Um cientista aperta o botão start, e uma radiação fortíssima, 30 mil
vezes maior que o campo magnético da Terra, atravessa duas pessoas
deitadas na sala ao lado. Nos átomos delas, alguma coisa acontece:
empurrados pela força, os prótons mudam de alinhamento e emitem sinais
eletromagnéticos, captados por sensores ligados a um computador. Alguns
minutos depois, as cobaias recebem a ordem final: “Ok, podem gozar”. Um
homem e uma mulher acabam de transar, pela primeira vez na história,
dentro de um aparelho de ressonância magnética (como ele é muito
apertado, foi preciso recrutar um casal de acrobatas). E a ciência
consegue ver, como jamais havia sido possível, o que realmente acontece
no corpo humano durante o ato sexual. O fisiologista Pek van Andel
constatou que o pênis é cerca de 6 centímetros mais comprido do que
parece (pois parte dele fica escondida dentro do corpo) e que, ao
penetrar a mulher, ele fica com formato de bumerangue. Por essas
descobertas “geniais”, ganhou o Prêmio Ig Nobel – paródia do Prêmio
Nobel que contempla as descobertas mais estapafúrdias da ciência. Os
cientistas do sexo nem sempre sabem direito o que estão procurando, mas
às vezes encontram coisas incríveis: a última descoberta da ciência
sexual é uma máquina que promete orgasmos infinitos, e praticamente
instantâneos, ao toque de um botão. Gostou? Então relaxe, fique à
vontade, e vamos começar as preliminares.
O colecionador de vaginas
Não é de hoje que a ciência faz experiências radicais para entender
melhor o ato sexual. O pioneiro da sexologia moderna foi o médico
americano Robert Latou Dickinson. Em 1890, uma época extremamente
puritana (os ginecologistas evitavam olhar para a vagina das pacientes),
ele deu um show de ousadia: usando tubos de ensaio e uma lanterna, foi o
primeiro a medir com precisão todos os ângulos e tamanhos do órgão
sexual feminino. Com os dados, criou um acervo de 102 modelos que
representam a vagina e seus componentes nas mais variadas formas e
estados. Pode parecer coisa de tarado, mas também é ciência. Dickinson
criou uma teoria anatômica do orgasmo, defendendo cientificamente a
posição em que a mulher poderia obter mais prazer durante o ato sexual
(resposta: sentada por cima do homem).
O trabalho dele inspirou o biólogo Alfred Kinsey, que entre 1947 e
1953 entrevistou 18 mil pessoas para escrever dois livros, os Relatórios
Kinsey, que são considerados um marco da sexologia. Eles descrevem, com
um grau de detalhes inédito, os hábitos e as preferências das pessoas
na cama. As revelações caíram como uma bomba nos EUA, mas a grande
descoberta de Kinsey foi outra. Examinando gagos, amputados e pessoas
com paralisia cerebral, ele percebeu que, durante o sexo, as
deficiências motoras podem ser temporariamente ignoradas pelo cérebro:
gagos perdem a gagueira, amputados deixam de sentir os membros fantasmas
e cessam os espasmos musculares que atormentam as pessoas com paralisia
cerebral. Como é possível? Sem acesso às técnicas de mapeamento do
cérebro que existem hoje em dia, Kinsey arriscou uma explicação
evolutiva: durante o sexo, várias regiões do cérebro são desativadas
para eliminar as “distrações” cognitivas e aumentar as chances de uma
transa bem-sucedida, que vai até o fim e cumpre sua missão na Terra –
produzir descendentes.
A idéia foi confirmada nos anos 90, quando cientistas holandeses
constataram forte desaceleração no córtex orbitofrontal (ligado ao
raciocínio e à ansiedade) e nos lobos temporais (que controlam a memória
e a fala) quando as pessoas estão transando.
O grande problema é que, empolgado com suas pesquisas, Kinsey e
equipe deixaram os questionários de lado e partiram para a ação: eles
começaram a promover, no porão da casa do biólogo, sessões de
masturbação, sexo hetero e homossexual, masoquismo e surubas em geral,
tudo filmado para posterior análise. Foi demais para a sociedade da
época, que já achava os sexólogos pervertidos e imorais. Para driblar o
preconceito, nos anos 60 os pesquisadores William Masters e Virginia
Johnson mudaram o foco da sexologia. Eles adotaram uma terminologia mais
sóbria – um casal transando era chamado de “unidade reagente”, e
atingir o orgasmo era “completar o ciclo de resposta sexual” – e levaram
o sexo para o laboratório, cercando-o de tecnologia.
Enquanto observavam casais, prostitutas e prostitutos durante a
atividade sexual, eles mediam a pressão, os batimentos cardíacos e as
secreções das cobaias. O casal de pesquisadores também inventou um
pênis-câmera, que gravava imagens de dentro da vagina. Com essa
engenhoca, eles fizeram algumas descobertas curiosas. Por exemplo:
durante o ato sexual, a cor dos órgãos sexuais femininos permite saber
se uma mulher já teve filhos (parte da vagina fica cor de vinho). A
evolução do pênis-câmera veio com a sonda vaginal fotopletismográfica. É
um palitinho, parecido com um absorvente higiênico do tipo Tampax, que
emite uma luz infravermelha no interior da vagina. A luz refletida pelos
vasos capilares da região mostra se eles estão mais ou menos cheios de
sangue, ou seja, se a mulher está mais ou menos excitada. A médica Cindy
Meston, do Laboratório de Fisiologia Sexual, no Texas, fez o principal
estudo com esse aparelho. As voluntárias deveriam colocar a sonda
enquanto assistiam a clipes pornográficos e indicar (com o polegar para
cima ou para baixo) se gostavam do que viam. O experimento mostra como é
complicada a relação entre corpo e mente: mesmo que a maioria das
mulheres não aprovasse clipes com cenas de sexo entre gays, lésbicas e
animais, a sonda indicava o contrário.
