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5 de fev. de 2019

Como aplicativos e gadgets de saúde podem trabalhar contra você Fernando Duarte BBC

Relógio com aplicativo de saúde que mostra batimentos cardíacosDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA estimativa é que existam mais de 200 mil aplicativos de saúde disponíveis
Saúde digital é um grande negócio.
Trata-se de usar a tecnologia para ajudar na prestação de serviços de saúde, incluindo o uso de aplicativos, dispositivos e microchips implantados.
A expectativa é que este mercado atinja a cifra de US$ 379 bilhões (cerca de R$ 1,4 trilhão) em todo o mundo até 2024, ante os US$ 71,4 bilhões (R$ 274 bilhões) movimentados em 2017, segundo a consultoria Global Market Insights.
Mas essa expansão alimenta preocupações de que a mesma tecnologia que promete melhorar a vida dos usuários também possa ser usada contra eles.
Estima-se que mais de 200 mil aplicativos de saúde para dispositivos móveis estejam disponíveis no Google Play e na Apple Store.
"Por meio de sensores, dispositivos de rastreamento e outras ferramentas de coleta de dados, temos a capacidade de identificar tendências, anomalias ou outros fatores ambientais ou físicos que podem afetar a forma como tratamos doenças e, então, melhorar a vida das pessoas", diz John Bardi, vice-presidente de desenvolvimento de negócios em medicina digital da empresa farmacêutica Otsuka.
"Mas com essa promessa vem uma enorme responsabilidade."
As questões vão de ética a segurança de dados. Entenda como esses aplicativos de saúde poderiam acabar trabalhando "contra" você.

1. Você pode acabar pagando mais pelo seguro de vida

Em setembro de 2018, John Hancock, uma das maiores e mais antigas companhias de seguros da América do Norte, levantou uma polêmica.
A empresa anunciou uma mudança em suas políticas "interativas" - aquelas que rastreiam dados de saúde e hábitos esportivos de seus clientes por meio de dispositivos portáteis e smartphones.
Em seguida, eles passaram a recompensar com descontos e recompensas os clientes que adotam estilos de vida mais saudáveis, baseando-se em estatísticas que mostram que os que aderiam a apólices interativas viviam de 13 a 21 anos mais do que outros segurados.
Homem usa máquina de respiraçãoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPessoas com problemas respiratórios precisam de máquinas que são caras e que os sistemas de saúde pública nem sempre fornecem
Mas especialistas em seguros dizem que a decisão pode levar seguradoras a usarem os dados de rastreamento para punir clientes que não cumprirem as metas - incluindo a cobrança de preços mais altos de pessoas que optam por não adotar apólices interativas.
"Naturalmente, o estado de vigilância distópico americano combinará com essa modalidade de seguro. Bem-vindo ao inferno", disse Matt Stoller, do Instituto de Mercados Abertos, em entrevista à BBC em setembro.
A John Hancock argumenta, contudo, que a modalidade de apólices interativas foi impulsionada pela demanda dos próprios clientes - o uso do rastreamento de dados de saúde aumentou mais de 700% nos últimos três anos, de acordo com a empresa.
"Durante séculos, o modelo de seguro forneceu principalmente proteção financeira para as famílias após a morte, sem aumentar a qualidade de vida", disse Marianne Harrison, presidente e CEO da John Hancock, em comunicado.
"Acreditamos fundamentalmente que as seguradoras de vida devem se preocupar com o tempo e em quão bem seus clientes vivem. Com essa decisão, estamos orgulhosos de nos tornarmos a única companhia de seguro de vida dos EUA a adotar plenamente o bem-estar comportamental e deixar para trás o antigo modo de fazer negócios."

2. Seu dispositivo pode estar espionando você

As máquinas de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP, na sigla em inglês) são usadas por milhões de pessoas que têm problemas respiratórios, como a apneia do sono.
Elas são caras e nem sempre são fornecidas pelos sistemas públicos de saúde.
Buscas em inglês sobre doençasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNa internet há muita informação sobre doenças, consultadas a todo momento
Em novembro, uma investigação da rádio americana NPR descobriu que algumas empresas de seguro de saúde estavam fornecendo dispositivos de CPAP interativos que enviavam dados de uso dos pacientes para que essas empresas pudessem, eventualmente, negar cobertura de equipamentos para usuários indisciplinados.
Mas o alemão especialista em dados Christian Bennefeld adverte que as empresas não precisam nem chegar a esse ponto para monitorar as pessoas.
Um estudo realizado por sua empresa, a eBlocker, encomendado por um jornal suíço, descobriu que os sites do setor de saúde já "espionam" a atividade de navegação dos clientes graças aos programas de rastreamento da internet.
Uma das empresas tinha 33 tipos diferentes de rastreadores.
"O problema aqui é que muitos usuários não sabem que esta informação está sendo monitorada, mesmo quando eles acessam um site médico em busca de conselhos ou fazem buscas por termos como câncer, por exemplo", disse Bennefeld à BBC.

3. Você pode ficar tentado a se autodiagnosticar

Informações sobre sintomas e doenças estão disponíveis gratuitamente na internet há décadas.
Desenho representa uso de aplicativos de saúdeDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionHá dúvidas sobre a segurança dos dados de saúde obtidos por meio dos aplicativos de saúde
Mas a chegada de uma tecnologia mais sofisticada disponibilizou uma gama de ferramentas que permite aos pacientes fazerem a varredura de si mesmos e mesmo testes genéticos sob demanda.
Até órgãos públicos, como o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês), criaram aplicativos com assistentes virtuais a fim de ajudar a filtrar consultas médicas em momentos de escassez de profissionais de saúde.
No entanto, um estudo de 2016 da Royal Pharmaceutical Society mostrou que mais da metade dos adultos britânicos usam a internet em vez de visitar um médico. Além disso, uma pesquisa realizada pela empresa Mintel descobriu no mesmo ano que um número crescente de pessoas mais jovens era mais propensa a confiar em informações online - de aplicativos de saúde a redes sociais até o "Dr. Google" - do que nos próprios médicos ou farmacêuticos.
Isso ocorre mesmo com as frequentes advertências das autoridades de saúde, como uma análise de 23 sites relacionados à saúde feita pelo British Medical Journal. A pesquisa descobriu que os sites davam um diagnóstico correto em apenas 34% dos casos.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-46967790

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