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19 de fev. de 2016

Uganda: Por que o berço do zika nunca teve nenhum surto?


  • 18 fevereiro 2016
   
(BBC)
Image caption Segundo virologista Julius Lutwama, tipo de Aedes encontrado no país prefere animais a humanos; mutação pode estar relacionada a desmatamento
Apesar de ter sido isolado pela primeira vez por cientistas no final da década de 40, o zika vírus ─ transmitido pelo mosquito Aedes aegypti ─ nunca se tornou uma epidemia em Uganda, onde foi descoberto no sangue de macacos.
Ali, na floresta de Zika, na região central do país, o vírus adquiriu contornos diferentes do que no Brasil, que vive atualmente um surto da doença.
Segundo o Ministério da Saúde, já são mais de 70 mil notificações em 19 Estados brasileiros. O vírus também vem sendo associado ao aumento do número de casos de microcefalia ─ uma má-formação cerebral em fetos ─ com 508 casos confirmados e outros 3.935 suspeitos sendo investigados.
Mas, em Uganda, tampouco houve registros de má-formações congênitas.
Além disso, entre 1947 a 2007, quando foi registrado o primeiro surto de zika fora da Ásia e da África (nas Ilhas Yap, na Micronésia), foram apenas 14 casos confirmados no mundo.
O que explica então a ausência de um surto de zika no país africano?
 

Motivos

Segundo Julius Lutwama, principal virologista do Instituto de Uganda de Pesquisa de Vírus (Urvi, na sigla em inglês), o motivo se deve, em grande parte, ao tipo de Aedes aegypti encontrado em Uganda.
"Em Uganda, a subespécie de Aedes aegypti que temos ─ o Aedes aegypti formosus ─ é diferente da daquela encontrada na América do Sul, o Aedes aegypti aegypti. O mosquito daqui pica mais animais do que humanos", explica ele à BBC Brasil.
"Esse mosquito vive na floresta e costuma se alimentar à noite. Mesmo que um ser humano seja picado e venha a desenvolver a doença, a probabilidade de ela se alastrar é baixa, por causa da ausência do vetor nas áreas urbanas. Ou seja, se não há mosquitos para espalhar o vírus, dificilmente haverá uma epidemia", acrescenta.
Outro fator, destaca Lutwama, envolve características geográficas e climáticas de Uganda.
Segundo ele, diferentemente de outros locais que enfrentaram surtos de zika, o país manteve suas florestas razoavelmente intactas, preservando o habitat natural do mosquito.
(Getty)Image copyright Getty
Image caption Já são mais de 70 notificações de zika no Brasil
"Esse mosquito vive predominantemente nas florestas. Com o desmatamento, acreditamos que ele tenha migrado para as zonas urbanas e evoluído, passando a se alimentar do sangue de seres humanos", diz ele.
Nesse sentido, a forte predominância de chuvas, típicas do clima de Uganda, também teria contribuído para evitar uma epidemia da doença.
"Aqui em Uganda chove muito e, por isso, a população não costuma armazenar água em casa", argumenta.
"Mas nos países africanos que desmataram suas florestas, como no oeste da África, por exemplo, o mosquito migrou para as áreas urbanas e acabou encontrando um ambiente perfeito, pois precisa de água parada para se reproduzir".
Lutwama diz acreditar ainda que a população ugandense teria desenvolvido imunidade à doença, devido a "diferentes flavivírus" (vírus transmitidos por carrapatos e mosquitos) encontrados na região, como dengue, chikungunya e O'nyong'nyong, todos transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti.
"Como temos outras doenças muito semelhantes ao zika, como dengue, chikungunya e O'nyong'nyong, acredito que possa ter havido algum tipo de imunidade cruzada. Dessa forma, quem já contraiu algum desses vírus, teria menor vulnerabilidade a uma nova infecção", observa.
E devido ao baixo número de casos da doença em Uganda, acrescenta Lutwama, não foi possível estabelecer nenhuma relação entre o vírus e a microcefalia.
"Diferentemente do Brasil, não temos um número suficiente de casos de zika para comprovar qualquer associação entre o vírus e essa má-formação congênita em fetos", afirma.

