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16 de jul. de 2018

Com crise e cortes na ciência, jovens doutores encaram o desemprego: 'Título não paga aluguel'

Ilustração mostrando cientista na fila de empregoDireito de imagemCECILIA TOMBESI/BBC NEWS
Image captionJovens doutores de diversas áreas de atuação estão enfrentando dificuldades no mercado de trabalho
O estatístico Paulo Tadeu Oliveira, de 55 anos, defendeu seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP) em agosto de 2008. Dez anos depois, ainda não conseguiu ingressar no mercado de trabalho. O pesquisador, que é deficiente visual, emendou três pós-doutorados em busca de especialização e experiência, mas não passou nas diversas seleções para o quadro de universidades públicas. Atualmente, está no quarto estágio pós-doutoral, desta vez sem apoio financeiro.
Em busca de trabalho na iniciativa privada, ele consultou 18 headhunters para tentar enquadrar seu currículo ao mercado, mas encontrou respostas similares: o estatístico não possui experiência corporativa e, ao mesmo tempo, é considerado overqualified (qualificado demais) para as posições disponíveis. Em maio, ele relatou sua história à Comissão de Direitos Humanos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e espera resposta.
Assim como Oliveira, diversos jovens doutores (ou seja, titulados recentemente) estão patinando profissionalmente. A concorrência continua crescendo: no ano passado, foram formados 21.609 novos doutores – ao todo, são 302.298, incluindo estrangeiros residentes no país.
Em 2006, o país atingiu a meta de formar 10 mil doutores e 40 mil mestres por ano, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgados à época. Em 2014, o Plano Nacional de Educação estabeleceu uma nova meta: a formação de 25 mil doutores por ano até 2020.
O problema é que o principal destino de doutores, a área da educação – 74,5% dos empregados estão nas universidades ou institutos de pesquisa – sentiu os efeitos da crise econômica no país.
O orçamento do Ministério da Educação (MEC) sofreu cortes de R$ 7,7 bilhões em 2015 e de R$ 10,7 bilhões em 2016, segundo dados da própria pasta. No Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) 44% (R$ 2,5 bilhões) foram congelados em 2017, de acordo com números do governo.
A Capes, vinculada ao MEC, perdeu R$ 1 bilhão por ano desde 2015; o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao MCTIC, também perdeu cerca de R$ 1 bilhão no caixa de 2015 para 2016, o que afeta programas de pós-doutorado, por exemplo.
Nas instituições particulares, o quadro também é pessimista, com a demissão de milhares de professores - a Estácio de Sá, por exemplo, demitiu 1,2 mil docentes em dezembro de 2017 – e o trancamento de matrículas de alunos, que registrou um aumento de 22,4% entre 2011 e 2015, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).

Novo cenário

Entre 1996 e 2014, o número de programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) triplicou no país, informa o relatório Mestres e Doutores 2015, o mais recente da série. Elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o estudo revela que o período também registrou um boom na formação de mestres (379%) e doutores (486%) no país.
Um novo estudo em andamento no CGEE revela também a taxa de empregabilidade de doutores recém-titulados: entre 2009 e 2014, o índice se estabilizou em cerca de 73%, mas em 2016 caiu para 69,3%.
"Historicamente, a taxa de emprego é mais estável, fruto de uma política constante, passando por governos variados. Apesar de ter cada vez mais doutores, podemos afirmar que até 2015 eles foram absorvidos pelo mercado, público e privado", diz a coordenadora da pesquisa, Sofia Daher, de 55 anos.
"A queda não é drástica, mas sinaliza uma tendência nova. Houve uma redução considerável de concursos para professores universitários", disse ela à BBC News Brasil.
O pesquisador Ronaldo Ruy, de 36 anos, é um retrato desse novo cenário: está desempregado desde a defesa de seu doutorado na Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2016. "Estou buscando pós-doutorado para não tirar definitivamente os dois pés da ciência", diz ele, que fez cursos no Smithsonian Research Tropical Institute e no Florida Museum of Natural History, nos EUA.
Atualmente dependendo da ajuda financeira da família, Ruy buscará trabalho fora de sua área de atuação. "O amor pela ciência não as paga contas. No meu caso particular, a situação chegou ao ponto da minha família ter dado prazo para que eu saia de casa e inevitavelmente terei que seguir outro caminho (profissional)", conta.
Ronaldo RuyDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionRonaldo Ruy diz que tenta o pós-doutorado como forma de permanecer na ciência
Foi o que fez Karen Carvalho, de 36 anos, doutora em neurociências pela USP.
Após a conclusão da pesquisa no Instituto Butantan, em novembro, ela tentou ingressar na indústria farmacêutica, sem sucesso.
"Durante o doutorado, desenvolvi depressão. Uma ironia, pois meu campo de estudo é estresse e depressão", diz a bióloga, que hoje atua como corretora de imóveis.
De acordo com uma investigação com 2 mil estudantes de 26 países, publicada na revista Nature Biotechnology em março, os pós-graduandos têm seis vezes mais chance de sofrer ansiedade e depressão do que a população geral.
Além das pressões do doutorado, Carvalho afirma que a falta de perspectiva agravou seu quadro.
"No Brasil, a gente é tratado como 'só estudante' durante a pós. Falta olhar para o cientista como um profissional, muitas vezes muitíssimo qualificado. Você se mata para fazer mestrado e doutorado, e depois pensa: e agora, vou fazer o que com os títulos? Só perdi meu tempo? É uma tristeza, perde-se o brilho olhando para a situação atual da ciência. A gente está no limbo."

