas, mas atestam a importância da prevenção, diz o infectologista Edmilson Migowski, da UFRJ.
Na sexta-feira, a Fiocruz levantou, com sua descoberta, a possibilidade de transmissão via oral do vírus, mas ressaltou que ainda são necessárias mais pesquisas para saber se há de fato possibilidade de infecção.
A BBC Brasil conversou com Migowski a respeito dessas novas descobertas e do que elas significam na prática:
BBC Brasil - O que significa exatamente “atestar a presença de vírus zika na saliva e na urina”, que é o que comunicou a Fiocruz?
Edmilson Migowski - A Fiocruz nos deu uma certeza e uma dúvida enorme. A certeza é que o vírus está presente na saliva e na urina. Mas daí a afirmar que este vírus pode transmitir a doença é complicado. E essa é a enorme dúvida que fica.
BBC Brasil - Por quê?
Migowski - Porque a transmissão de um vírus não é uma coisa matemática, depende de vários fatores. Por exemplo, o tubo digestivo tem um Ph muito diferente, muito mais ácido, e é repleto de enzimas que podem destruir o vírus.
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O vírus só infecta se entrar na célula. E ele não entra em qualquer célula, só naquelas que têm receptores para ele. O vírus da caxumba, por exemplo, infecta as glândulas. O da hepatite B, o fígado. O fato de ter um vírus na saliva não quer dizer, necessariamente, que ele vai aderir a uma célula da mucosa da boca, como acontece com o vírus do herpes.
BBC Brasil - Mas diante da dúvida, é importante se prevenir, não?
Migowski - Sim, diante da dúvida e tendo em vista que é uma doença grave para gestantes, eu diria que as grávidas devem ter um cuidado redobrado para não se expor ao vírus, não manipular objetos de pessoas infectadas, por exemplo, não beijá-las na boca. Neste momento é o mais prudente.
BBC Brasil - A dengue tipo 4 levou cinco anos para sair de Manaus e chegar ao Rio. Já o vírus zika se espalhou rapidamente pelo país todo e também para outros países. Isso é um indicativo de que ele é transmitido de outras maneiras e não só por meio do Aedes?
Migowski - Não necessariamente. O zika se disseminou mais rapidamente do que a dengue porque pegou uma população 100% vulnerável a ele, que nunca tinha tido contato com esse vírus. A situação é diferente, não dá para comparar com a dengue. Qualquer vírus novo que entra causa um estrago muito maior.
BBC Brasil - Se ficar comprovado que a transmissão é possível pela saliva e pela urina, o que pode acontecer do ponto de vista epidemiológico?
Migowski - O zika é transmitido pelo mosquito e também por via sexual (segundo os estudos científicos mais recentes). Se ficar comprovado que pode ser transmitido também pela saliva e pela urina, ele tem um potencial muito maior de disseminação e o controle também fica mais difícil. Qualquer doença infecciosa com várias formas de transmissão tem potencial de disseminação muito maior.
BBC Brasil - Entre a saliva e a urina, qual o maior risco?
Migowski - O risco é muito maior pelo beijo, bem menos que pela urina (não é comum termos contato com a urina dos outros). Se for comprovado que é transmitido pela saliva será mais um infectante por via oral. Então teremos mais uma doença transmitida pelo beijo, como a mononucleose, a herpes
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BBC Brasil - Já se pode considerar comprovada também a ligação do zika com o aumento de casos da síndrome de Guillain-Barré (uma doença rara que provoca fraqueza muscular e que, se não for tratada precocemente, pode levar à paralisia)?
Migowski - Houve aumento de casos no local onde o vírus circulou. Um estudo feito no Sudeste Asiático cita a ocorrência em 1% dos infectados, o que é um percentual alto. Se isso ficar comprovado no Brasil, serão muitos casos e vamos ter um caos nos centros de terapia intensiva.
BBC Brasil - As consequências para a saúde do indivíduo são graves?
Migowski - O quadro é reversível diante de uma abordagem precoce e não deixa sequelas. E ele é causado não só pelo vírus zika, mas também por outros, como dengue, mononucleose.
Mas, de qualquer forma, era uma doença que, inicialmente, parecia boba, inofensiva, e que está se revelando muito pior...
Costumo brincar dizendo que se eu fosse julgar e condenar todos os vírus transmitidos pelo aedes nove meses atrás, o zika pegaria a menor pena. E hoje, num novo julgamento, ele desbancaria os demais e ficaria com a maior pena.
Porque a dengue pode matar o paciente, sim, mas se o médico for habilidoso, ele não morre. E hoje eu não disponho de nenhuma ferramenta para impedir que uma mulher tenha um bebê com microcefalia, tenho que deixar ao acaso.
BBC Brasil - E o remédio que está sendo desenvolvido na UFRJ?
Migowski - Eu e o Davis Ferreira, do Instituto de Microbiologia, estamos em fase avançada de teste com um produto derivado de uma planta que pode ser uma boa ferramenta a curto prazo para reduzir a carga viral e até como prevenção.
É um extrato de planta, um suplemento alimentar, não um remédio. Não é tóxico e se revelou 100% eficaz contra dengue, febre amarela e Mayara (um primo-irmão do chikungunya). Agora vamos testar contra o chikungunya e contra o zika. Eu estou muito otimista.