Brasil

BBC
Image caption Julius Lutwama é principal pesquisador do Instituto de Uganda de Pesquisa de Vírus (Urvi, na sigla em inglês)
Principal pesquisador do Uvri, instituto criado em 1936 com financiamento da Fundação Rockefeller, dos Estados Unidos, Lutwama diz que ele e sua equipe vêm realizando um trabalho de prevenção para evitar que a subespécie latino-americana se espalhe em Uganda.
"Coletamos e monitoramos amostras de sangue de pacientes de todo o país. São medidas preventivas importantes", assinala ele.
Lutwama cita o caso dos Estados Unidos, onde o Aedes aegypti ─ virtualmente inexistente há alguns anos ─ já é encontrado em regiões com temperaturas mais amenas, como o Estado da Flórida.

Institutos do Rio montam ‘exército’ contra síndrome neurológica ligada ao zika

  • 18 fevereiro 2016
Paciente - El Salvador GettyImage copyright AFP
Image caption Paciente com a Síndrome de Guillain-Barré em El Salvador, um dos países atingidos pela doença na América Latina
O Instituto Oswaldo Cruz e a Universidade Federal Fluminense (UFF) trabalharão a partir desta semana num grande esforço conjunto unindo laboratórios e pesquisadores das duas instituições com o objetivo de estudar a síndrome Guillain-Barré.
Reação do sistema imune a agentes externos que pode levar a paralisia e até à morte, a doença tem registrado aumento em diferentes Estados e, segundo especialistas e o Ministério da Saúde, a elevação pode estar relacionada ao zika vírus.
Entre seus sintomas estão fraqueza muscular e a paralisia dos músculos, que começam pelas pernas e podem progredir ao tronco, braços e face. Em alguns casos, há a paralisia total dos membros ou efeitos graves sobre os músculos respiratórios.
A notificação de casos de Guillain-Barré ainda não é obrigatória no Brasil, o que torna difícil obter dados nacionais. No entanto, números isolados que têm sido divulgados dão uma ideia da crescente gravidade do problema.
O Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF, em Niterói (RJ), não costumava receber mais de cinco casos da doença por ano, mas somente em janeiro já recebeu 16. Na Bahia, a Secretaria de Saúde estadual divulgou no final do ano passado um boletim registrando 35 casos apenas entre julho e novembro de 2015.
E no Estado de Alagoas, um hospital de Maceió, a Santa Casa do Farol, tem atendido um número crescente de pessoas com a doença. "Em 2014 atendemos somente 14 casos em todo o ano. Já em 2015 foram mais de 50, e desde o início de 2016 já foram mais 14 casos", diz o hematologista Wellington Galvão.
Diante disso e da preocupação em torno das complicações causadas pela doença, entre elas danos neurológicos e diferentes graus de paralisia muscular, o Instituto Oswaldo Cruz e o Neuro UPC, Unidade de Pesquisa Clínica em Neurologia da UFF, trabalharão em parceria em um novo projeto de pesquisa focado na síndrome.
"O estudo envolvendo os departamentos de imunologia e genômica do Oswaldo Cruz é uma cooperação de pesquisa para que possamos entender melhor por que surgem essas complicações, como melhor tratá-las e, principalmente, preveni-las", diz o neurologista Osvaldo Nascimento, coordenador do Neuro UPC e responsável pelo atendimento dos pacientes de Guillain-Barré no Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF, referência nacional em neuropatias periféricas.
Com 44 anos de carreira, Nascimento é um dos principais nomes do tratamento de Guillain-Barré no Brasil. Ele diz que a cooperação deve contar ainda com colaborações da equipe do laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, chefiado pelo virologista Amílcar Tanuri, e um centro de referência em Guillain-Barré da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
Para ele, a iniciativa deve reunir um "verdadeiro exército" de pesquisadores, no que classifica como "um esforço inédito de pesquisa focado na Guillain-Barré no Brasil".
"O que vamos fazer a partir de agora é montar um verdadeiro ‘exército’ de pesquisa contra a Guillain-Barré no país. Sem dúvida nenhuma é algo que nunca foi feito antes", explica.
O Instituto Oswaldo Cruz confirmou à BBC Brasil a cooperação, que ocorrerá por intermédio do seu Laboratório de Pesquisas sobre o Timo (IOC/Fiocruz).