Doutores demais?

O biólogo professor da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Hermes-Lima, de 53 anos, vem criticando o que vê como uma formação excessiva de doutores desde 2008.
"Teve uma inundação de 'cérebros'. É a lei do mercado: se você tem essa 'commodity' demais, desvaloriza-se", afirma.
Para Hermes-Lima, a última década registrou "uma alucinada proliferação" de cursos de pós-graduação no país, priorizando quantidade, e não qualidade da formação acadêmica. "Aí chegou o teto - e o teto agora está começando a cair", ilustra.
"A crise econômica empurrou muita gente sem real motivação científica para a universidade. Sem emprego, muita gente buscou refúgio na ciência, de olho nas bolsas. A crise demorou para chegar na ciência, mas agora chegou", critica.
O filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação do governo Dilma Rousseff, pensa diferente. "Parar de investir na formação doutoral é um risco. Como um doutor demora em regra quatro anos para se titular, uma parada significará que, quando precisarmos de mais doutores, eles não estarão disponíveis", analisa.
Para ele, a dificuldade de manter o ritmo de investimento para jovens doutores está relacionada "por um lado, à crise econômica; por outro, às prioridades diferentes do novo governo".
Karen CarvalhoDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionKaren Carvalho, doutora em neurociências, hoje trabalha como corretora de imóveis
Procurado pela BBC News Brasil, o Ministério da Educação diz não ser "verdade que falte recurso para as universidades". "A expansão das universidades federais trouxe impactos significativos para o orçamento do MEC, que precisam ser compreendidos em sua plenitude", escreve a pasta, em nota.
Essa expansão, acrescenta, "foi realizada sem planejamento". "O ano de 2014 foi influenciado pelas eleições e por um momento econômico em que a gestão anterior não mensurou os efeitos dos gastos exagerados e sem controle. Diversos programas aumentaram recursos fora da realidade, fazendo com que a própria gestão anterior iniciasse as reduções, a partir de 2015", conclui.
De 2003 a 2010, houve um salto de 45 para 59 universidades federais, o que representa uma ampliação de 31%; e de 148 câmpus para 274 câmpus/unidades, crescimento de 85%. A expansão também proporcionou uma interiorização – o número de municípios atendidos por universidades federais foi de 114 para 272, um crescimento de 138%, segundo dados do próprio MEC.
Por sua vez, o MCTIC afirma que está atuando junto à equipe econômica para maior disponibilização de recursos. "Em anos anteriores, os esforços do MCTIC para recomposição orçamentária têm dado resultados, com a liberação de recursos contingenciados ao longo do ano. No cenário de restrições orçamentárias, o MCTIC mantém ainda permanente diálogo com os gestores de suas entidades vinculadas para que os recursos sejam otimizados, minimizando o impacto em suas atividades."

