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Direito de imagemCDCImage captionBrasil tem alguns dos maiores índices de resistência em determinadas bactérias, segundo especialista
Bactérias que não respondem a antibióticos vêm aumentando a taxas alarmantes no Brasil e já são responsáveis por ao menos 23 mil mortes anuais no país, afirmam especialistas.
Capazes de criar escudos contra os medicamentos mais potentes, esses organismos infectam pacientes geralmente debilitados em camas de hospitais e se espalham rapidamente pela falta de antibióticos capazes de contê-los. Por isso, as chamadas superbactérias são consideradas a próxima grande ameaça global em saúde pública pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
"Estamos numa situação de alerta", diz Ana Paula Assef, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que faz a estimativa sobre mortes anuais no país com base nos dados oficiais dos Estados Unidos. No Brasil, ainda não há um compilado nacional sobre o número de vítimas por bactérias resistentes.
"Sabemos que, assim como vários países em desenvolvimento, o Brasil tem alguns dos maiores índices de resistência em determinados organismos. Há bactérias aqui que não respondem mais a nenhum antibiótico", aponta Assef.
Perigosas
Um exemplo é a Acinetobacter spp. A bactéria pode causar infecções de urina, da corrente sanguínea e pneumonia e foi incluída na lista da OMS como uma das 12 bactérias de maior risco à saúde humana pelo seu alto poder de resistência.
De acordo com a Anvisa, 77,4% das infecções da corrente sanguínea registradas em hospitais por essa bactéria em 2015 foram causadas por uma versão resistente a antibióticos poderosos, como os carbapenems.
Essa família de antibióticos é uma das últimas opções que restam aos médicos no caso de infecções graves.
"Quando as bactérias se tornam resistentes a eles, praticamente não restam alternativas de tratamento", explica Assef.
Outro exemplo é a Klebsiella pneumoniae. Naturalmente encontrada na flora intestinal humana, é considerada endêmica no Brasil e foi a principal causa de infecções sanguíneas em pacientes internados em unidades de terapia intensiva em 2015, segundo dados da Anvisa.
O mais preocupante é que ela tem se tornado mais forte com o passar do tempo. Nos últimos cinco anos, a sua taxa de resistência aos antibióticos carbapenêmicos (aqueles usados em pacientes já infectados por bactérias resistentes) praticamente quadruplicou no Estado de São Paulo - foi de 14% para 53%, segundo dados do Centro de Vigilância Epidemiológica paulista.
"Os dados do Estado de São Paulo são um retrato do Brasil. É um problema crescente e muito grave, principalmente pela rápida disseminação dessas bactérias resistentes", diz Jorge Luiz Mello Sampaio, professor de microbiologia clínica da USP e consultor da Câmara Técnica de Resistência Microbiana em Serviços de Saúde da Anvisa.
Direito de imagemCDCImage captionBactérias resistentes a antibióticos passam genes da resistência a sua prole
Resistência
A capacidade de bactérias de passar por mutações para vencer medicamentos desenvolvidos para matá-las é chamada de resistência antimicrobiana - ou resistência a antibióticos.
Essa extraordinária habilidade é algo natural: os remédios, ao atacar essas bactérias, exercem uma "pressão seletiva" sobre elas, que lutam para sobreviver. Aquelas que não são extintas nessa batalha são chamadas de resistentes. Elas, então, se multiplicam aos milhares, passando o gene da resistência a sua prole.
Esse processo natural pode ser acelerado por alguns fatores, como o uso excessivo de antibióticos. Um agravante é o emprego desses medicamentos também na agricultura, na pecuária e em outras atividades de produção de proteína animal.
Muitos fazendeiros injetam regularmente medicamentos em animais saudáveis como um aditivo de performance. Isso acelera a seleção de bactérias no ambiente e em animais, que podem vir a contaminar humanos.
De acordo com especialistas, o número crescente de infecções - que poderiam ser barradas por mais higiene e saneamento básico - também é um problema, porque demanda maior uso de antibióticos, o que, por sua vez, seleciona mais bactérias resistentes, perpetuando um círculo vicioso.
Um estudo encomendado pelo governo britânico no ano passado estima que tais organismos irão causar mais de 10 milhões de mortes por ano após 2050. Atualmente, 700 mil pessoas morrem todos os anos vítimas de bactérias resistentes no mundo.
Os efeitos na economia também podem ser devastadores. Países como o Brasil estariam sob o risco de perder até 4,4% de seu PIB em 2050, segundo estimativas do Banco Mundial.
Pecuária
Características específicas, como hospitais superlotados e alta atividade agropecuária com uso de antibióticos, fazem do Brasil um grande facilitador a bactérias resistentes.
O país é hoje o terceiro no mundo a mais utilizar antibióticos na produção de proteína animal, atrás apenas da China e dos Estados Unidos - e deve continuar nessa posição até pelo menos 2030, aponta um estudo coordenado por Thomas P. Van Boeckel, da Universidade de Princeton (EUA).
Consultado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento diz que atua para diminuir o uso desses produtos em animais. A pasta afirma que já é proibido utilizar antibióticos como as penicilinas e as cefalosporinas para melhorar o desempenho dos animais.
No ano passado, a colistina, um antibiótico considerado a última opção de tratamento a bactérias resistentes também teve seu uso proibido em animais saudáveis.
"O Brasil está comprometido com o tema", diz Suzana Bresslau, auditora fiscal federal agropecuária da Coordenação de Programas Especiais do ministério. "O país reconhece que se trata de uma ameaça global à saúde pública e apoia os esforços para minimizar os riscos associados à resistência antimicrobiana."
Na área hospitalar, a Anvisa monitora as infecções da corrente sanguínea em UTIs, associadas ao uso de instrumentos para aplicação de remédios, como o cateter. Somente em 2015, foram mais de 25 mil infecções desse tipo - a maioria causada por bactérias com altos índices de resistência.