Financiamento e objetivos

Para Nascimento, ainda não é possível estimar o número exato de pesquisadores que estará envolvido no trabalho nem o montante de recursos necessários para que a iniciativa atinja os objetivos a contento.
"Agora vamos dar início aos trabalhos e correr atrás do financiamento com o Governo Federal", diz.
O especialista afirma que além das verbas e recursos para financiar os esforços de pesquisa, é preciso investir no aumento do número de leitos do CTI do Hospital Antônio Pedro, que é federal, além da contratação de neurologistas clínicos para dar suporte à demanda crescente de pacientes e elevação da capacidade da emergência do hospital para lidar com pessoas com complicações do zika vírus.
Zika ReutersImage copyright Reuters
Image caption Especialistas querem entender melhor relação entre zika vírus e aumento de casos da Síndrome de Guillain-Barré
"Nos Estados Unidos investem-se bilhões. Aqui falta investimento em equipamentos e insumos, e vamos ter que pleitear isso. Teremos que contar com verbas e condições suficientes para tornar o Antônio Pedro, que abriga o centro de referência em neuropatias periféricas, um hospital sentinela capaz de atender essa nova demanda", explica.
Nascimento diz que o Núcleo UPC compreende 16 laboratórios e 18 neurologistas especializados e que as áreas estudadas incluirão imunologia e genômica, com o objetivo de mapear melhor as manifestações neurológicas da Guillain-Barré e outras neuropatias.
Um dos atuais desafios dos médicos que deve ter avanços com os futuros resultados do estudo é o diagnóstico da doença, tido como complexo e difícil, e que costuma levar pacientes de hospital a hospital até que se conclua que o quadro é de Guillain-Barré, o que atrasa o início do tratamento.
"Um dos principais problemas é o diagnóstico. Os médicos confundem muito, o que torna mais difícil tratar essas pessoas. Há mais de 30 doenças que podem ser confundidas com a Guillain-Barré", explica Nascimento.

Notificação, zika e tratamento

A ausência de notificação obrigatória no Brasil dificulta o mapeamento de casos por todo o país.
Consultado pela BBC Brasil, o Ministério da Saúde confirmou uma elevação do número de internações por Guillain-Barré de 29,8% de 2014 para 2015, um aumento de 1.439 para 1.868 casos.
Os Estados de Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro registram o maior número de casos.
Sobre a relação com o zika vírus, algo que os especialistas querem entender melhor, o Ministério da Saúde se posicionou em nota confirmando que a infecção pelo pelo zika pode provocar também a Guillain-Barré.
"No Brasil, a ocorrência de síndromes neurológicas relacionadas ao zika foi confirmada após investigações conduzidas em Pernambuco, a partir da identificação do vírus em amostras, de seis pacientes com sintomas neurológicos com histórico de doença exantemática. Deste total, quatro foram confirmadas com doença de Guillain-Barré", diz o documento.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) reconhece a coincidência "espaço-temporal" entre surtos de zika e a incidência da síndrome, mas, diante da escassez de dados, ainda não estabelece um vínculo direto entre as doenças.
Segundo o comunicado do Ministério da Saúde, o principal risco provocado pela Guillain-Barré é quando ocorre o acometimento dos músculos respiratórios, devido à dificuldade para respirar. "Nesse último caso, a síndrome pode levar à morte, caso não sejam adotadas as medidas de suporte respiratório", diz a nota.
A doença não tem uma cura específica, e os tratamentos são voltados a reduzir a gravidade dos sintomas.
Procedimentos usados na fase mais aguda da doença são a imunoterapia com troca de plasma – para bloquear os anticorpos que atacam as células nervosas – e a administração de imunoglobulina, um anticorpo.
A maior parte das pessoas sobrevive e se recupera por completo. Esse processo, contudo, pode levar semanas ou meses, e a síndrome pode provocar deficiências que demandam reabilitação.

17 de fev. de 2016

Slides - INTERAÇÕES ESCOLÓGICAS

Queridos alunos no CEI MIRASSOL, aqui está o link para os slides da aula de hoje,Forte abraço!
Katia Queiroz




http://pt.slideshare.net/profkatiaqueiroz/aularelaesecolgicas-120313120118-phpapp01-1http://pt.slideshare.net/profkatiaqueiroz/aularelaesecolgicas-120313120118-phpapp01-1

15 de fev. de 2016

Por que algumas pessoas ficam carecas?