Cartas de rejeição

Diante da falta de oportunidade no mercado, tanto na iniciativa privada quanto nas instituições públicas, muitos jovens doutores apostaram na possibilidade de um pós-doutorado, conforme diversos relatos à BBC Brasil. A bolsa mensal do CNPq é de R$ 4,5 mil.
Diferentemente do mestrado ou doutorado, o pós-doutorado não é um título: é uma especialização ou um estágio para aprimorar o nível de excelência de determinada área acadêmica. É visto como um aperfeiçoamento do currículo para processos seletivos para docente nas universidades públicas.
Para a maioria dos candidatos, porém, as expectativas acabaram frustradas.
"A proposta, apesar de meritória, não pode ser atendida nesta demanda, considerando-se a disponibilidade de recursos", dizia a resposta-padrão enviada a dezenas de doutores recém-titulados que tinham pedido bolsas na modalidade Pós-Doutorado Júnior (PDJ), do CNPq.
Laura CarletteDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image caption'Título não paga aluguel', diz Laura Carlette, que estuda o tema
Diante do resultado, divulgado em meados de junho, muitos doutores relataram sua indignação ao serem rejeitados em depoimento em grupo de 6,6 mil pesquisadores brasileiros no Facebook. Sob a condição de anonimato, um parecerista do CNPq conta que os avaliadores também ficaram frustrados. "Não importa o quanto o projeto é excelente, não há recursos para todo mundo; é infrutífero para a ciência do país".
No início deste ano, dos 2.550 pedidos recebidos pelo CNPq, foram concedidas 363 bolsas de PDJ. No primeiro calendário de 2017, foram 2392 pedidos e 359 concessões.
Doutor em psiquiatria pela UFRGS, com temporada de estudos na Tufts University, nos EUA, o pesquisador Dirson João Stein, de 44 anos, tentou quatro editais de pós-doutorado desde abril, diante da falta de concursos na área. Não conseguiu aprovação em nenhum.
"Vejo como uma oportunidade de transição entre a vida estudantil e a vida profissional. Há possibilidade de praticar a docência, um dos principais pré-requisitos para a seleção de professores", considera. Assim como Ruy, Stein depende da família e, agora, faz freelancer como garçom para festas em São Leopoldo (RS).

Peso emocional

A psicóloga Inara Leão Barbosa, de 60 anos, que pesquisa desemprego desde 2003, destaca que um de seus efeitos psicossociais é o isolamento dos amigos e da família.
"É um sentimento de regressão, um impacto muito violento. Eles, que eram considerados tão inteligentes, passam a ser vistos como vagabundos que não querem trabalhar. Muitos voltam a morar com os pais e são tratados como adolescentes. Eles se culpam como indivíduos, esquecendo que a crise faz parte do sistema", diz Barbosa, professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Muitos doutores vão parar no subemprego. "E, se você não quiser (o subemprego), no momento de crise tem uma fila de gente que quer", afirma.
Professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o historiador Rodrigo Turin, 38, diz que a academia está sendo pautada por conceitos como "produtividade", "inovação" e "excelência", respondendo a uma lógica de mercado.
"Já começaram a aparecer, inclusive, ofertas de postos não-remunerados, nos quais esses jovens acadêmicos são induzidos a pesquisar e dar aulas apenas para poder 'engordar' seus currículos e, assim, se tornarem mais competitivos", critica.
Essa "ideologia da excelência" é um dos pontos estudados por Lara Carlette, de 29 anos. Sua tese Universidades de classe mundial e o consenso pela excelência, defendida no Departamento de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em fevereiro, foi indicada ao Prêmio Capes pela originalidade do trabalho.
Ao propor um desdobramento de sua pesquisa para o CNPq, ela recebeu dois pareceres positivos e uma decisão negativa que, ironicamente, indicava falta de originalidade.
Segundo Carlette, os jovens doutores vivem impasses: por um lado, muitos passam anos na condição de bolsistas de dedicação exclusiva (o que proíbe vínculo empregatício, assim limitando a possibilidade de experiência docente); por outro lado, a experiência é cobrada nos concursos.
Na mesma linha, os acadêmicos precisam preservar a originalidade de suas teses (o que limita a publicação de artigos durante o doutorado), mas a produtividade (o número de publicações) é cobrada nos processos seletivos e nos editais.
"Pode parecer dramático, mas conviver com isso diariamente é torturante. Saber ler a conjuntura, e não individualizar a falta de oportunidades, é essencial", adiciona a pesquisadora, que já foi questionada inclusive pela juventude: foi chamada de "novinha" durante um processo seletivo.
"Depois da alegria e do alívio de defender uma tese, você está desempregado no dia seguinte. Título não paga aluguel."