As perguntas ainda sem resposta sobre o surto de zika e microcefalia

As perguntas ainda sem resposta sobre o surto de zika e microcefalia

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Esta imagem sem muita definição é uma das poucas fotos do zika vírus.
O surto levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar emergência internacional devido à ligação entre a infecção e milhares de casos suspeitos de bebês nascidos com microcefalia no Brasil.
Mas ainda existem muitas perguntas sem respostas. Por exemplo, quantas pessoas foram realmente infectadas nas Américas?
A melhor estimativa da infecção pelo zika vírus está entre 500 mil e 1,5 milhão, o que mostra uma grande margem de erro. Qual a porcentagem de pessoas em uma área afetada que realmente estão sendo infectadas pelo vírus? Todas elas? Ainda não sabemos.
Abaixo algumas das perguntas sem respostas sobre a doença.

Por que o surto é tão explosivo?

Uma teoria é que o vírus passou por uma mutação e ficou mais infeccioso.
Outros especialistas afirmam que pode ser simplesmente o caso do vírus chegando a áreas que são muito povoadas e próximas umas das outras e onde há uma população enorme de mosquitos.

Quem pode transmitir a doença?

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Cerca de 80% das pessoas não apresentam sintomas - apesar de este número precisar ser mais investigado.
Não se sabe se estas pessoas também podem espalhar o vírus e nem mesmo a razão de elas não apresentarem os sintomas da doença.

O zika vírus causa microcefalia?

É o maior medo em relação ao surto. A ligação entre o zika vírus e a má-formação ainda é uma "forte suspeita".
Houve um aumento no número de casos de microcefalia nas regiões do Brasil que registraram casos de zika.
No entanto os exames para provar a ligação entre o vírus e a má-formação ainda não foram finalizados.

Quais são os riscos da doença?

Aqui as perguntas relativas à mulheres grávidas se multiplicam: se o vírus causa a microcefalia, qual a frequência que isto acontece? Toda infecção leva a má-formações? Ou é apenas algo em torno de um em cada cem casos? Ou talves um em cada 10 mil?
Por enquanto não se sabe o quanto as mulheres grávidas precisam se preocupar com o surto.

Existe um período mais arriscado durante a gravidez?

Se o zika vírus realmente causa microcefalia, é importante saber quando a mulher foi infectada?
Foram feitas algumas sugestões de que o primeiro trimestre (as primeiras 12 semanas) é um período muito importante, mas outros médicos sugeriram que pode haver risco até a 29ª semana.
E estes riscos podem mudar com o tempo.

Como a doença pode afetar o cérebro?

Algumas infecções, como a rubéola, podem prejudicar o cérebro de bebês durante a gravidez.
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Mas não se sabe como o zika vírus pode atravessar a placenta e prejudicar o crescimento do cérebro.

Apresentar os sintomas da doença muda o nível de risco?

Cerca de quatro em cada cinco pessoas infectadas não vão desenvolver os sintomas.
Estes casos, de pessoas que não desenvolvem os sintomas, têm os mesmos riscos de microcefalia que os casos onde a pessoa doente apresenta os sintomas como febre e manchas vermelhas na pele?
Também há o problema da síndrome de Guillain-Barre, que já foi ligada ao zika vírus e ainda não se sabe quais pacientes correm o risco maior.

O que está acontecendo na África e na Ásia?

O vírus foi detectado pela primeira vez na África e então em partes da Ásia até chegar ao Brasil e se espalhar.
Então estes continentes têm populações gigantescas suscetíveis a surtos do zika? Ou o zika já estava nestes lugares há anos sem ser detectado e, sendo assim, a maior parte destas populações já é imune?
É difícil estabelecer o tamanho da ameaça global sem saber esta resposta.