"Estamos com problemas graves de Estados falidos, com recursos menores para a saúde, hospitais com poucos funcionários, aquém do necessário para cuidar dos pacientes. Às vezes, nessa situação, protocolos básicos, como desinfecção das mãos, acabam passando", diz Sampaio.
"Quanto maior a sobrecarga de trabalho, maior é a taxa de infecção hospitalar. Nesse cenário, há maior risco de selecionar bactérias multirresistentes."
Combate
Desde dezembro, o Ministério da Saúde vem elaborando, com diferentes ministérios e a Anvisa, um plano nacional de combate a bactérias resistentes, a pedido da OMS. Alguns dos objetivos do material são fortalecer o conhecimento científico sobre o tema e expandir a rede de saneamento básico no país para ajudar a prevenir infecções.
O governo diz que também pretende educar melhor profissionais e pacientes sobre a urgência do tema.
De acordo com o Ministério da Saúde, o plano estratégico está pronto, mas ainda é necessário definir como será a implementação e o monitoramento das ações.
A proposta brasileira está prevista para ser colocada em ação a partir de 2018, com expectativa de conclusão até 2022. Comparado com outras economias em desenvolvimento, o país está atrasado: a África do Sul começou a colocar seu plano em prática ainda em 2014, enquanto a China implementa o seu desde 2016. Já a Índia começou nesse ano.
O país é também um dos únicos Brics (sigla para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que ainda não disponibilizou o documento publicamente no site da OMS, juntamente com a Rússia.
Consultada, a OMS disse que os países não são obrigados a compartilharem seus planos, mas que ela encoraja a prática "como uma forma de transparência e de boas práticas".
Mas enquanto o governo trabalha numa estratégia, bactérias aprimoram sua capacidade de sobreviver aos remédios mais poderosos.
Direito de imagemAGÊNCIA BRASILImage captionSuperlotação de hospitais brasileiros é terreno fértil para seleção de bactérias resistentes
Em outubro, a Anvisa emitiu um alerta sobre a detecção no Brasil de cepas da E. coli, resistentes a uma família de antibióticos chamada polimixinas. que se tornaram a última escolha de médicos frente a bactérias resistentes.
O mais preocupante é que essas cepas da E.coli têm a capacidade de trocar material genético com outras espécies de bactérias e transferir o gene da resistência às polimixinas a outros organismos - não apenas a sua prole.
O novo mecanismo de resistência exemplifica o quanto o assunto é urgente, diz Sampaio, da USP, para quem "a cada dia há uma surpresa" no universo desses organismos.
"Elas se multiplicam a cada 20 minutos. É uma competição difícil. Nós levamos anos para colocar um antibiótico no mercado, elas podem levar 20 minutos para mutarem e vencerem o remédio."
A automação "engole" empregos ao
redor do mundo, mas ainda está distante de substituir trabalhadores que
combinem diversas habilidades complementares entre si - em especial
habilidades sociais, como a capacidade de escutar e de trabalhar
eficientemente em equipe.
A explicação é do pesquisador David
Deming, professor de Políticas Públicas, Educação e Economia na
Universidade Harvard e autor de um estudo chamado A crescente importância de habilidades sociais no mercado de trabalho, publicado em maio.
Na
pesquisa, que compila dados do mercado de trabalho dos EUA entre 1980 e
2012, ele nota um aumento na oferta de empregos para funções que
requerem alto grau de interação humana, como gerentes, professores,
enfermeiros, médicos e advogados.
Enquanto isso, empregos
puramente técnicos e de baixa interação humana, ocupados por exemplo por
matemáticos e engenheiros, representam parcela menor do total da mão de
obra americana.
O mais expressivo crescimento de empregos - e
salários - ocorreu, segundo Deming, em funções que exigem tanto
conhecimentos matemáticos/técnicos quanto habilidades sociais. Para
muitos desses empregos, a tecnologia se torna algo complementar, que
ajuda o trabalhador a aumentar sua produtividade, em vez de
substituí-lo.
"Empregos com salários melhores cada vez mais exigem habilidades
sociais", argumenta Deming. "A interação social se mostrou - ao menos
até o momento - difícil de ser automatizada."
Em entrevista por
telefone à BBC Brasil, o pesquisador fala sobre a importância de essas
habilidades serem praticadas pelos profissionais e incorporadas aos
sistemas de ensino.
BBC Brasil - Você menciona em seu
estudo empregos tradicionalmente "analógicos" - como de advogados,
professores, enfermeiros, médicos - em que os salários têm crescido nos
EUA. Há uma crescente importância deles, mesmo na era da tecnologia?
David Deming - As
pessoas costumam focar em empregos tecnológicos porque é onde está a
inovação e onde há funções que não existiam antes - é algo novo e
empolgante. Mas ainda são uma parcela pequena dos empregos americanos e
estão fortemente concentrados em alguns lugares.
Mas todos
precisamos de médicos, advogados e etc. Então quando você observa o
crescimento do mercado de trabalho americano, eles ficam com a maior
parcela.
A outra coisa é que empregos relacionados à informática
são os únicos empregos que estão crescendo dentro da categoria STEM
(sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática).
Essas ocupações estão, na verdade, encolhendo (percentualmente em
relação ao total de empregos nos EUA).
Acho que o motivo disso é que novas tecnologias automatizam empregos técnicos que não requerem muita interação social.
Há
muitas habilidades que são difíceis para as pessoas, mas fáceis para
máquinas. E há muitas habilidades que são difíceis para máquinas, mas
fáceis para as pessoas.