  • 14 fevereiro 2016
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Image captionOs cientistas japoneses descobriram a causa, mas ainda não há cura para a calvície
A situação é conhecida por muitos: a quantidade de cabelos que fica na escova ou no pente começa a ficar maior do que a que está na cabeça e aí a pessoa começa a temer a calvície.
Não há uma cura e talvez o mais injusto é que este é um sinal de envelhecimento que não atinge a todos.
Mas a ciência parece estar mais próxima de uma solução pois pela primeira vez foi detectado o mecanismo desencadeado pelo envelhecimento e que faz com que o cabelo fique mais fino e, com o passar do tempo, caia.
As pesquisas sugerem que as culpadas são as células-tronco dos folículos capilares. Quando estas células ficam danificadas devido ao envelhecimento, elas se transformam em pele.
Com o tempo cada vez mais células-tronco se transformam até que os folículos capilares se encolhem e desaparecem.
Ao contrário das células-tronco de outras partes do corpo, as do cabelo se regeneram em ciclos: uma fase de crescimento é seguida por uma latente, na qual deixam de produzir cabelo.

DNA e colágeno

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Image captionPesquisadores japoneses descobriram a causa nas células-tronco dos folículos capilares
A descoberta foi feita por Emi Nishimura e sua equipe na Faculdade de Medicina da Universidade de Tóquio, no Japão.
De acordo com o estudo o DNA danificado pela idade desencadeia a destruição da proteína colágeno 17A1 o que, por sua vez, gera a transformação das células em queratinócitos, células predominantes na pele.
Para chegar a estes resultados, publicados na revista especializada Science, os cientistas primeiro estudaram o comportamento do cabelo em ratos e depois em humanos de idades entre 22 e 70 anos.
Os pesquisadores descobriram que os folículos das pessoas com mais de 55 anos de idade eram menores e tinham menos colágeno 17A1.
"Assumimos que estes processos e mecanismo explicam a perda de cabelo em humanos pelo envelhecimento", disse Nishimura.
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Image captionAntes da calvície vem o enfraquecimento do cabelo
A especialista acrescenta que o colágeno 17A1 pode ser usado para desenvolver tratamentos contra a calvície. Mas também afirmou que a transformação das células-tronco pode ser apenas um dos fatores que leva uma pessoa a ficar careca.
O estudo se concentrou na calvície que ocorre com o envelhecimento. Mas existem outras razões para a perda dos cabelos como infecções no couro cabeludo, traumas ou doenças autoimunes.
Comentando a pesquisa japonesa, o biólogo Maksim Plikus, da Universidade da Califórnia, afirmou na revista Science que os resultados do trabalho são "interessantes" pois mostram como estas células danificadas "mudam seu destino" ao invés de serem destruídas.

Entidade diz ter sido mal interpretada e nega ligação entre microcefalia e larvicida


  • Há 8 horas
(Foto: Percio Campos/EPA)Image copyrightEPA
Image captionLarvicida citado em nota técnica mal-interpretada não é usado em água potável no Recife
A ideia de que o uso de um larvicida na água para o combate ao Aedes aegypti estaria por trás da epidemia de microcefalia no país ganhou as redes sociais nos últimos dias. Mas teve origem em um mal-entendido, segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
No final da semana passada, reportagens em inglês de blogs ambientalistas atribuíam a "médicos argentinos e brasileiros" a afirmação de que a substância pyriproxifen, aprovada pela Anvisa, teria sido a causadora da má-formação em bebês – que vem sendo associada ao zika vírus.
Os compartilhamentos nas redes sociais levaram a reportagens citando o "estudo argentino", na verdade um relatório da Rede Universitária de Ambiente e Saúde (Reduas) – uma associação de médicos e professores universitários contra agrotóxicos – que citava de maneira incorreta uma nota técnica da Abrasco sobre os métodos de combate ao mosquito que transmite o zika.
Em nota à BBC Brasil, a associação esclareceu que "em momento nenhum afirmou que os pesticidas, larvicidas ou outro produto químico sejam responsáveis pelo aumento do número de casos de microcefalia no Brasil". O que a nota da entidade dizia é que ela considera perigoso que o controle do mosquito seja feito principalmente com larvicidas.
"É sabido que um cenário de incerteza como este provoca insegurança na população e é terreno fértil para a disseminação de inverdades e de conteúdos sem qualquer (ou suficiente) embasamento científico. A Abrasco repudia tal comportamento, que desrespeita a angústia e o sofrimento das pessoas em situação mais vulnerável, e solicita prudência aos pesquisadores e à imprensa neste grave momento, pois todas as hipóteses devem ser investigadas antes de negá-las ou de confirmá-las", afirma o comunicado.
A repercussão do mal-entendido fez com que o governo do Rio Grande do Sul suspendesse oficialmente o uso do larvicida na água potável. Na noite de domingo, uma alteração no verbete sobre o produto na enciclopédia virtual Wikipedia já afirmava que ele era apontado como uma das causas das malformações registradas recentemente no país.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que "não existe nenhum estudo epidemiológico que comprove a associação do uso de pyriproxifen e a microcefalia" e que a substância foi aprovada para o uso pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pela Anvisa.
Entenda os principais pontos da controvérsia.
Image copyrightGetty