Qual é o número real do aumento dos casos de microcefalia?

Existem grandes questionamentos a respeito da qualidade dos dados coletados tanto antes do surto de zika como depois.
Os números dos anos anteriores aos registros da doença podem ter sido subestimados. E o número de casos suspeitos podem ser superestimados.

A doença pode ser transmitida por outros mosquitos?

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O zika vírus é transmitido pelo Aedes aegypti mas existe o temor de que possa ser transmitido por também por outros mosquitos como o tigre asiático.
E este mosquito prefere climas mais temperados, como o de algumas partes da Europa.

Qual é o risco da transmissão através de relação sexual?

Parece que a grande maioria dos casos de transmissão ocorrem por picadas do mosquito Aedes aegypti. O mosquito pica uma pessoa infectada e passa o vírus para a próxima pessoa que picar.
Mas a transmissão por relação sexual já foi ligada a alguns casos da doença. Mas não se sabe o quanto este tipo de transmissão é comum.

Uma pessoa pode ficar imune à doença?

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Se a pessoa é infectada com o zika vírus uma vez ela fica protegida pelo resto da vida, como se fosse sarampo?
Ou é preciso ter a doença várias vezes para ficar imune? Quanto tempo dura a imunidade?
A resposta para estas perguntas pode nos dizer quanto tempo o surto pode durar e indicar se uma vacina pode realmente ser eficaz.

6 de out. de 2015

A palavra que contém o segredo do povo mais feliz do mundo

 

  • 5 outubro 2015
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Image caption Assim como 'saudade', hygge é uma palavra de difícil tradução; muitas vezes, é explicada como 'acolhedor'
O chamado "hygge" é um conceito 100% dinamarquês: dizem que ele torna os lares mais quentes e as pessoas mais felizes. Mas o que exatamente é o hygge? E, o mais importante: é possível exportá-lo para outros países?
Se perguntarmos a um dinamarquês o que é o hygge (pronuncia-se "hu-ga"), ele poderia responder que é "sentar em frente a uma lareira em uma noite fria, com um confortável pulôver de lã, uma caneca de vinho quente e fazendo carinho em seu cachorro".
Ou ainda comer biscoitos de canela feitos em casa, assistir TV debaixo de um edredom, tomar chá em uma xícara de porcelana na reunião de família do Natal.
Leia também: Brasil sobe oito posições em ranking global de felicidade
Hygge muitas vezes é traduzido como "acolhedor" ou "aconchego". Mas os entendidos dizem que hygge é muito mais do que isso: é uma atitude perante a vida, que ajudou a Dinamarca a superar a Suíça e a Islândia no ranking global de felicidade.

Só no inverno?