Tendemos a pensar na habilidade de fazer cálculos,
por exemplo, como um indicativo de que uma pessoa é inteligente e apta à
universidade. Mas isso é algo trivial (para um computador). Em
contrapartida, a habilidade de ter uma conversa não estruturada de dois
minutos com outra pessoa é algo que quase qualquer pessoa pode fazer,
mas é muito difícil criar um programa de computador capaz de fazê-lo.
Há uma diferença entre o que achamos que é técnico e difícil e o que de fato é difícil de ser automatizado.
Por isso, há mais automatização, por exemplo, do trabalho de engenheiros do que do de médicos ou economistas.
BBC Brasil - Aí que as habilidades sociais se tornam mais importantes.
Deming - Sim, é o que eu defendo no meu trabalho com os dados que analisei.
BBC Brasil - Quais habilidades sociais você considera mais importantes?
Deming -
Depende de o que você chama de habilidades sociais. Para mim, não
necessariamente significa ser cortês, de boas maneiras. É parte disso -
pessoas extrovertidas, boas em "conversas de happy hour", provavelmente
têm também boas habilidades sociais. Mas vejo como sendo mais uma
questão de produção no ambiente de trabalho.
Muitos empregos
requerem que você combine diversos "inputs", de pessoas e máquinas, para
produzir algo. Se você é um consultor ou desenvolvedor de software, por
exemplo, muitas vezes trabalha com uma grande equipe - e a
habilidade-chave aí é trabalhar com diferentes pessoas fazendo coisas
diferentes, combinando as atividades delas com as suas de modo
produtivo.
Então, há pessoas que não são necessariamente
extrovertidas, talvez até sejam reservadas, mas que são boas em entender
os demais e fazer parte de um grupo.
E conheço pessoas, e tenho certeza de que você
conhece também, que são extrovertidas, falantes, mas não necessariamente
ouvem os demais e fazem o que querem - e são ruins em trabalho em
equipe.
O que estou tentando dizer é que penso em termos de habilidade de trabalhar em equipe.
BBC
Brasil - Mesmo com o avanço tecnológico, a ideia é que trabalhadores
com habilidades sociais desenvolvidas não serão substituídos?
Deming -
Sim. Uma das coisas que aprendemos sobre como as mudanças tecnológicas
afetam o mercado de trabalho é que as pessoas tendem a focar muito na
substituição de pessoas por máquinas, mas não costumam ver que se a
tecnologia não te substitui, ela tende a te tornar mais valioso ou
produtivo.
O fato de que haja um software que permita a mim, um
professor, analisar uma base de dados com rapidez me faz economizar
tempo - isso não substituiu o meu trabalho ou me deixou obsoleto, apenas
me tornou mais produtivo, porque me permitiu dedicar mais tempo a
escrever, por exemplo.
Direito de imagemGetty ImagesImage caption
Pesquisador defende que nossas salas de aula sejam mais parecidas às de pré-escola
A mensagem é: se você tem esse tipo de trabalho, em
que tem de fazer tarefas analíticas mas também trabalhar com outras
pessoas, as máquinas vão te tornar ainda mais valioso - porque se você é
bom nas tarefas analíticas, você conseguirá usar as máquinas (que
automatizarão essas tarefas) para aumentar sua produtividade e não ser
substituído.
BBC Brasil - Então se você fosse aconselhar
um trabalhador que teme ser substituído pela tecnologia, será que é
encontrar funções em que a tecnologia o ajude a ser mais eficiente?
Deming -
Isso. A vantagem que as pessoas têm sobre a tecnologia é que são
flexíveis: podem dedicar seu tempo a diferentes tarefas, podem liderar
uma equipe.
As máquinas não são flexíveis assim. Se você quer
proteger sua carreira do (desenvolvimento tecnológico) futuro, você deve
escolher habilidades e capacidades que sejam complementares entre si e
não necessariamente diretamente relacionadas.
Por exemplo, você é
bom em trabalho em equipe e em codificação. Não haverá num futuro
próximo nenhuma máquina capaz de fazer essas duas coisas juntas. A
mensagem é: não seja um pônei de um único truque. É uma expressão
americana que quer dizer não seja bom em apenas uma coisa, seja bom em
várias.
BBC Brasil - E como uma pessoa pode melhorar suas habilidades sociais?
Deming -
Não sei se tenho a resposta a essa pergunta com rigor acadêmico, porque
parte da motivação desse projeto é colocar o assunto em pauta. Ou seja,
ainda há muito trabalho a ser feito a respeito de como medir e melhorar
essas habilidades.
Mas minha intuição é de que é parecido ao que
as pessoas pensam do QI - alguns nascem com mais que os outros, mas
esses ainda podem praticar e melhorar.
Alguns têm alto QI, outros
têm baixo, mas o QI não é um indicativo perfeito do seu desempenho
escolar, porque você pode estudar mais, dar mais valor e se esforçar
(para compensar a deficiência).
Você pode melhorar suas habilidades sociais com
prática, e não apenas em conversas de happy hour, mas em colocar-se na
posição dos outros. Tente imaginar a conversa sob a perspectiva do
outro, e não só da sua.
É algo que não fazemos muito nas salas de
aula. Mas pense que, em uma aula de Humanas, ao ler um romance, você
está tendo acesso a uma história sendo apresentada de múltiplas
perspectivas. Ou, na aula de História, você pode analisar um fato
histórico sob a perspectiva de diferentes grupos. E isso é muito
importante.
BBC Brasil - Um relatório recente da OCDE
sobre habilidades para o futuro defende que os trabalhadores precisam
tanto de conhecimento de linguagem e numérico como habilidades sociais e
de resolver problemas. Você concorda com a ideia de que linguagem e
números continuam sendo muito importantes?
Deming - Sim. A questão é que eles não bastam mais por si só. Você precisa ser capaz de fazer diversas coisas diferentes.
