Sangue de gambá contém soro antiofídico
Há coisas que só a evolução faz para você. Por décadas os cientistas tiveramde quebrar a cabeça para criar antídotos contra o veneno das cobras. Agora,descobriram que uma solução potencialmente melhor foi "desenvolvida" aolongo de milhões de anos pelos gambás sul-americanos, que se alimentam deserpentes.Pesquisadores da Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz identificaram duasmoléculas no sangue dos gambás que têm essa função antiofídica e esperamutilizá-las não apenas para auxiliar quem sofre acidentes com cobras, mastambém para tratar doenças humanas, como câncer e osteoartrite. "Em testesin vitro, elas foram eficientes contra o câncer de mama, por exemplo",afirma Jonas Perales, do Laboratório de Toxinologia, que coordena osestudos.Perales, que é venezuelano, conta que a primeira pista sobre as substânciasantiofídicas veio da sabedoria popular de seu país. "Na zona rural daVenezuela, as pessoas diziam que o gambá era resistente às picadas, mas nãose sabia como", diz. Conforme as pesquisas progrediram, a equipe descobriuque a resistência não se estende só ao gambá propriamente dito, mas tambémàs cuícas e outros parentes do animal, todos caçadores de cobras, que teriamtido vantagens em desenvolver tais defesas bioquímicas.Ao vasculhar o sangue dos animais em busca das moléculas responsáveis pelaresistência, Perales e seus colegas chegaram a duas substâncias, conhecidascomo DM43 e DM64. São glicoproteínas (grosso modo, proteínas unidas a umaforma de açúcar) e, curiosamente, têm estrutura química parecida com a desubstâncias do sistema de defesa do organismo, embora elas mesmas não sejamanticorpos. Não é impossível que o organismos dos gambás e afins tenhamodificado substâncias já existentes para lidar com o desafio do veneno.Seja como for, a DM43 e a DM64 parecem especificamente talhadas paraneutralizar os principais efeitos do veneno das serpentes da família dasviperídeas, entre as quais se incluem as jararacas. As jararacas e afins sãoresponsáveis por 90% dos 20 mil acidentes anuais com cobras no Brasil. "Assubstâncias são capazes de agir tanto contra o veneno de cobrassul-americanas quanto o de algumas asiáticas", diz Perales. A primeiramolécula contra-ataca a ação das metaloproteases, compostos do veneno quecausam forte hemorragia na vítima, enquanto a outra barra as substâncias quematam as células musculares de quem é picado."Cremos que elas seriam mais eficientes que os soros atuais para inibirtanto a atividade hemorrágica quanto a miotóxica (que afeta os músculos)",diz Perales. Para Ida Sano Martins, que estuda a fisiologia de venenos noInstituto Butantan, em São Paulo, a estratégia poderia vencer algumaslimitações dos soros antiofídicos atuais. "Mas o problema maior é o danocausado localmente logo depois da picada. Não adianta muito tentarneutralizá-lo depois que o tecido já foi alterado", diz.Perales e seus colegas também estão investigando a ação das substânciascontra doenças como o câncer. Motivo: algumas das mesmas moléculas do venenode serpente parecem estar envolvidas nas doenças humanas. Segundo opesquisador, a equipe inclusive pediu patentes sobre algumas dessasaplicações, mas, enquanto o pedido não for aprovado, Perales prefere nãorevelar exatamente do que se trata. (Reinaldo José Lopes/ Folha Online)
Há coisas que só a evolução faz para você. Por décadas os cientistas tiveramde quebrar a cabeça para criar antídotos contra o veneno das cobras. Agora,descobriram que uma solução potencialmente melhor foi "desenvolvida" aolongo de milhões de anos pelos gambás sul-americanos, que se alimentam deserpentes.Pesquisadores da Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz identificaram duasmoléculas no sangue dos gambás que têm essa função antiofídica e esperamutilizá-las não apenas para auxiliar quem sofre acidentes com cobras, mastambém para tratar doenças humanas, como câncer e osteoartrite. "Em testesin vitro, elas foram eficientes contra o câncer de mama, por exemplo",afirma Jonas Perales, do Laboratório de Toxinologia, que coordena osestudos.Perales, que é venezuelano, conta que a primeira pista sobre as substânciasantiofídicas veio da sabedoria popular de seu país. "Na zona rural daVenezuela, as pessoas diziam que o gambá era resistente às picadas, mas nãose sabia como", diz. Conforme as pesquisas progrediram, a equipe descobriuque a resistência não se estende só ao gambá propriamente dito, mas tambémàs cuícas e outros parentes do animal, todos caçadores de cobras, que teriamtido vantagens em desenvolver tais defesas bioquímicas.Ao vasculhar o sangue dos animais em busca das moléculas responsáveis pelaresistência, Perales e seus colegas chegaram a duas substâncias, conhecidascomo DM43 e DM64. São glicoproteínas (grosso modo, proteínas unidas a umaforma de açúcar) e, curiosamente, têm estrutura química parecida com a desubstâncias do sistema de defesa do organismo, embora elas mesmas não sejamanticorpos. Não é impossível que o organismos dos gambás e afins tenhamodificado substâncias já existentes para lidar com o desafio do veneno.Seja como for, a DM43 e a DM64 parecem especificamente talhadas paraneutralizar os principais efeitos do veneno das serpentes da família dasviperídeas, entre as quais se incluem as jararacas. As jararacas e afins sãoresponsáveis por 90% dos 20 mil acidentes anuais com cobras no Brasil. "Assubstâncias são capazes de agir tanto contra o veneno de cobrassul-americanas quanto o de algumas asiáticas", diz Perales. A primeiramolécula contra-ataca a ação das metaloproteases, compostos do veneno quecausam forte hemorragia na vítima, enquanto a outra barra as substâncias quematam as células musculares de quem é picado."Cremos que elas seriam mais eficientes que os soros atuais para inibirtanto a atividade hemorrágica quanto a miotóxica (que afeta os músculos)",diz Perales. Para Ida Sano Martins, que estuda a fisiologia de venenos noInstituto Butantan, em São Paulo, a estratégia poderia vencer algumaslimitações dos soros antiofídicos atuais. "Mas o problema maior é o danocausado localmente logo depois da picada. Não adianta muito tentarneutralizá-lo depois que o tecido já foi alterado", diz.Perales e seus colegas também estão investigando a ação das substânciascontra doenças como o câncer. Motivo: algumas das mesmas moléculas do venenode serpente parecem estar envolvidas nas doenças humanas. Segundo opesquisador, a equipe inclusive pediu patentes sobre algumas dessasaplicações, mas, enquanto o pedido não for aprovado, Perales prefere nãorevelar exatamente do que se trata. (Reinaldo José Lopes/ Folha Online)
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