A aplicação de estímulos elétricos de alta frequência no
cérebro poderia aumentar as habilidades matemáticas de uma pessoa por até seis
meses, segundo pesquisadores da Universidade de Oxford.
Essas foram as conclusões de um estudo publicado na revista Current
Biology que defende que tal efeito é conseguido por meio de uma técnica
conhecida em inglês como "transcranial random noise stimulation", ou
TRNS (algo como "estimulação transcraniana por ruído difuso").
Segundo seus coordenadores, tal técnica poderia ajudar quem sofre de doenças
neurodegenerativas, teve um acidente vascular cerebral ou tem dificuldade de
aprendizagem.
Estima-se que de 5% a 7% da população sofra de um distúrbio de aprendizagem
conhecido como discalculia, que dificulta a realização de cálculos aritméticos.
De acordo com os pesquisadores de Oxford, os portadores de tal distúrbio estão
entre os que poderiam se beneficiar dessa nova técnica de estimulação
cerebral.
A TRNS consiste na aplicação de estímulos elétricos em áreas específicas do
cérebro por meio de eletrodos colocados sobre o couro cabeludo. De acordo com os
coordenadores do estudo, trata-se de um método relativamente novo, indolor e não
invasivo.
Testes
Para testar os efeitos da técnica, 51 estudantes da Universidade de Oxford
foram divididos em dois grupos e, por cinco dias, submetidos a exames de
aritmética que testaram sua habilidade de fazer cálculos e memorizar números. Um
dos grupos recebeu estimulação por TRNS e o outro não.
Não houve diferenças significativa no desempenho dos dois grupos logo no
início do estudo, mas com a TRNS, o primeiro grupo acabou melhorando
sistematicamente sua performance ao longo dos cinco dias.
Além disso, seis meses mais tarde, quando os participantes do estudo foram
avaliados novamente, o grupo que havia sido submetido ao tratamento de TRNS
continuou a ter "um desempenho superior".
"(Nos indivíduos que receberam o estímulo), o desempenho em ambas as tarefas
de cálculo e de memorização melhorou ao longo desses cinco dias - e as melhorias
foram mantidas por até seis meses após o experimento", disse Roi Cohen Kadosh,
coordenador do estudo e pesquisador do departamento de psicologia experimental
da Universidade de Oxford.
"Também fizemos imagens dos cérebros (dos participantes do estudo) que
sugerem que a TRNS aumenta a eficiência com a qual algumas áreas cerebrais usam
seus suprimentos de oxigênio e nutrientes."
Em um estudo anterior, Kadosh e seus colegas haviam mostrado que um outro
tipo de estimulação cerebral poderia melhorar a capacidade das pessoas
memorizarem novos números.
Segundo o pesquisador, a diferença é que a TRNS também melhora a capacidade
dos que recebem o estímulo para somar, subtrair ou multiplicar uma sequência de
números.
Ressalva
Kadosh diz que é importante identificar eventuais desvantagens desta e de
outras formas de estimulação elétrica transcraniana, garantindo, por exemplo,
que estimular uma capacidade cognitiva não cause danos em outras.
Para Michael Proulx, professor de psicologia na Universidade de Bath, os
resultados do estudo são de grande importância e podem ter um impacto prático
significativo.
"(Tal estudo) reforça a ideia de que a estimulação do cérebro pode contribuir
para o treinamento cognitivo. (A TRNS) não se trata de uma panaceia que faz o
cérebro funcionar melhor de maneira geral, mas sim de uma técnica que ajuda a
reforçar os esforços de aprendizagem", diz Proulx.
BBC
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