FONTE:https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44696697

4 de jul. de 2018

Radioterapia

radioterapia é uma forma de terapia que utiliza um feixe de radiações ionizantes, capaz de destruir células tumorais.



radioterapia como funciona
O método consiste na aplicação de uma dose pré calculada de radiação, num tempo determinado, a uma quantidade de tecido que envolve o tumor, visando erradicar as células tumorais com o menor dano possível às células circunvizinhas normais, que farão a regeneração da área irradiada.
As radiações ionizantes carregam energia e são eletromagnéticas ou corpusculares. Quando interagem com os tecidos, originam elétrons rápidos que ionizam o meio e produzem efeitos químicos como a hidrólise da água e a ruptura das cadeias de DNA, levando à morte celular por diversos mecanismos, como a inativação de sistemas vitais ou da sua incapacidade de reprodução.
A radioterapia é um método de tratamento local e/ou regional, podendo ser indicada de forma isolada ou associada a outras formas de terapia, podendo ser pré, per ou pós operatória, ou ainda ser aplicada antes, durante ou logo após a quimioterapia.
A radioterapia pode ser:
  • Radical (ou curativa): Visa a cura total do tumor;
  • Remissiva: Tem como objetivo a redução tumoral;
  • Profilática: Quando trata a doença em fase subclínica, ou seja, não há volume tumoral presente, mas possíveis células neoplásicas dispersas;
  • Paliativa: Visa a remissão de sintomas como dor intensa, sangramento e compressão de órgãos;
  • Ablativa: Quando se administra a radiação para suprimir a função de um órgão.
Os efeitos colaterais da radioterapia podem ser classificados em imediatos e tardios. Podem ser afetados todos os tecidos pelas radiações, em graus variados. Geralmente, os efeitos relacionam-se com a dose total absorvida e com o fracionamento utilizado, sendo que a cirurgia e a quimioterapia podem contribuir com o agravamento desses efeitos.


A nova droga que pode fazer o sistema imunológico 'devorar' tumores

Pacman-like character drawn in chalkDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDesafio de fazer sistema imunológico atacar celulas tumorais é alvo de pesquisas no mundo todo
Tratamentos que exploram o sistema imunológico para combater o câncer são uma área crescente de pesquisa para cientistas do mundo todo. Agora, uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos desenvolveu uma droga que ajuda o corpo a "comer" e a destruir células cancerígenas.
O tratamento aumenta a ação dos glóbulos brancos, chamados macrófagos, que o sistema imunológico usa para devorar invasores indesejados.
Testes em camundongos mostraram que a terapia funcionou para tumores agressivos de mama e pele, informou a revista científica Nature Biomedical Engineering (revista de Engenharia Biomédica da Natureza).
A equipe americana que conduziu o estudo espera iniciar testes em humanos dentro de alguns anos. O fato de a droga já ter uma licença, dizem os pesquisadores, deve acelerar o processo de aprovação para uso.
A novidade desenvolvida a partir de moléculas componentes que se encaixam como blocos de tijolo é uma "supramolécula".
O estudo envolve uma célula imune devoradora ou "fagocitária" chamada macrófago.
Macrófagos ajudam a combater infecções bacterianas e virais porque podem reconhecer e atacar esses "invasores".
Mas eles não são tão eficazes no combate ao câncer, uma vez que os tumores crescem a partir de nossas próprias células e têm mecanismos inteligentes para se esconder do ataque do sistema imunológico.
Imagem de célula macrófagaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA nova droga testada em camundongos impede as células cancerígenas de se esconderem dos macrófagos
A droga que o médico Ashish Kulkarni e seus colegas do Brigham e Hospital da Mulher da Faculdade de Medicina de Harvard usaram no estudo funciona de duas maneiras.
Em primeiro lugar, ela impede as células cancerígenas de se esconderem dos macrófagos. Em segundo lugar, impede que o tumor "diga" aos macrófagos que se tornem dóceis.
Nos camundongos, a terapia supramolecular pareceu impedir que o câncer crescesse e se espalhasse.
Os pesquisadores prevêem que a droga pode ser usada juntamente com outros tratamentos contra o câncer, como os inibidores de pontos de verificação imunológicos da imunoterapia. Esses pontos são moléculas especializadas que conseguem impedir o sistema imunológico de agir, fazendo com que as células de defesa sejam utilizadas apenas quando preciso.
Carl Alexander, do Instituto de Pesquisa do Câncer do Reino Unidos, diz que é "promissor" ver mais uma nova pesquisa. Segundo ele, agora é necessário trabalhar mais nesse estudo para mostrar que a nova droga poderia, de fato, ser usada em tratamentos.