Susanne Nilsson é professora de dinamarquês no colégio Morley, de Londres, e as aulas incluem o ensino de hygge aos estudantes.
"Na Dinamarca temos inverno frios e longos", diz. "Isso influi nas coisas. Mas hygge não tem que estar relacionado ao inverno, ainda que o clima não seja tão bom durante grande parte do ano."
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Image caption Hygge não precisa estar ligado ao inverno, ainda que tenha a ver com longas e frias noites da estação na Dinamarca
Em pleno inverno, quando os dinamarqueses tem apenas quatro horas de sol por dia e as temperaturas médias giram em torno de 0ºC, as pessoas passam mais tempo dentro de casa, diz Nilsson, e isso significa que as formas de se divertir no lar passam a ser muito importantes.
"Hygge pode ser família e amigos reunidos para jantar à meia luz. Ou pode ser o tempo que você passa sozinho, lendo um bom livro", diz Nilsson.
"Funciona melhor quando não há um espaço vazio grande demais em torno da pessoa ou do grupo", explica.
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A ideia é relaxar e se sentir "em casa" tanto quanto for possível, esquecendo as preocupações da vida.
E o hygge está sendo exportado para outros países - principalmente por meio de restaurantes, cafés e bares de temática escandinava.
São lugares com espaços íntimos, cuja decoração carece de uniformidade e a atenção está concentrada nos alimentos reconfortantes.
Ainda que muitos dos fregueses talvez nunca tenham ouvido falar de hygge, nesses lugares eles podem entender do que se trata.
Nos Estados Unidos, há uma empresa de têxteis e papel de parede chamada Hygge West cujo objetivo principal é canalizar o conceito dinamarquês por meio de desenhos.
E também há uma padaria em Los Angeles chamada Hygge que vende os tradicionais pães e doces dinamarqueses.
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Image caption Ideia é relaxar e se sentir em casa
"O resto do mundo parece estar se dando conta, gradualmente, de algo que os dinamarqueses sabem há gerações: passar um tempo curtindo um aconchego com amigos e família, tomando café com bolo ou cerveja, pode ser bom para a alma", afirma Helen Russell, autora do livro The Year of Living Danishly: Uncovering the Secrets of the World's Happiest Country (O ano em que vivemos como dinamarqueses: descobrindo os segredos do país mais feliz do mundo).
"Para mim, hygge tem a ver com ser bom consigo mesmo: se permitir passar um tempo agradável, não se castigar ou se negar nada", diz.
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É um pouco o oposto do que muitos fazem em vários países logo após as festas de Natal e de fim de ano, quando muitas pessoas reagem aos excessos cometidos nas festas fazendo dietas, se exercitando ou se abstendo de álcool.
"Na Dinamarca não há muitas privações forçadas. O que se tenta é ser generoso consigo mesmo e com os demais. Os dinamarqueses não bebem ou comem em excesso e depois cortam tudo. Nem fazem dietas 'ioiô'."
O adjetivo de hygge é "hyggeligt", palavra que costuma ser usada como elogio a anfitriões depois de uma noite agradável em suas casas.
"Hygge não é só um conceito da classe média. Todos, do o gari ao prefeito, estão incluídos", diz Russell.
"Até agora, minha experiência mais hygge provavelmente foi observar o entardecer em uma banheira com água quente durante uma tempestade de neve em janeiro, com uma cerveja na mão. Mas não precisa ser algo tão dramático. O que faço, em geral, é acender uma vela no escritório de minha casa enquanto trabalho."
Kayleigh Tanner é autora do blog Hello Hygge. Ela diz que, ainda que o hygge seja difícil de descrever por ser tão abstrato, começar a ressoar entre muita gente.
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Image caption Palavra passou a ser usada em dinamarquês no século 19
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A origem do Hygge

  • O termo surgiu de uma palavra norueguesa que significa "bem-estar".
  • Apareceu pela primeira vez escrita em dinamarquês no século 19 e, desde então, evoluiu para a ideia cultural que se conhece hoje em dia na Dinamarca.
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"São muito interessantes as palavras que não podem ser traduzidas para outros idiomas", diz Tanner.
"Mas se o hygge não está restrito à Dinamarca, por que é tão difícil descrevê-lo sem pegar emprestada a palavra dinamarquesa?"
Alguns dinamarquesas de gerações mais velhas sentem que o hygge já não é mais o que era, que a ênfase na socialização se reduziu porque agora se considera que assistir TV ou um DVD sozinho é "hyggeligt".
Outros países e culturas têm expressões semelhantes.
BBC
Image caption Para alguns, hygge é 'bom para a alma'
Em alemão, há a Gemuetlichkeit: o sentimento de bem-estar baseado em boa comida, companhia e talvez uma bebida.
Mas os dinamarqueses insistem que o hygge é único.
A blogueira Anna Lea West propõe como definição de hygge "a intimidade da alma".
Patrick Kingsley, autor do livro de viagens How to Be Danish (Como ser dinamarquês), afirma que o hygge é uma ideia tão arraigada no sentimento de união dos dinamarqueses que para estrangeiros é muito difícil entender sua importância histórica e social.
Por sua vez, a tradutora dinamarquesa ToveMaren Stakkestad escreve: "Hygge não é para ser traduzido. É para ser sentido".

Cada pessoa tem 'nuvem' particular de micróbios, diz pesquisa

Cada pessoa tem 'nuvem' particular de micróbios, diz pesquisa

Neste exato momento, você está envolto por uma "nuvem" única, formada por milhares de bactérias, suas próprias bactérias, segundo um estudo feito por cientistas da Universidade do Oregon, nos Estados Unidos.
Ao entrar na nuvem de uma outra pessoa, você é atingido por uma "chuva" de bactérias em sua pele e vai respirá-las, até chegarem ao seu pulmão.
Essa descrição está em um estudo, divulgado na publicação científica PeerJ, que analisou 11 pessoas e concluiu que é possível identificá-las pelos micróbios.
Outras pesquisas já haviam mostrado a extensão do nosso microbioma – conjunto de bactérias, vírus e fungos no nosso corpo.
Essa grupo pode ser transmitido por meio de contato direto, pelo ar ou por células mortas presentes na poeira.

