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24 de mar. de 2012

exame de urina


O exame de urina é usado como método diagnóstico complementar desde o século II. Trata-se de um exame indolor e de simples coleta, o que o torna muito menos penoso para os pacientes do que as análises de sangue, que só podem ser colhidas através de punção da veia com agulha.

O exame sumário da urina pode nos fornecer pistas importantes sobre doenças sistêmicas, principalmente as doenças dos rins.

As três análises de urina mais comuns são:

- EAS (elementos anormais do sedimento) ou urina tipo I.
- Urina de 24 horas (leia: URINA 24 HORAS | Como colher e para que serve).
- Urinocultura (urocultura) (leia: EXAME UROCULTURA | Indicações e como colher).

Neste texto falaremos apenas do exame simples de urina (EAS ou urina tipo I). As informações contidas aqui têm como objetivo ajudar na compreensão dos resultados das análises de urina. De modo algum o paciente deve usar este texto para interpretar exames sem a orientação de um médico.

EAS | urina tipo I

O EAS é o exame de urina mais simples, feito através da coleta de 40-50 ml de urina em um pequeno pote de plástico. Normalmente solicitamos que se use a primeira urina da manhã, desprezando o primeiro jato. Esta pequena quantidade de urina desprezada serve para eliminar as impurezas que possam estar na uretra (canal urinário que traz a urina da bexiga). Após a eliminação do primeiro jato, enche-se o recipiente com o resto da urina.

A primeira urina da manhã é a mais usada, mas não é obrigatório. A urina pode ser coletada em qualquer período do dia.

Exame de urina
EAS - Urina I
A amostra de urina deve ser colhida idealmente no próprio laboratório, pois quanto mais fresca estiver, mais confiáveis são os seus resultados. Um intervalo de mais de duas horas entre a coleta e a avaliação pode invalidar o resultado, principalmente se a urina não tiver sido mantida sob refrigeração.

O EAS é divido em duas partes. A primeira é feita através de reações químicas e a segunda por visualização de gotas da urina pelo microscópio.

Na primeira parte mergulha-se  uma fita na urina, chamada de dipstick, como as que estão nas fotos ao lado. Cada fita possuiu vários quadradinhos coloridos compostos por substâncias químicas que reagem com determinados elementos da urina. Esta parte é tão simples que pode ser feita no próprio consultório médico. Após 1 minuto, compara-se a cores dos quadradinhos com uma tabela de referência que costuma vir na embalagem das próprias fitas do EAS.

Exame de urina
EAS - Urina I
Através destas reações e com o complemento do exame microscópico, podemos detectar a presença e a quantidade dos seguintes dados da urina:

- Densidade
- pH
- Glicose
- Proteínas
- Hemácias (sangue)
- Leucócitos
- Cetonas
- Urobilinogênio e bilirrubina
- Nitrito
- Cristais
- Células epiteliais e cilindros

Os resultados do dipstick são qualitativos e não quantitativos, isto é, a fita identifica a presença dessas substâncias citadas acima, mas a quantificação é apenas aproximada. O resultado é normalmente fornecido em uma graduação de cruzes de 1 a 4. Por exemplo: uma urina com "proteínas 4+" apresenta grande quantidade de proteínas; uma urina com "proteínas 1+" apresenta pequena quantidade de proteínas. Quando a concentração é muito pequena, alguns laboratórios fornecem o resultado como "traços de proteínas".

Vamos, então, aos valores de referência:

a) Densidade:

A densidade da água pura é igual a 1000. Quanto mais próximo deste valor, mais diluída está a urina. Os valores normais variam de 1005 a 1035. Urinas com densidade próximas de 1005 estão bem diluídas; próximas de 1035 estão muito concentradas, indicando desidratação. Urinas com densidade próxima de 1035 costumam ser muito amareladas e normalmente possuem odor forte (leia: URINA COM CHEIRO FORTE E MAL CHEIROSA).

A densidade indica a concentração das substâncias sólidas diluídas na urina, sais minerais na sua maioria. Quanto menos água houver na urina, maior será sua densidade.

b) pH:

A urina é naturalmente ácida, já que o rim é o principal meio de eliminação dos ácidos do organismo. Enquanto o pH do sangue costuma estar em torno de 7,4, o pH da urina varia entre 5,5 e 7,0, ou seja, bem mais ácida.

Valores de pH maiores ou igual 7 podem indicar a presença de bactérias que alcalinizam a urina. Valores menores que 5,5 podem indicar acidose no sangue ou doença nos túbulos renais.

O valor mais comum é um pH por volta de 5,5-6, porém, mesmo valores acima ou abaixo dos descritos podem não necessariamente indicar alguma doença. Este resultado deve ser interpretado pelo seu médico.

c) Glicose:

Toda a glicose que é filtrada nos rins é reabsorvida de volta para o sangue pelo túbulos renais. Deste modo, o normal é não apresentar evidências de glicose na urina.