BBC Brasil - E qual o papel da educação em preparar as pessoas para o cenário atual?
Deming -
Se você perguntar às pessoas o que tentam levar consigo da experiência
escolar, certamente dirão que esperam que a escola as prepare para o
mundo do trabalho no futuro. Então, temos de nos perguntar: de que
formas as escolas são parecidas com o ambiente de trabalho moderno e de
que formas elas não são?
Muitas escolas são muito organizadas em
torno de um modelo em que o professor tem todo o conhecimento e
apresenta-o em um estilo de palestra. O ambiente de trabalho não se
parece em nada com isso - é um ambiente fluido, em que trabalhadores são
constantemente colocados em equipes para resolver problemas não
estruturados, e as pessoas têm papéis múltiplos.
Acho que
queremos que nossas escolas repliquem isso - que se pareçam mais com o
ambiente de trabalho moderno se querem ensinar as pessoas a serem
melhores trabalhadores.
BBC Brasil - Você mencionou mais
cedo que ser bom em cálculo tornava uma pessoa apta à universidade.
Também precisamos repensar a forma como avaliamos os estudantes?
Deming -
Sim, acho. É um exemplo de um entrave para muitos estudantes, que não
conseguem (ser bons em cálculo). E há poucos empregos em que você
realmente precisa ser bom em cálculo. Seria muito mais importante, no
mundo atual, que as pessoas entendessem estatística e probabilidades,
por exemplo.
Falando amplamente, acho que os sistemas
educacionais, pelo menos nos EUA e provavelmente em outros países, não
responderam muito às mudanças no ambiente de trabalho e precisam ser
repensados.
É difícil, porque o mercado de trabalho muda constantemente, mas temos de melhorar.
BBC Brasil - Há habilidades que as escolas poderiam simplesmente parar de ensinar, por terem se tornado irrelevantes?
Deming -
Não sei se vejo isso dessa forma, porque você frequenta a escola pelo
menos até os 18 ou 20 e poucos anos. E você espera estar aprendendo
coisas que serão úteis pelas cinco ou seis décadas seguintes da sua
vida. É um futuro muito incerto.
Sempre enfrentaremos o desafio
de tentar treinar as pessoas para um ambiente do trabalho do futuro.
Então acho muito importante que as escolas enfatizem, o máximo possível,
o desenvolvimento de habilidades gerais. Não queremos que as escolas
ensinem habilidades muito específicas, que podem ser úteis hoje, mas não
daqui a dez anos.
Na escola, queremos que as pessoas aprendam a
aprender. Trata-se em grande parte de dar às pessoas um kit de
ferramentas com as quais elas possam se aperfeiçoar ao longo do tempo.
Tanto
que, ainda que apoie a educação vocacional em alguns casos, me preocupa
que a educação muito específica se torne menos relevante diante de um
futuro incerto.
BBC Brasil - No seu estudo você menciona a
importância de intervenções já na primeira infância no que se refere a
habilidades sociais. Isso ajudaria a nos tornar melhores pessoas e
trabalhadores futuros?
Deming - É um
pouco especulativo, mas há boas evidências de que intervenções de alta
qualidade feitas no início da nossa vida têm impacto mais longo na vida
adulta, tornando-nos mais produtivos.
Uma possível razão disso,
em termos de educação, é que se você olha para uma sala de aula de
pré-escola, ela se parece mais com o ambiente de trabalho moderno do
que, por exemplo, a quarta série. Na pré-escola, você aprende a
socializar. A criança não aprende apenas números e letras, mas é
colocada em grupos para negociar, compartilhar seus recursos e ocupar
diferentes papéis.
Acho que, no meio do caminho, a escola se
torna mais formal, para ensinar letras e números - algo importante. Mas o
aprendido mais cedo, de como se portar no mundo, também é muito
importante.
Talvez nossas salas de aula depois da pré escola devessem se mais parecidas com isso.
omens que se tornam pais mais tarde
têm chance maior de ter um filho com traços típicos - e positivos - de
"nerds" e "geeks", diz um estudo recém-publicado no Reino Unido.
Esses
meninos se tornam mais espertos, focados e menos preocupados em se
enturmar, de acordo com artigo publicado por pesquisadores da
Universidade King's College de Londres no periódico Translational Psychiatry.
Curiosamente,
a idade da mãe não teve impacto nos resultados, os quais parecem ser
relevantes apenas para filhos do sexo masculino.
As descobertas
estão entre as raras notícias positivas relacionadas a gestações
tardias, comumente associadas à maior incidência de problemas genéticos,
autismo e esquizofrenia.
Os pesquisadores analisaram resultados
de testes feitos com 12 mil gêmeos britânicos de um amplo estudo que
acompanha seu desenvolvimento - infância e adolescência - desde 1994,
para entender quais fatores contribuem para a construção de sua
individualidade.
Os pesquisadores criaram o que chamaram de "Geek
Index", avaliando crianças de 12 anos de idade com relação a seu QI, sua
habilidade de focar em um tema e introversão.
"Nossa hipótese é de que QI alto, foco no assunto de interesse e
algum grau de introspecção social provavelmente são benéficos em uma
economia movida pelo conhecimento", diz o artigo científico. "Ainda que
esses traços estejam distribuídos pela população, a literatura
etnográfica agrupa-os sob o guarda-chuva do termo 'geek'."
Os que
tiveram altas pontuações no ranking "geek" acabaram se saindo melhor na
escola, sobretudo em temas como ciência, tecnologia, engenharia e
matemática.
Explicações
Entre
os participantes do estudo, pais com idade igual ou inferior a 25 anos
tiveram filhos que pontuaram menos no ranking geek do que pais com
idades entre 35 e 40 ou mesmo com mais de 50 anos.