Sem provas

A nota técnica divulgada pela Abrasco em seu site criticava o investimento do Ministério da Saúde em larvicidas potentes no combate ao Aedes aegypti e afirmava que eles podem comprometer a potabilidade da água armazenada pela população brasileira, especialmente a de baixa renda.
Entre eles, está o pyriproxifen, que pode causar más-formações no mosquito e impedir que ele passe à fase adulta. Desde 2014, o uso do larvicida é recomendado "em situações especiais, onde há necessidade de armazenamento de água e os depósitos não podem ser protegidos fisicamente", segundo o Ministério da Saúde.
No entanto, não há artigos científicos que comprovem que o pyriproxifen possa causar malformações em humanos, nem em outros animais, segundo o diretor de Controle de Doenças e Agravos da Secretaria de Saúde de Pernambuco, George Dimech.
Em entrevista à BBC Brasil, por telefone, ele afirmou ainda que Recife – a cidade com o maior número de casos notificados e confirmados do Estado – não usa o pyriproxifen e, sim, um larvicida biológico, o BTI.
"Há lugares onde se usa o pyriproxifen e não há casos de microcefalia. E também lugares em que não se usa esse larvicida, mas há muitos casos, como Recife", explica.
"Essa falta de correlação espacial enfraquece a ideia de que o larvicida causaria o problema."
Pesquisadores à frente das investigações sobre a epidemia em Pernambuco também ressaltam que não há comprovação clínica, até o momento, de que algum tipo de envenenamento ambiental seria a causa do problema.
"Clinicamente, as alterações que vemos nas tomografias dos bebês sugerem que as lesões foram provocadas por infecção congênita e não por larvicida, drogas ou vacina", disse à BBC Brasil a neuropediatra Vanessa van der Linden.
À BBC Brasil, o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo dos Reis, disse que por precaução o Estado continuará proibindo o uso do pyriproxifen em água potável – ele ainda poderá ser usado na água para outros fins.
"Optamos em mudar a estratégia porque existem outros mecanismos para a segurança da água potável que não seja o uso desses elementos químicos. No Rio Grande do Sul isso é possível porque o número de residências em que não há distribuição de água tratada é pequeno, então podemos fazer com que essas residências façam mecanicamente este controle. Por que usaríamos um larvicida?", disse.
Em seu comunicado, a Abrasco disse que "apoia decisões pautadas pelo princípio da precaução, como a suspensão do uso do larvicida pyriproxyfen, e reafirma que as ações de combate ao vetor nas últimas décadas têm se mostrado inefetivas, posto o contínuo crescimento do número de casos das doenças transmitidas pelo mosquito".