https://www.bbc.com/portuguese/geral-44695522

As vantagens e desvantagens do jejum intermitente

Jejum pode de fato reduzir peso, dizem especialistas.Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara os pacientes, a vantagem do modelo de 16 horas de jejum é que parte do período ocorre durante a noite, quando estão dormindo
Já faz alguns anos que as dietas de jejum intermitente se tornaram moda. A mais conhecida é a chamada 5 por 2 (cinco dias de alimentação normal, e dois em semijejum), mas outro modelo está começando a ganhar força: o de 16 por 8 horas.
Essa nova versão propõe um ciclo de alimentação e jejum muito mais rápido: os pacientes devem comer normalmente por um período de oito horas e, depois, realizar o jejum por 16 horas seguidas.
A janela de alimentação mais comum desse modelo ocorre entre 10h e 18h - período do dia em que a pessoa pode comer o que quiser.
Por outro lado, durante as horas de jejum, o paciente não come nada e só pode ingerir água ou alguma bebida não calórica. A vantagem do método, segundo os praticantes, é que boa parte do jejum coincide com os horários em que o praticante está dormindo.
Mulher comendo macarrãoDireito de imagemRDVASILEV / GETTY IMAGES
Image captionNa dieta intermitente, não há restrição de tipos de comida, mas sim períodos em que não se pode comer
Segundo um estudo científico de 2016 da Universidade Johns Hopkins (EUA), esse padrão de alimentação pode ajudar na perda de peso de maneira moderada por ser mais sustentável para alguns pacientes do que outras dietas mais restritivas, embora diga que mais pesquisas são necessárias a respeito.
Mas especialistas afirmam que, antes de iniciar qualquer dieta, um médico deve ser consultado.

Como surgiu a dieta intermitente e quais seus benefícios?

As dietas intermitentes se tornaram bastante populares nos últimos anos entre pessoas que desejam emagrecer sem renunciar por completo a alimentos calóricos.
Além disso, alguns estudos têm vinculado esse tipo de dieta a benefícios para a saúde, como a redução de cardiopatias e risco de câncer, maior longevidade e proteção a doenças relacionadas à velhice e declínio cognitivo.
No entanto, essa é uma área de pesquisa ainda insipiente e não há quantidade suficiente de estudos científicos para confirmar os benefícios de forma contundente.
Segundo a nutricionista britânica Kerry Torrens, as dietas intermitentes são um "programa" de alimentação. Para ela, o emagrecimento dependerá da adaptação da pessoa ao método a longo prazo.
Há diferentes padrões de dietas intermitentes e, segundo Torrens, para elas darem certo, independentemente do modelo, é importante é que elas sejam seguras, saudáveis e com alimentos de grande valor nutritivo.
A especialista recomenda incluir no cardápio gorduras essenciais e saudáveis como peixes, oleaginosas e sementes, além de fontes de proteína, grãos integrais, verduras e vegetais para suprir toda a fibra, vitaminas e minerais necessários.
Pratos de vegetaisDireito de imagemTHINKSTOCK
Image captionNutricionista recomenda alimentos ricos em nutrientes