Entre as possíveis explicações para isso, os cientistas apontam que:
- Pais nerds podem estar demorando mais para ter filhos e transmitir suas "nerdices" para os filhos
-
Homens mais velhos podem estar criando um ambiente familiar que
encoraja traços "nerds", graças a empregos melhores e mais estáveis que
aumentam o acesso a educação e experiências diversas
- Pode haver novas mutações no esperma, afetando o desenvolvimento dos filhos
Atenção para os riscos
No
entanto, estudiosos não recomendam que casais tomem decisões quanto à
concepção com base nessas descobertas, justamente por causa dos riscos
associados a gestações tardias.
"Famílias não devem ser
influenciadas por este estudo em suas decisões quanto a ter filhos",
adverte Magdalena Janecka, pesquisadora do King's College.
"Ainda
que pareça legal ser geek, não recomendo que os futuros pais retardem
seus planos de iniciar uma família para propositadamente aumentar as
chances de ter uma criança com essas qualidades", afirma o professor da
Universidade de Sheffield Allan Pacey.
"Os perigos da paternidade
tardia estão bastante descritos (na literatura médica), incluindo os
riscos de infertilidade, aborto espontâneo ou distúrbios debilitantes ao
nascer. Dito isso, acho bastante intrigante a ideia do 'gene geek'. E,
diante da tendência de termos filhos cada vez mais tarde, talvez
estejamos destinados a criar uma futura sociedade de gênios que nos
ajudarão a resolver os problemas do mundo."
Ao mesmo tempo, a
equipe de pesquisadores também acredita que alguns traços genéticos
herdados de pais mais velhos podem ter influência tanto sobre o aspecto
"nerd" quanto sobre as possibilidades de desenvolvimento do autismo.
"Quando
a criança nasce com apenas alguns desses genes, parece ter mais chance
de ser bem-sucedida na escola. No entanto, com uma 'dosagem' mais alta
desses genes, somada a outros fatores de risco, pode ser que ela tenha
uma predisposição maior para o autismo", disse a pesquisadora Janecka.
As
diferenças de gênero não foram esclarecidas pelo estudo. Pode ser que
as medições não tenham sido capazes de perceber as diferenças nas
manifestações de "nerdices" entre meninos e meninas. Ou pode ser que
haja diferenças na forma como o cérebro de meninos e meninas se
desenvolve.
O jet lag é uma experiência comum para pessoas que viajam para lugares com fusos muito diferentes. Se a diferença entre os países é grande, o corpo pode ficar um pouco confuso a respeito do horário de dormir, ir ao banheiro ou se alimentar.
Mas existe outra sensação parecida - e sem que seja preciso ir muito longe: o jet lag social.
Esse fenômeno ocorre quando há grandes diferenças entre o horário de sono do fim de semana (ou dos dias livres) e o dos dias de trabalho.
Especialistas acreditam que a interrupção da regularidade dos padrões de sono também pode confundir o relógio biológico, ou seja, o ritmo circadiano, que regula nosso metabolismo.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionDiferenças na hora em que se dorme pode ser prejudicial à saúde
Medição
Para entender o jet lag social, costuma-se comparar o ponto médio do sono de uma pessoa durante os dias de trabalho e nos dias livres.
Exemplo: se uma pessoa dorme durante a semana das 23h às 7h da manhã, o ponto médio de sono é às 3h. No final de semana, se a mesma pessoa dorme de 1h às 11h, o ponto médio seria às 6h.
Como afeta a saúde
Alguns estudos já vêm mostrando que o fenômeno pode trazer impactos à saúde.
Uma pesquisa publicada em 2015 na publicação científica International Journal of Obesity encontrou uma correlação entre o jet lag social e a obesidade e o diabetes tipo 2.
O estudo avaliou a saúde de cerca de 800 trabalhadores que apresentam grandes diferenças nos padrões de sono entre os dias livres e de trabalho.
Segundo os pesquisadores, o resultado aponta que "viver contra o relógio interno pode contribuir para disfunções metabólicas".
Não é que o jet lag social em si provocasse a obesidade, mas uma diferença de apenas duas horas nos padrões de sono já era suficiente para elevar esses riscos, apontou o estudo.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionRisco de obesidade é maior entre aqueles com jet lag social
Outra pesquisa, publicada nesta segunda-feira em um suplemento do periódico Sleep, revela que cada hora a mais de jet lag social está associada com um aumento de 11% na probabilidade de sofrer de doenças cardíacas.
O problema também estava associado com uma saúde mais pobre e piora no humor, assim como aumento da sonolência e do cansaço.
Os cientistas calcularam o jet lag social ao comparar os pontos médios da semana e do final de semana de 984 adultos com idades entre 22 e 60 anos.
"Foi surpreendente ver que esses efeitos eram independentes do quanto a pessoa dormia e de sintomas de insônia", escreveu Sierra B. Forbush, autor do estudo e assistente do Programa de Pesquisa de Sono e Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.
"Esses resultados indicam que dormir regularmente, além da duração do sono em si, tem um papel importante na saúde", concluiu.
Vários estudos científicos e instituições de saúde recomendam que os adultos durmam pelo menos sete horas por dia.
E segundo o serviço britânico de saúde pública, o NHS, especialistas concordam que manter horários regulares de sono durante a semana e nos finais de semana ajuda a prevenir problemas de sono.
Grelhada, frita ou no vapor. Há dezenas de receitas para o preparo da tilápia, um peixe de água doce que se reproduz com grande velocidade.
Mas além de ser saboroso e rico em proteínas, o peixe tem um potencial único no campo da medicina, especificamente para o tratamento de queimaduras de pele de segundo e terceiro graus.
O método, pioneiro no mundo, foi desenvolvido por médicos no Ceará.