As tentativas de medir cientificamente a excitação também foram
motivadas, algumas vezes, pelo preconceito. Veja o caso do pletismógrafo
peniano, inventado nos anos 50 pelo cientista checo Kurt Freund. O
aparelho é composto por uma câmara de plástico e um anel de borracha,
que são colocados no pênis para medir o fluxo de sangue e as mudanças de
tamanho no órgão. Só que a maquininha foi desenvolvida com um objetivo
polêmico: identificar os gays “infiltrados” no Exército checo. Não deu
muito certo, e por um motivo simples: com um mínimo de sangue-frio, eles
conseguiam disfarçar sua excitação. Determinado a ir além, o governo
canadense criou um aparelho ainda mais sofisticado, apelidado de Fruit
Machine (“máquina da fruta”, em inglês), que media a dilatação das
pupilas de policiais enquanto eles assistiam a filmes eróticos. Isso
porque, quando uma pessoa se interessa por algo que vê, suas pupilas se
dilatam. Mas os cientistas não contaram com outro truque do corpo: as
pupilas também se dilatam para deixar entrar mais luz nos olhos quando a
iluminação no ambiente é pouca. Como os vídeos exibidos eram escuros e
desfocados, as medições saíram todas erradas. Se levados ao pé da letra,
os resultados do projeto teriam mostrado, por exemplo, que os homens da
Polícia Montada Canadense eram tarados por... cavalos.
Falando em animais, eles têm um papel importante na sexologia, pois
se prestam a experiências que seriam constrangedoras ou perigosas demais
para nós. Graças aos bichos, o fisiologista alemão Hausmann fez uma
descoberta crucial para entender o papel do orgasmo na reprodução
humana. Em 1840, ele matou e dissecou uma cadela que tinha acabado de
cruzar, e descobriu que os espermatozóides do macho tinham chegado muito
depressa ao óvulo da fêmea. E teorizou que o orgasmo deveria ter sido
responsável por isso. No século 20, a ciência moderna confirmou a
idéia: o orgasmo realmente libera um hormônio, a ocitocina, que gera
contrações no útero. Essas contrações puxam os espermatozóides para
dentro, ajudando-os a chegar ao óvulo. Ou seja: além de estimular as
pessoas a fazer sexo, o orgasmo também aumenta as chances de reprodução.
Hausmann matou muitos bichos, mas sua descoberta acabou sendo benéfica
aos animais: hoje, em muitas fazendas de criação bovina e suína, existem
funcionários especializados em “bolinar” as fêmeas antes da inseminação
– para que elas engravidem mais facilmente.
Todo mundo sabe que a lingerie é um forte instrumento de excitação
sexual, mas o médico egípcio Ahmed Shafik resolveu medir seu efeito. Ele
testou 75 ratos de laboratório, que foram obrigados a usar “cuequinhas”
durante um ano. Os ratinhos que vestiam cuecas de poliéster fizeram
menos sexo do que aqueles vestidos com lã ou algodão. Tudo porque o
atrito do poliéster com a pele deixava o pênis dos ratos carregado de
eletricidade estática. Quando os pobrezinhos queriam transar e
encostavam nas fêmeas, elas levavam choque e se afastavam.
A medida do prazer
Se o orgasmo move o mundo, a falta dele também. No começo do século
20, a princesa Marie Bonaparte queria descobrir por que não conseguia
chegar ao orgasmo. Ela encomendou um estudo no qual médicos mediram a
vagina de 243 mulheres, que foram entrevistadas sobre suas vidas
sexuais. Com base nisso, concluiu que as mulheres baixinhas, de seios
pequenos ou com clitóris mais perto da uretra eram capazes de ter mais
orgasmos. Até hoje, essa teoria não foi comprovada pela ciência.
Mas o médico americano Stuart Meloy pode ter descoberto a cura
definitiva para quem não tem orgasmos – e criado um novo tipo de
divertimento para as pessoas em geral. Ele estava operando uma paciente
que sofria dores crônicas nas costas e resolveu implantar eletrodos na
espinha dorsal dela. A idéia era enviar impulsos elétricos para o
cérebro, bloqueando os sinais de dor. Só que Meloy descobriu um efeito
bem diferente. Quando ligou a corrente elétrica pela primeira vez, a
paciente soltou um gemido, ficou muito excitada e disse: “Você vai ter
que ensinar ao meu marido como fazer isso”. Acabava de ser inventada a
primeira “máquina de orgasmos” da história. Ela se chama Nasf (Neurally
Augmented Sexual Function, ou “função sexual neurologicamente
aumentada”), e consiste em um par de eletrodos implantados na espinha
dorsal e conectados a um pequeno gerador que produz impulsos elétricos –
ele é implantado sob a pele, na base da coluna. O dispositivo tem um
controle remoto, que permite escolher as variações de intensidade dos
choquinhos.
Quando chegam ao cérebro, esses impulsos provocam excitação sexual e
orgasmo. Noventa e um por cento das mulheres que participaram do
primeiro teste aprovaram o aparelho. Agora o dr. Meloy está começando a
testar o Nasf em homens. Ele acredita que, com o uso prolongado, o
implante poderia fortalecer as ligações elétricas entre os órgãos
sexuais e o cérebro, gerando um benefício permanente: mais prazer mesmo
sem o uso do aparelho. Meloy espera que, daqui a no máximo dois anos, o
Nasf já esteja disponível no mercado para uso terapêutico. Pode ser o
começo do sexo puramente digital: com orgasmos rápidos, e quase
ilimitados, sem mão naquilo nem aquilo na mão. Bastaria apertar um
botão.
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