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6 de fev. de 2016

De zika a rubéola: as doenças que podem causar más-formações em fetos

 

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Image caption Microcefalia pode ser provocada por outras doenças infecciosas
Não é só o vírus zika que pode trazer complicações para o bebê se a mãe for infectada durante a gravidez. Outras doenças podem provocar problemas na formação do feto, sobretudo se adquiridas pela mulher nos três primeiros meses de gestação.
Rubéola, toxoplasmose, sífilis e infecções causadas pelo citomegalovírus são as principais causas conhecidas de más-formações fetais – entre elas a microcefalia, quando o bebê nasce com o diâmetro da cabeça igual ou inferior a 32 centímetros.
A rigor, no entanto, muitas infecções consideradas banais, como a gripe, podem, ainda que raramente, acarretar problemas para o embrião. Sem falar em outras condições, como o uso de drogas e o consumo excessivo de álcool, ou mesmo a exposição à radiação. E há também as causas genéticas: alterações no cromossomo que podem provocar danos cerebrais.
"A microcefalia pode ocorrer sempre que houver uma lesão cerebral significativa na fase de crescimento acelerado do cérebro, não é um problema específico de uma doença ou condição", explica o chefe da neuropediatria da Unifesp, Luiz Celso Vilanova. "Essa fase de crescimento é crucial nos primeiros três meses de gestação, mas se estende ainda por meses após o parto."
Até a constatação da relação entre o zika e o nascimento de bebês com microcefalia, o grande temor das grávidas sempre foi a rubéola. A infecção durante a gravidez pode causar diferentes tipos de má-formação fetal. Problemas de audição, de visão, doenças ósseas, alterações cardíacas e microcefalia são algumas das complicações decorrentes da infecção na gestante.
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Image caption Vacina fez diminuir ocorrência de rubéola e, consequentemente, casos de microcefalia associados a ela
Mas a vacina existe e já está, inclusive, disponível no calendário regular de vacinação, o que vem fazendo diminuir muito a ocorrência da doença. O problema tende a se tornar cada vez mais raro, como aconteceu com o sarampo.
"Houve uma época em que havia enfermarias só para casos de sarampo", lembra o pediatra e infectologista Paulo Cesar Guimarães, diretor da Faculdade de Medicina de Petrópolis. "Hoje, isso não existe mais."
O sarampo também era uma das doenças que causava problemas aos fetos, mas, agora, com a vacinação em massa da população, deixou de ser uma ameaça. Eventualmente, com a interrupção da vacinação por algum motivo, o risco pode retornar – daí a importância de se seguir à risca o calendário de vacinas, alertam os especialistas.
Uma infecção para a qual não há vacina e com a qual as grávidas devem tomar cuidados é a toxoplasmose. A doença é causada por um protozoário que pode estar presente nas fezes de felinos e também em carnes malpassadas. Em geral se trata de uma febre branda.
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Image caption Fezes de felinos podem transmitir toxoplasmose
"Normalmente é uma doença simples, que passa despercebida", explica o obstetra e ginecologista Alex Sandro Rolland de Souza, especialista em medicina fetal do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), um dos centros de referência para microcefalia de Recife. "Na gravidez, no entanto, pode causar más-formações cerebrais no feto, entre elas a microcefalia."
Existe tratamento para a toxoplasmose e, se a doença for diagnosticada rapidamente, o risco de acarretar problemas para o feto diminui muito.
Outras infecções que podem causar problemas são aquelas causadas por citomegalovírus. Embora a infecção em si não seja grave, em geral apenas uma febre branda, as consequências para o feto podem ser sérias, sobretudo porque não há tratamento para a doença. No feto em formação essas infecções podem causar alterações no sangue, problemas de audição, microcefalia.
A sífilis é um outro problema para o qual as grávidas devem estar alertas. A doença, causada por uma bactéria, é sexualmente transmissível. Antigamente, quando não havia penicilina, representava um grande problema de saúde. Hoje, continua sendo considerada uma doença grave, porém tratável. No entanto, se acometer grávidas, pode trazer complicações de formação fetal, sobretudo anomalias ósseas.
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Image caption Segundo especialistas, período crítico da gestação é o primeiro trimestre
De acordo com os médicos, cada uma dessas doenças ou condições que podem acometer as grávidas promovem alterações de formação relativamente similares.
Mas há particularidades dependendo de cada caso. Por exemplo, a rubéola é a única a provocar complicações cardíacas, enquanto que no caso da toxoplasmose, as complicações costumam ser mais oculares. A má-formação do crânio pode ocorrer em decorrência de todas elas, também com algumas peculiaridades.
"As infecções pelo citomegalovírus costumam provocar os danos mais extensos, mas isso pode variar muito", afirma Vilanova. "E sempre há casos de apresentações não usuais."
Para o chefe da neuropediatria da Unifesp, ainda é cedo para falar de características específicas dos casos de microcefalia relacionados ao vírus zika.
"Temos ainda poucos casos comprovados cientificamente da relação entre o zika e a microcefalia para tirarmos um padrão conclusivo", diz ele. "Por enquanto, há muitos casos inferidos (em que a mãe relata ter tido um problema cujos sintomas são similares aos do zika, mas sem comprovação por teste). Estamos na fase inicial do problema e querer tirar conclusões definitivas é muito precoce."
Um fator que conta muito para a extensão da lesão, no entanto, é o momento em que a gestante contrai a doença. Os especialistas concordam que o período mais crítico da gestação é o primeiro trimestre. Os primeiros três meses da gravidez equivalem ao período em que os principais órgãos e sistemas do embrião estão se formando e qualquer agente externo pode ter um impacto grave neste processo.               
"De maneira geral, podemos dizer que quanto mais precoce (na gravidez) for a ocorrência da doença, mais graves são as repercussões que podem ser causadas no feto", explicou Rolland de Souza.
Em estágios mais avançados da gravidez – e, sobretudo, no final –, a repercussão tende a ser muito branda ou mesmo nula.
A prevenção desses problemas, obviamente, varia. A mulher deve sempre estar vacinada para as doenças cujos imunizantes estão disponíveis. Deve se prevenir de picadas de mosquitos, usando repelente ou andando mais coberta. Deve evitar a ingestão de carne malpassada e o contato com fezes de gato, no caso da toxoplasmose. E deve evitar locais fechados com muita aglomeração de pessoas – ambiente propício para o citomegalovírus e outros vírus mais comuns.
"Mas, claro, sempre existe um risco", diz Luiz Celso Vilanova.
Rolland de Souza lembra ainda que embora a dengue e a chikungunya sejam também febres causadas por um arbovírus, como a zika, nunca se estabeleceu nenhuma relação entre a infecção por essas doenças e o nascimento de bebês com problemas de formação.
"E a dengue, como é uma doença mais grave, que pode levar à morte, é muito mais estudada, há muito mais tempo, e em várias partes do mundo", acrescenta Paulo Cesar Guimarães. "E nunca nada neste sentido foi constatado."
Rolland de Souza lembra, no entanto, que entre as gestantes que contraíram dengue ou chikungunya se nota uma taxa maior de partos prematuros. E, portanto, as gestantes devem estar atentas ao problema.

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