"No Brasil, para tratar queimaduras, usamos normalmente um creme com efeito de 24 horas. Todos os dias, é preciso trocar o curativo, tirar o creme, enxaguar a área queimada, colocar o creme novamente e fazer um novo curativo", explica Edmar Maciel, cirurgião plástico e presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), que desenvolveu o procedimento.
"Isso acaba sendo muito trabalhoso, custoso e doloroso", acrescenta ele.
O método oferece muitos benefícios.
Como permanece sobre a queimadura durante vários dias, em função da gravidade do ferimento, a pele do peixe evita as dores que resultam na necessidade da troca do curativo.
Em outros países, é usada a pele de outros animais, principalmente de porco.
Mas uma grande vantagem de usar a tilápia é que "sabemos que esses peixes tem menos possibilidades de transmitir doenças do que os terrestres", assinala Maciel.
Por outro lado, tem uma maior quantidade de uma proteína chamada colágeno tipo 1, uma melhor resistência (similar à pele humana) e um grau adequado de umidade que ajuda na cicatrização.
Por sua boa aderência, a pele evita a contaminação externa e limita a perda de proteína e plasma, o que pode gerar desidratação e, em última instância, causar a morte do paciente.
Antes de ser utilizada, a pele do peixe é submetida a um processo de limpeza em que são retirados as escamas, o tecido muscular, as toxinas e o odor característico do peixe.
Depois, é estirada em uma prensa e cortada em tiras de 10 cm por 20 cm.
O resultado é um tecido flexível, similar à pele humana.
As tiras de pele são armazenadas em um congelador a uma temperatura entre 2 e 4 graus Celsius por no máximo dois anos.
O trabalho dos pesquisadores foi premiado várias vezes no Brasil.
Agora, a equipe analisa a possibilidade de usar a pele de tilápia em outras áreas da medicina, como, por exemplo, no campo da ginecologia, na atresia vaginal ou para uso em endoscopia.
Também será feito um estudo comparativo para avaliar as diferenças no tratamento das queimaduras entre a pele do porco, do cachorro, humana e da tilápia.
Crianças que vivem em condições menos favorecidas apresentam, em geral, pior desempenho na escola.
A
explicação pode estar na má alimentação, em situações de estresse no
ambiente familiar ou na falta de atenção que recebem dos pais, entre
outros fatores.
Um número cada vez maior de cientistas sugere, no
entanto, que pode haver algo mais. Será que a pobreza pode mudar a nossa
forma de pensar?
A BBC discutiu o tema a partir de quatro perspectivas com diferentes especialistas.
1. Sobrecarga mental
"Peça
a um grupo de pessoas que memorize uma série de sete dígitos. Conseguem
se lembrar da sequência 7, 4, 2, 6, 2, 4, 9?", propõe Eldar Shafir,
professor de ciência comportamental e políticas públicas da Universidade
de Princeton, nos Estados Unidos.
"Enquanto você guarda os
números em sua memória de curto prazo, tentando não esquecer, sua mente
está literalmente cheia. Você tem menos espaço cognitivo para outras
coisas", explica. Grande parte do trabalho desenvolvido por Shafir
sugere que viver em situação de pobreza, tendo que fazer malabarismo com
os poucos recursos que se tem e constantemente preocupado em como pagar
as contas no fim do mês, tem efeito semelhante a guardar sete dígitos
na cabeça o tempo todo.
"Isso faz com que você se esqueça de outras coisas, você fica com uma atenção limitada", explica.
Para provar a ligação direta entre a pobreza e o funcionamento do cérebro, o professor realizou vários experimentos.
Em
um deles, disse tanto a pessoas menos favorecidas quanto em boa
situação de vida o que teriam que fazer para consertar o carro.
A alguns informou que o reparo custaria US$ 150 e a outros que ultrapassaria US$ 1.500, independentemente do status social.
Em seguida, os submeteu a uma série de testes cognitivos. Ao analisar os resultados, Shafir observou que os
ricos tiveram desempenho semelhante, independentemente do valor que
tiveram que pagar.
Já os mais pobres tiveram melhor desempenho quando a conta era menor.
A diferença chegou a ser de 12 ou 13 pontos de quociente de inteligência (QI).
"É um número muito significativo, que pode fazer a diferença entre estar dentro da média ou ser superdotado, por exemplo".
O experimento de Shafir sugere que a inteligência pode ser afetada a curto prazo pela pobreza.
Mas podemos dizer que a pobreza provoca alterações cerebrais a longo prazo?
2. Mal funcionamento geral
"Adoro
interagir com pessoas mais velhas", diz à BBC Adina Zeki al Hazzuri,
professora da Universidade de Miami que investiga o impacto da sociedade
sobre a nossa saúde.
Hazzuri pesquisa o envelhecimento cerebral.
Ela acaba de concluir um estudo de acompanhamento de 3.500 adultos que
tinham entre 18 e 30 anos em 1985.
Por duas décadas, os participantes da pesquisa informaram suas rendas. "Queríamos medir a influência de um rendimento baixo no funcionamento do cérebro a longo prazo", explica.
As pessoas foram submetidas a três testes confiáveis para detectar envelhecimento cognitivo.
"Constatamos
que pessoas que viveram em situação de pobreza o tempo todo durante
esses 20 anos tiveram resultados muito piores do que aquelas que nunca
passaram por essa experiência", diz.
Hazzuri admite que é difícil estabelecer o que acontece
primeiro: se o cérebro não funciona bem e, em seguida, fica-se mais
pobre ou o inverso.
Para tirar essa dúvida, os pesquisadores
fizeram outra análise tomando como base uma amostra só de pessoas com
alto nível educacional e que estavam saudáveis no início do estudo.
"A
associação entre a pobreza e a função cognitiva se manteve", explica a
professora. "Eu diria que a pobreza muda, sem dúvida, a forma como
pensamos."