As vantagens da dieta 16 por 8

Um grupo de acadêmicos americanos da Universidade de Illinois, de Indiana e dos Instituto Salk de Estudos Biológicos fez um pequeno estudo de 12 semanas com 36 pessoas obesas submetidas à dieta 16 por oito.
Os resultados foram publicados na revista científica Nutrition and Healthy Aging. Eles mostram uma perda média de peso de 3 quilos em 12 semanas, e também uma redução de 341 calorias na média diária.
Por isso, os pesquisadores sugerem que restringir o consumo de alimentos a oito horas por dia pode gerar uma restrição calórica moderada, além da perda de peso sem que os pacientes precisem ficar contando as calorias que comem.
Mas eles esclarecem que esses são resultados iniciais e que mais estudos de longo prazo são necessários.

E as desvantagens?

Os adultos obesos que participaram desse teste estavam com boa saúde. As pessoas que têm problemas de colesterol, pressão arterial, diabetes e cardiopatias, mulheres grávidas ou lactante devem consultar um médico antes de iniciar uma dieta.
Além disso, entre os efeitos secundários do jejum estão dores de cabeça, tontura, dificuldade para manter a concentração, alterações de outras enfermidades e de absorção de medicamentos pelo corpo.
Entre as pessoas mais vulneráveis a esse tipo de dietas, adverte Torrens, estão os idosos e os menores de 18 anos, as pessoas quem têm índice de massa muscular muito baixo ou problemas emocionais ou psicológicos relacionados à alimentação.
A nutricionista diz que, em geral, as dietas intermitentes podem ser tão eficazes para perder peso como outras que restringem o consumo de calorias. Mas ainda "temos muito a aprender sobre esse método, incluindo qual é o padrão ideal de jejum ou restrição calórica", diz.
Por outro lado, ela sugere que "muita gente que faz um jejum mais moderado, interrompendo a alimentação às 19h e voltando a comer no dia seguinte, tem resultados e benefícios", diz Torrens.
Para perder peso de uma maneira saudável, o serviço britânico de saúde pública recomenda o emagrecimento a um ritmo entre 0,5 kg e 1 kg por semana.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-44605289

Brasileiros desenvolvem curativo à base de abacaxi que facilita cicatrização

Curativo de abacaxiDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionProteína do abacaxi remove as células mortas de feridas, 'limpando-as e acelerando sua cicatrização', diz pesquisadora
A associação de uma proteína do abacaxi com celulose produzida por bactérias resultou em um curativo eficiente como anti-inflamatório cicatrizante de ferimentos, ulcerações e queimaduras, segundo trabalho de pesquisadores das universidades de Sorocaba (Uniso) e Unicamp, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Ele produziram um composto na forma de gel ou emplastro que tem como base a proteína do abacaxi, chamada de bromelina, e a celulose bacteriana - dois elementos que já vinham sendo estudados há tempos para aplicações nas áreas médica, farmacêutica e cosmética.
A bromelina tem a propriedade de quebrar moléculas de outras proteínas - o chamado debridamento celular - e, por isso, é usada até para amaciar carne.
"Essa mesma característica faz com ela remova as células mortas na ferida, limpando-a e acelerando sua cicatrização", explica Janaína Artem Ataide, da Unicamp, autora principal do artigo publicado no periódico Scientific Reports, do grupo Nature, que mostra os resultados do trabalho conjunto.
A celulose é o biopolímero mais abundante da natureza, produzido principalmente por plantas. Mas também há alguns microorganismos, como a bactéria Gluconacetobacter xylinus, capazes de sintetizá-la.
"Essa bactéria é uma biofábrica", explica a pesquisadora Angela Faustino Jozala, do Laboratório de Microbiologia Industrial e Processos Fermentativos da Uniso, outra autora do artigo. "Ela produz a celulose como se tricotasse polímeros de glicose (açúcar). Como o produto é tecido em nanoestruturas (um nanômetro equivale a um milionésimo de milímetro ou um bilionésimo de metro) o chamamos de nanocelulose."
Em termos mais técnicos, Jozala explica que a "celulose bacteriana é um polímero linear de glicose, altamente cristalino, sintetizado extracelularmente pela bactéria Gluconacetobacter xylinus na forma de nanofibras. Como ela é produzida livre de outros polímeros (como hemicelulose e lignina), pode ser considerada um material biocompatível".
Resíduos de abacaxi usados na pesquisaDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionResíduos de abacaxi usados na pesquisa; sua composição já chamava atenção das indústrias farmacêutica e cosmética
Por isso já vem sendo utilizada em diversas aplicações médicas, como, por exemplo, em enxertos e substitutos temporários de pele ou curativos no tratamento de lesões.