Você pode dar uma passo para trás, por favor?

Os participantes do estudo permaneceram em uma câmara fechada por quatro horas, onde o ar era bombardeado para dentro por meio de um filtro, para evitar contaminação.
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Já os filtros dentro do cômodo coletavam amostras da "nuvem" das pessoas. E cientistas então analisaram as bactérias coletadas.
"Acreditamos que vamos ser capazes de detectar o microbioma humano no ar que rodeia uma pessoa, mas ficamos surpresos em descobrir que podíamos identificar a maioria das pessoas do grupo apenas pelas amostras da nuvem de micróbios", disse um dos pesquisadores, Dr. James Meadow.
O microbiólogo Ben Neuman, da Universidade de Reading, disse à BBC: "Você pode sentir o cecê ('cheiro' de corpo) de uma pessoa e ainda sabe que todas aquelas coisas estão rastejando em você – que maravilha!"
Segundo ele, essa "descoberta nojenta" faz sentido, já que há uma crescente percepção do microbioma, e mostra que, ao trocarmos bactérias, "estamos mudando um ao outro".
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Para Neuman, seria útil saber quais bactérias podem "voar" pelo ar. Mas ele deixa claro que não há com o que se preocupar.

Um banho extra?

O microbiólogo argumenta que não é o caso de se tomar mais banhos por dia.
"Não ajudaria. Precisamos apenas superar isso e seguir adiante."
Na nuvem, há grupos de bactérias como a Streptococcus, que é comum em bocas, e outras que são encontradas em peles, como a Propionibacterium e Corynebacterium.
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Os pesquisadores afirmam que essa combinação pode ter uma "aplicação forense", para se detectar se alguém passou por um determinado local.
No entanto, ainda não está claro o quanto o microbioma de cada um pode mudar ao longo do tempo.
Adam Altrichter, um dos pesquisadores do projeto disse à BBC: "Precisamos entender que não somos seres assépticos e isso é algo completamente natural e saudável".
Segundo ele, o tamanho das nuvens ainda não foi medido, mas é estimado que ela se estenda por 30 centímetros.

Por que alguns homens desenvolvem sintomas de gravidez

Por que alguns homens desenvolvem sintomas de gravidez

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Image caption O caso de Harry Ashby não é único; síndrome de Couvade aparece em homens que estão perto da paternidade
Há cerca de um ano, Harry Ashby, que tem 29 anos e trabalha como segurança na Inglaterra, figurou nas manchetes de vários jornais britânicos por estar sofrendo uma série de sintomas atípicos para um homem: náuseas, enjoos, aumento de peso e até crescimento da barriga.
Curiosamente, esses eram os mesmos sintomas que sua namorada, grávida, sentia. Ashby foi ao médico e obteve o diagnóstico: ele estava com síndrome de Couvade.
Não é uma doença, mas um conjunto de sintomas de uma "gravidez fantasma", uma espécie de gravidez psicológica ou "gravidez por empatia".
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O caso de Harry Ashby pode até parecer estranho, mas não é o único, nem o primeiro.

Antecedentes antropológicos

O nome da síndrome vem da palavra francesa "couver", que significa incubar. Ela designa um conjunto de sintomas involuntários associados à gestação, que não têm nenhuma causa física aparente – e que aparecem em alguns homens que vão ser pais.
Foi um antropólogo francês que utilizou esse nome pela primeira vez em 1865 para descrever os hábitos que observou em comunidades primitivas, como na antiga Grécia, diante da espera de um bebê.
Essas comunidades passavam por rituais "imitando" o que acontecia com as mulheres grávidas. O homem imitava as dores do parto, deixava de fazer suas coisas e de ter qualquer esforço físico e, quando o bebê nascia, ele o colocava no peito e simulava a amamentação.