3. Freio ao desenvolvimento
E o cérebro das crianças?
"Corta
o coração ver o impacto que a pobreza tem em uma criança", lamenta
Katie McLaughlin, professora de psicologia na Universidade de
Washington.
McLaughlin é especialista no estudo de crianças em
seus primeiros anos de vida, quando o cérebro apresenta um
desenvolvimento maior.
Ela concentrou parte de seu trabalho em orfanatos na Romênia, onde a situação das crianças era devastadora.
"Se
pudermos entender como essa forma extrema de pobreza afeta o
desenvolvimento do cérebro, talvez possamos aprender algo sobre o que
acontece no cérebro de crianças que crescem na pobreza", diz.
Em
sua pesquisa, McLaughlin observou como os cérebros de crianças que vivem
em condições de vida precária são debilitados, especialmente em áreas
que processam a linguagem complexa. "Os circuitos neurais e as conexões projetadas para
processar a informação, se não forem utilizados, desaparecem", explica.
"Se isso acontecer de forma contínua e em larga escala, contribui para
um estreitamento do córtex".
McLaughlin acrescenta que o
enfraquecimento da massa cinzenta externa do cérebro de crianças de
orfanatos da Romênia também foi observado em crianças de áreas pobres
dos Estados Unidos.
A pesquisadora acredita que os cérebros das
crianças romenas foram prejudicados por não receberem estímulos
suficientes - talvez não se tenha conversado ou brincado com elas o
bastante.
E, de certa forma, ela afirma que o mesmo deve ter acontecido com os jovens americanos em bolsões de pobreza.
A
especialista reconhece, no entanto, que não há como garantir com
certeza que haja uma relação de causa-efeito entre a pobreza e a
deterioração do cérebro.
4. Existe uma evidência clara?
"Acho
que há cada vez mais evidências para estabelecer a relação entre
pobreza e mudanças cerebrais, mas é um campo de estudo relativamente
recente ", diz Charles Nelson, professor de pediatria e neurociência da
Universidade de Harvard.
Mas alguém já demonstrou que a pobreza
causa mudanças no cérebro das pessoas, ou simplesmente se associa a
pobreza a essas mudanças?
"O simples fato de não ganhar uma certa
quantia de dinheiro não causa nada", diz Nelson. "É o que está
relacionado à ausência de uma certa quantidade de dinheiro que parece
causar (danos). Por exemplo, a falta de comida ou o fato de não ter
acesso a um bom sistema de saúde ou o estresse elevado na família que
pode levar à falta de cuidados". Não há dúvida de que está crescendo o interesse da
ciência em decifrar a relação entre a pobreza e o cérebro, mas já
sabíamos que a pobreza é ruim para a nossa saúde. Qual seria então a
novidade?
"As ferramentas (de pesquisa) estão mais sofisticadas e
nos permitem avaliar o cérebro, algo que não se podia fazer há 10 anos",
diz Nelson.
E mesmo que as conclusões sejam parecidas ao que notávamos empiricamente, o estudo é válido para chamar a atenção ao tema.
"A
bonitas imagens do cérebro parecem ter mais impacto do que imagens de
crianças famintas. Acho que as pessoas estão vendo que há um preço
biológico a ser pago por crescer na pobreza", conclui Nelson.
Para finalizar, você lembra da sequência de sete dígitos?
Eu não uso as palavras 'saúde mental'. Eu estremeço toda vez quando as escuto", diz Bonnie Burstow.
Ouvir ela dizer isso foi como um soco no estômago.
Burstow
é professora associada da Universidade de Toronto, no Canadá, onde
recentemente lançou o primeiro programa de estudo no mundo de
anti-psiquiatria.
Em seu trabalho como psicoterapeuta, Burstow ajudou centenas de
pacientes "altamente suicidas", segundo ela. E acredita que o tratamento
psiquiátrico convencional não é a melhor opção.
Burstow é uma
figura conhecida no campo da anti-psiquiatria, que ela descreve como "um
movimento de sobreviventes e profissionais psiquiátricos dizendo que
precisamos abolir a psiquiatria".
Quando ouvi sobre Burstow e o
movimento da anti-psiquiatria, estava cético, senti até raiva. Num
momento em que o mundo finalmente começa a prestar atenção para a
gravidade incapacitante de algumas condições mentais, a última coisa que
precisamos, pensei, é um grupo de dissidentes querendo dar três passos
para trás.
'Anormalidade biológica'
As reações ao anúncio do novo programa de Burstow foram mistas.
A
psiquiatria convencional entende que anormalidades biológicas (como
desequilíbrios químicos), juntamente com fatores psicológicos e sociais,
podem levar a transtornos mentais como distúrbio bipolar, depressão e
esquizofrenia.
Conversei com o professor Carmine Pariante, do
britânico Royal College of Psychiatrists. Ele disse que "olhar para esse
complexo modelo biológico, psíquico e social, e olhar para estes
componentes conjuntamente" é a melhor maneira de lidar com questões de
saúde mental.
Essa abordagem é amplamente aceita, e eu
pessoalmente a reconheço tanto por causa do meu tratamento e das muitas
conversas que tive com meu colega de apartamento, que é psiquiatra.
Mas o movimento anti-psiquiatria questiona se as doenças mentais realmente são doenças. Será que ela pensa que a dor que sinto diariamente é totalmente ficcional?
"Não",
diz Burstow. "Eu acredito que as pessoas têm ansiedade? Acredito que as
pessoas têm compulsões? Claro. Mas acredito que esses sentimentos são
normais do ser humano na forma de experienciar a realidade."
Burstow
ainda defende: "Temos uma falsa noção do que é normal. As pessoas se
comparam com o que dizem ser normal, e isso não é nem vagamente o que a
maioria das pessoas sente".