Unir esforços

As duas equipes conheciam o trabalho uma da outra e resolveram unir esforços para produzir o novo curativo. "Como a nanocelulose bacteriana já vem sendo aplicada como produto cicatrizante, nós tivemos a ideia de associar a ela uma proteína com propriedades anti-inflamatória e antimicrobiana", conta Jozala.
"Escolhemos a bromelina porque já conhecíamos suas características e porque a indústria de alimentos, quando produz a polpa de abacaxi, joga a casca e o talo da fruta fora. É fonte barata de obtê-la. Aproveitamos que a equipe da Unicamp já a vinha extraindo desses resíduos para trabalhar em conjunto."
A pesquisadora Priscila Gava Mazzola, da Unicamp, orientadora de Ataide e outra autora do artigo, diz que a extração da bromelina de resíduos de abacaxi diminui o impacto ambiental da industrialização da fruta e gera um produto de alto valor agregado. Além disso, ela destaca outro pontos importantes do trabalho.
"As biomembranas de nanocelulose são promissoras na entrega de princípios ativos", diz. "Suas características interessantes para o desenvolvimento de um produto farmacêutico ou cosmético foram alinhadas com as da bromelina. O curativo final tem potencial uso para auxiliar os processos de cicatrização."
Ataide, por sua vez, conta que há alguns anos a bromelina tem sido objeto de pesquisa na Unicamp. "Passamos da extração dessa biomolécula a partir de resíduos do abacaxi para o estudo de sua aplicação em produtos farmacêuticos e cosméticos para via tópica", explica.
"Nesse cenário, surgiu a ideia de inseri-la na nanocelulose bacteriana, que se mostrou como o sistema mais promissor para sua veiculação. Hoje, temos pesquisado o aumento da estabilidade da proteína com o uso de nanopartículas de quitosana (substância encontrada no exoesqueleto de crustáceos, que tem propriedades cicatrizantes)."
Curativo de abacaxiDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionPróximo passo é testar o composto em animais
Os primeiros testes em laboratório foram feitos para verificar se a bromelina criava de fato uma barreira antimicrobiana. "Ferimentos não cuidados são uma porta aberta para micro-organismos, o que pode levar a infecções graves", diz Jozala. "Por isso, necessitam de um bom curativo, que ajude na cicatrização e evite contaminação. Além disso, deve ser capaz ainda de propiciar atividade antioxidante, para diminuir o processo inflamatório de células mortas e pus."
A proteína do abacaxi se mostrou capaz de preencher esses requisitos.

Fase de testes

Para realizar os testes, as membranas de nanocelulose bacteriana foram mergulhadas por 24 horas em uma solução de bromelina. Os pesquisadores observaram que, 30 minutos após ela ser incorporada à celulose, houve maior liberação e aumento de nove vezes na atividade antimicrobiana da membrana.
"Ou seja, foi criada uma barreira seletiva, que potencializou a atividade proteica e outras ações importantes para a cicatrização, como o aumento de antioxidantes e da vascularização", conta Jozala.
De acordo com ela, o novo curativo já passou a pela primeira fase de desenvolvimento de um medicamento, que é feito em laboratório, para verificar se tem o efeito desejado e não é tóxico.
Agora, virá a fase dois, que são os testes com animais. Os trabalhos estão sendo feitos no novo laboratório da Uniso. Além do curativo, as novas instalações servirão para testes, produção e purificação de biomoléculas de interesse em diversos segmentos industriais (biotecnológico, ambiental, alimentício, farmacêutico).
Fonte:https://www.bbc.com/portuguese/geral-44637043

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