Outros países

O relatório da associação argentina Reduas, citado em reportagens e artigos de blogs, diz que o zika vírus não causou más-formações em outros países onde ocorreram epidemias.
Na verdade, a Polinésia Francesa, que teve um surto do vírus em 2013 e 2014,registrou um aumento no número de casos de microcefalia e também da síndrome de Guillain-Barré, que vem sendo associada ao vírus no Brasil e em outros países latino-americanos.
A nota da Reduas também afirma que "não há microcefalia na Colômbia", que já notificou mais de 3 mil mulheres grávidas com sintomas do zika vírus, mas nenhum caso da deformidade.
Mas o médico pernambucano Carlos Brito – pesquisador da Fiocruz de Pernambuco e o primeiro a chamar a atenção para uma possível associação entre zika e microcefalia – diz que é cedo para afirmar que o país vizinho não terá bebês afetados.
"Ainda não dá pra dizer que não há microcefalia na Colômbia. É preciso avaliar os dados. Estou indo para a Colômbia em missão para acompanhar a situação", afirma.
"O surgimento da microcefalia depende do momento da epidemia e não só da entrada do vírus num local. O vírus chegou à Paraíba e a Pernambuco em dezembro e só virou epidemia mais ou menos em abril. É nesse momento que as gestantes se expõem."
Image copyrightAP
Image captionFalta de respostas definitivas sobre os novos casos de microcefalia abre espaço para teorias de pouca comprovação científica

Investigação científica x incertezas

A falta de respostas definitivas sobre a natureza dos novos casos de microcefalia no Brasil dá espaço para que teorias com pouca comprovação se espalhem com a ajuda das redes sociais, segundo Brito.
Mas o pesquisador ressalta que uma investigação científica rigorosa sobre o problema está em curso no Brasil desde que foi detectado o aumento de notificações da má-formação em Pernambuco, em setembro de 2015.
Atualmente, a investigação conta com a participação da OMS e da Agência de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). Até agora, as principais descobertas foram:
  • Em novembro, a Fiocruz encontrou o zika vírus no líquido amniótico de duas grávidas cujos bebês tinham microcefalia diagnosticada ainda no útero. No mesmo mês, exames em um bebê microcéfalo que nasceu morto no Ceará revelaram a presença do vírus no tecido cerebral.
  • Em janeiro, o CDC afirmou ter encontrado o vírus também no cérebro de mais dois bebês nascidos mortos no Rio Grande do Norte e na placenta de duas mulheres que tiveram abortos espontâneos de fetos com microcefalia. Um estudo realizado na Eslovênia encontrou também o zika no cérebro de um feto cuja mãe engravidou no Brasil e optou por interromper a gestação no país, após o diagnóstico da má-formação.
  • E no início de fevereiro, a Fiocruz em Pernambuco comprovou que os 12 primeiros bebês examinados no início da epidemia de microcefalia tinham anticorpos para o zika vírus no líquor, o líquido que circula em seu sistema nervoso central.
"Encontramos os anticorpos IGM, que não são passados da mãe para a criança. Isso quer dizer que eles foram produzidos no cérebro da criança infectada pelo vírus. Essa é uma prova inequívoca de que as crianças foram infectadas", afirma Carlos Brito.
A OMS afirma que ainda não é possível afirmar sem sombra de dúvidas a relação de causalidade entre o vírus e a má-formação, mas, para o pesquisador, a associação já é "uma página virada".
"Ninguém está inventado a roda, não. Claro que ter mais casos ajuda na comprovação, mas estamos usando o mesmo modelo que usamos para associar a toxoplasmose, o citomegalovírus e a rubéola com a microcefalia", afirma.
Ele admite, no entanto, que ainda faltam muitas respostas sobre como exatamente o vírus agiria nos bebês. Especialistas em medicina baseada em evidência apontam para a possibilidade de que um "terceiro fator" tenha sido importante para a ocorrência da microcefalia.
"De fato, já vimos que não depende só de ter o vírus. Pode-se ter o vírus e não obrigatoriamente ter a microcefalia, é o que acontece com grande parte das mães. Agora precisamos saber: será que tem a ver com a fase da gestação? É a defesa do indivíduo que faz com que algumas mães tenham e outras não? Seria um fator socioeconômico, talvez o estado nutricional das mães?", diz Brito.
Segundo ele, a possibilidade de interação do vírus com outros fatores tem sido objeto de estudos, mas é preciso ter cuidado com afirmações sem embasamento.
"Uma organização científica de qualquer lugar tem que ter responsabilidade. A comunidade científica está precisando ler um pouco mais", diz.
"Especialmente por causa da população. Tenho mães que me mandam (mensagens de) WhatsApp em polvorosa toda vez que aparece algo assim."

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