Eu consigo entender parte do que Burstow está dizendo. Antes de
ser diagnosticado com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), a última
coisa que eu me sentia era "normal".
Se eu soubesse antes que os
tipos de pensamentos intrusivos dos quais eu sofro são, na verdade, bem
comuns na sociedade como um todo, talvez tivesse evitado anos de
tormento.
Indústria da psiquiatria
Burstow
argumenta que "se 99% das pessoas no mundo não são consideradas
'normais', isso favorece a psiquiatria, porque isso dá a ela uma enorme
clientela".
O movimento anti-psiquiatria também acredita que
existe uma medicação desenfreada entre psiquiatras. Um relatório recente
estima que o mercado global de drogas para a depressão, que estava
avaliado em US$ 14,5 bilhões (R$ 47 bilhões) em 2014, vai gerar US$ 16,8
bilhões (R$ 54,7 bilhões) em receitas em 2020.
"A psiquiatra
entende coisas como biológicas quando elas não o são. Quando dizemos
'saúde mental', isso significa que os problemas das pessoas têm relação
com doenças", critica Burstow, que, em sua visão, "não são doenças".
Há controvérsias entre profissionais médicos sobre isso.
Existem
evidências de que os transtornos tendem a ocorrer em famílias, e
estudos com gêmeos sugerem que o transtorno bipolar está "entre os
distúrbios médicos mais hereditários".
O professor Pariante
acredita que é apenas uma questão de tempo até que as condições de saúde
mental sejam provadas como influenciadas pela genética (pelo menos em
parte).
Mas o movimento anti-psiquiatria rejeita isso.
Paola
Leon, que há 25 anos pratica a psiquiatra em Toronto diz: "A vida pode
ser difícil. Mas começamos a diagnosticar determinadas reações e
comportamentos como 'doença mental', mas, mesmo que sejam dolorosos, são
parte da condição humana".
Burstow também fica preocupada com o que ela chama de "poder assustador" da psiquiatria.
"(A
psiquiatria) tem o poder do estado para encarcerar quando se decide que
alguém é mentalmente doente. Tem o poder de trancar alguém, de tratar
pessoas contra a sua vontade", afirma.
Quando trago esse
argumento ao professor Pariante, ele responde: "Quando existe um risco
real de alguém se ferir ou ferir outras pessoas, como que eu posso
deixá-lo desassistido, numa situação em que eu poderia ajudar?".
Terapia de fala
Mas Burstow insiste que há outras maneiras de tratar as pessoas.
O
movimento anti-psiquiatria advoga por mais terapias com base na fala,
mesmo para condições muito debilitantes como a esquizofrenia.
Não
sei se estou convencido disso. Conheci muitas pessoas que se
beneficiaram da medicação, sem mencionar outros que recusaram a tomá-la e
se tornaram perigosos para si próprios.
Os oito meses de terapia cognitivo-comportamental
pela qual eu passei certamente me ajudaran a lidar com meus problemas
mentais, mas eu sinto que boa parte foi o de entender que o que
acontecia comigo era uma "doença": o TOC. Ela me deu uma explicação para
os meus sintomas.
Desde então, eu questiono a eficácia de vários
exercícios que fiz na terapia e, com minha saúde mental ainda abaixo do
esperado, estou agora esperando na lista para uma forma diferente de
tratamento de fala, a psicoterapia. Talvez a forma como vou melhorar é
abordar minha vida como um todo, e não apenas focando no meu TOC.
O
"diálogo aberto", uma forma de tratamento pioneiro na Finlândia, está
sendo testado pelo NHS, o serviço público de saúde britânico. Ele não
rejeita completamente a medicação, mas coloca uma ênfase maior na rede
social do paciente, incluindo sua família e amigos. Em vez de o paciente
se encontrar sozinho com o profissional de saúde mental, eles trabalham
em conjunto com sua rede.
Essa abordagem é semelhante à defendida por Burstow, de usar a "comunidade" para ajudar as pessoas.
A maioria dos psiquiatras não se convence da anti-psiquiatria.
Para
Allan Young, diretor do Comitê Especial de Psicofarmacologia no Royal
College of Psychiatrists, por exemplo, esse movimento vai se tornar
popular e depois perder força com o tempo.
Ele acredita que os
anti-psiquiatras são um grupo isolado, e os chama de uma miscelânea que
inclui desde "pessoas fora da realidade" com ideias estranhas sobre
saúde até psiquiatras e outros profissionais de saúde mental.
Ainda
estou buscando a maneira mais eficaz de lidar com meu transtorno
mental, e não posso deixar de sentir que descartar completamente o
movimento anti-psiquiatra seria um desserviço para aqueles que sofrem
com esses problemas.
No mínimo, está suscitando discussões sobre
novas formas de tratamento. O caminho de cada um para a saúde é
diferente, e descobrir o melhor para você - qualquer que seja - é o que
realmente importa.
Biologia + leis, dicas de estudo, perícia criminal, meio ambiente e gestão de políticas públicas.
Um pouco sobre a autora
Sou Katia Queiroz: Esp. em Sustentabilidade Ambiental(UFRN) , Esp. em Perícia Criminal/judicial(GRAN), Esp. em EAD(IFRN), Especializanda em Direito Ambiental/Direito Penal e Processual Penal, Bióloga(UFRN), Curso nono período de Direito(UNINASSAU) e segundo período de Gestão de políticas públicas(UFRN). UFAAA... gosto muito de estudar!!!
Tento me aprofundar sobre: Ciências Forenses, meio ambiente, plantas, leis, psicologia, medicina legal, design e moda.
Amo compartilhar o que aprendo! Para mim Conhecimento é poder!
Obrigada por estar aqui.