Sintomas

Além dos sintomas sentidos por Harry Ashby, outros comuns a quem desenvolve a síndrome de Couvade moderna são vômito, tontura, dores abdominais e dentárias, mudança de apetite, fadiga, insônia, problemas intestinais, alteração de peso, entre outros.
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Image caption Falar com a esposa, com os amigos ou participar de grupos de pais onde o homem possa expressar suas inquietações podem ajudar a diminuir os sintomas
Em 2013, uma equipe de pesquisadores poloneses observou 143 homens que estavam para ser pais e concluiu que 72% deles apresentaram pelo menos um dos 16 sintomas da síndrome de Couvade durante a gravidez de suas esposas. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Medical Science Monitor.
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Antes disso, outro estudo realizado em 2007 por pesquisadores da Universidade St. George, de Londres, analisou 282 futuros pais que acompanhavam suas mulheres grávidas ao hospital e constatou que 11 deles relataram sintomas similares aos de Ashby.
Um dos líderes da pesquisa, Arthur Brennan, disse à época que, apesar de parecer fingimento, esses sintomas dos homens são reais.
"Algumas pessoas podem pensar que esses homens estão fingindo, mas eles não estão querendo chamar a atenção. Esses sintomas são involuntários."

Causas

Segundo especialistas, não está claro por que alguns homens desenvolvem esses sintomas típicos da gravidez. Mas alguns deles sugerem que isso pode estar relacionado com a ansiedade sobre a gestação e a paternidade.
O ginecologista e psiquiatra Alfonso Gil Sánchez diz que, tradicionalmente, toda pesquisa sobre saúde mental pré-natal tem se concentrado na mulher, mas agora há evidências concretas de que o homem também sofre mudanças - juntamente com a mulher.
Gil Sánchez, que também é membro da Sociedade Internacional de Saúde Mental Pré-Natal, afirma que há provas de que o homem passa por mudanças no cérebro para poder se relacionar e se apegar com o bebê, além de mudanças psicológicas e sociais relacionadas com as expectativas culturais sobre o que significa ser pai.
O médico destaca que a síndrome de Couvade não é uma doença psiquiátrica, nem um delírio: o homem não acredita que está efetivamente grávido.
É, na realidade, a "soma de um conflito psicológico que não se pode resolver racionalmente", disse à BBC Mundo. E, portanto, é algo que se manifesta por meio de sintomas físicos sem uma explicação aparente.
No entanto, Gil Sánchez acredita que a síndrome de Couvade "é uma manifestação absolutamente normal", que não tem nada de patológico e que reúne todos esses conflitos que surgem da mudança vital que a paternidade traz: medos, inseguranças e ansiedade.
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Image caption Em algumas culturas, é muito difícil o homem conseguir expressar seu medo ou sua ansiedade pela paternidade
"Não é necessariamente algo negativo", diz.
Por outro lado, o médico ressalta que, em algumas culturas, é muito difícil para um homem expressar ansiedade - admitir, por exemplo, que tem medo de ser pai e que não sabe o que fazer. E tudo isso se reflete nos sintomas do corpo.
"É o corpo expressando esses sentimentos por meio do sintomas."
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Tratamento

Como não é considerada uma doença, não há um tratamento específico para a síndrome de Couvade.
Mas Gil Sánchez sugere que colocar para fora as emoções e as preocupações que os homens sentem nessa situação pode ajudar a diminuir os sintomas.
De qualquer forma, segundo os estudos realizados sobre o tema, a maioria dos sintomas relatados pelos homens desaparece depois do parto de suas esposas.

Outras teorias

Há outras teorias psicológicas, porém, que tentam explicar a origem dessa síndrome.
Uma teoria psicoanalítica sugere que tudo começa por causa de uma inveja que o homem tem da capacidade da mulher para a gestação.
Outra teoria diz que alguns futuros pais veem o filho que ainda nem nasceu como um rival na disputa pela atenção da mãe, e o surgimento involuntário da síndrome de Couvade o ajuda a se identificar com a esposa e a desenvolver o instinto protetor com relação ao bebê.
Há também uma teoria psicossocial, que diz que durante a gestação da mulher, os homens podem se sentir relegados a um papel secundário ou "inúteis" – e para contestar esse sentimento, o homem desenvolve involuntariamente a síndrome de Couvade.
E de uma perspectiva totalmente diferente, há outra teoria que diz que é justamente a proximidade do homem com o feto que desencadeia a síndrome. Assim, os sintomas que aparecem no homem refletem o nível de "apego" que ele já tem com a criança que ainda não nasceu e sua empatia pela esposa na gravidez.
Por outro lado, há estudos mais recentes que explicam a síndrome de um ponto de vista hormonal. Essas pesquisas descobriram que os homens têm aumento do nível hormonal de prolactina e estrógeno durante o primeiro e o terceiro trimestre de gravidez de suas esposas.
Ainda segundo esses estudos, as mudanças hormonais estariam associadas à demonstração de um comportamento paternal.

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