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26 de mai. de 2010

Técnica genética pode 'corrigir' doenças hereditárias, diz estudo

Cientistas americanos desenvolveram um método experimental que, no futuro, pode fazer com que mulheres portadoras de algumas desordens genéticas não transfiram estes problemas aos filhos.

O estudo, conduzido por pesquisadores da Oregon Health and Science University, foi publicado nesta quarta-feira no site da revista científica Nature e deve sair na edição impressa da publicação nas próximas semanas.

Segundo os cientistas, o novo método, que por enquanto só foi testado em macacos, poderá fazer com que mulheres com desordens genéticas não transfiram estes problemas aos seus filhos por meio do DNA de suas mitocôndrias.

As mitocôndrias são estruturas encontradas nas células e que são responsáveis pela produção de energia e pelo metabolismo celular. Estas estruturas também possuem seu próprio material genético.

Quando o óvulo de uma mulher é fertilizado pelo espermatozoide durante a reprodução, o embrião herda quase que exclusivamente a mitocôndria da mãe, o que faz com que qualquer desordem que ela possua em seu DNA mitocondrial seja transferida para o filho.

Solução

Para tentar solucionar este problema, os cientistas, que trabalhavam com macacos rhesus, conseguiram transferir cromossomos da mãe para um óvulo doado que teve seus cromossomos retirados, mas que tinha a mitocôndria saudável.

Dessa forma, eles conseguiram fazer com que o óvulo pudesse gerar bebês saudáveis, que não herdaram o problema genético da mãe.

O experimento deu origem a dois filhotes de macacos gêmeos que foram batizados de Mito e Tracker.

“Atualmente, são conhecidas 150 doenças causadas por mutações no DNA mitocondrial, e aproximadamente uma em cada 200 crianças nascem com mutações nas mitocôndrias”, diz Shoukhrat Mitalipov, um dos autores do estudo.

Entre as doenças que poderiam ser evitadas com a técnica estão algumas formas de câncer, diabetes, infertilidade e doenças neurodegenerativas.

O método, no entanto, pode gerar polêmicas éticas se aplicado em humanos, já que o embrião herda parte do material genético da fêmea que doa o óvulo.

Falhas anteriores

Pesquisas anteriores haviam tentado corrigir estas alterações genéticas que podem causar doenças ao adicionar mitocôndrias saudáveis doadas nos óvulos de pacientes que queriam ter filhos.

Estas tentativas, no entanto, resultaram no nascimento de bebês não saudáveis, provavelmente porque a mitocôndria é tão delicada que foi danificada ao ser transportada de um óvulo para outro.

Como resultado, este tipo de tratamento foi proibido nos Estados Unidos.

Segundo os cientistas, o novo método, em que o DNA da mãe foi transplantado para outro óvulo que teve o DNA retirado, mas uma mitocôndria saudável, pode ser a solução deste problema.

Para Shoukhrat Mitalipov, a nova tecnologia está pronta para ser testada em humanos.

“Os testes em humanos podem começar em breve, talvez dentro de dois ou três anos”, disse.

Alguns grupos, no entanto, expressaram preocupação de que este método possa envolver modificações genéticas que podem ser transferidas por diversas gerações.

“O fato de os efeitos deste tratamento poderem persistir por gerações faz com que debates médicos sejam necessários, assim como mais testes”, diz Helen Wallace, do grupo GeneWatch, uma ONG que estuda os riscos da engenharia genética.

Mas, de acordo com o professor Robin Lovell-Badge, do National Institute for Medical Research, em Londres, as pessoas não precisariam se preocupar.

“A mitocôndria não confere características humanas específicas. Seria como mudar as bactérias de nosso intestino, o que eu suspeito que ninguém ligaria”.

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