A presença de glicose na urina é um forte indício de que os níveis sanguíneos estão altos. É muito comum pessoas com diabetes mellitus apresentarem perda de glicose pela urina. Isto ocorre porque a quantidade de açúcar no sangue está tão alta, que parte deste acaba saindo pela urina. Quando os níveis de glicose no sangue estão acima de 200 mg/dl, geralmente há perda na urina (leia: DIAGNÓSTICO E SINTOMAS DO DIABETES MELLITUS ).

A presença de glicose na urina sem que o indivíduo tenha diabetes costuma ser um sinal de doença nos túbulos renais. Isso significa que apesar de não haver excesso de glicose na urina, os rins não conseguem impedir sua perda.

Basicamente, a presença de glicose na urina indica excesso de glicose no sangue ou doença dos rins.

d) Proteínas:

A maioria das proteínas não são filtradas pelo rim, por isso, em situações normais, não devem estar presentes na urina. Na verdade, existe apenas uma pequena quantidade de proteínas na urina, mas são tão poucas que não costumam ser detectadas pelo teste da fita. Portanto, uma urina normal não possui proteínas.

Existem 2 maneiras de se apresentar o resultado das proteínas na urina: em cruzes ou uma estimativa em mg/dL:

Ausência = menos que 10 mg/dL (valor normal)
Traços = entre 10 e 30 mg/dL
1+ = 30 mg/dl
2+ = 40 a 100 mg/dL
3+ = 150 a 350 mg/dL
4+ = Maior que 500 mg/dL

A presença de proteínas na urina se chama proteinúria, pode indicar doença renal e deve ser sempre investigada (leia: PROTEINÚRIA, URINA ESPUMOSA E SÍNDROME NEFRÓTICA). O exame da urina de 24h é normalmente feito para se quantificar com exatidão a quantidade de proteínas que se está perdendo na urina (leia: URINA 24 HORAS | Como colher e para que serve).

e) Hemácias na urina / hemoglobina na urina / sangue na urina:

Assim como nas proteínas, a quantidade de hemácias (glóbulos vermelhos) na urina é desprezível e não consegue ser detectada pelo exame da fita. Mais uma vez, os resultados costumam ser fornecidos em cruzes. O normal é haver ausência de hemácias (hemoglobina).

Como as hemácias são células, elas podem ser vistas com um microscópio. Deste modo, além do teste da fita, também podemos procurar por hemácias diretamente pelo exame microscópico, uma técnica chamada de sedimentoscopia. Através do microscópio consegue-se detectar qualquer presença de sangue, mesmo quantidades mínimas não detectadas pela fita.

Neste caso, os valores normais são descritos de duas maneiras:  
- Menos que 3 a 5 hemácias por campo ou menos que 10.000 células por mL

A presença de sangue na urina chama-se hematúria e pode ocorrer por diversas doenças, como infecções, pedras nos rins e doenças renais graves (para saber mais detalhes sobre a hematúria, leia: HEMATÚRIA (URINA COM SANGUE)). Um resultado falso positivo pode acontecer nas mulheres que colhem urina enquanto estão na período menstrual.

Uma vez detectada a hematúria, o próximo passo é avaliar a forma das hemácias em um exame chamado "pesquisa de dismorfismo eritrocitário". As hemácias dismórficas são hemácias com morfologia alterada, comum em algumas doenças como a glomerulonefrite (leia: O QUE É UMA GLOMERULONEFRITE?). É possível haver pequenas quantidades de hemácias dismórficas na urina sem que isso tenha relevância clínica. Apenas valores acima de 40 a 50% costumam ser considerados relevantes.

Não é todo laboratório que possui gente capacitada para executar esse exame. Por isso, muitas vezes ele não é feito automaticamente. É preciso o médico solicitar especificamente essa avaliação.

f) Leucócitos ou piócitos

Os leucócitos, também chamados de piócitos, são os glóbulos brancos, nossas células de defesa. A presença de leucócitos na urina costuma indicar que há alguma inflamação nas vias urinárias. Em geral, sugere infecção urinária, mas pode estar presente em várias outras situações, como traumas, uso de substâncias irritantes ou qualquer outra inflamação não causada por um agente infeccioso. Podemos simplificar e dizer que leucócitos na urina significa pus na urina.

Como também são células, os leucócitos podem ser contados na sedimentoscopia. Valores normais estão abaixo dos 10.000 células por mL ou 5 células por campo

Alguns dipsticks apresentam um quadradinho para detecção de leucócitos, normalmente o resultado vem descrito como "esterase leucocitária". O normal é estar negativo.

g) Cetonas ou corpos cetônicos:

Os corpos cetônicos são produtos da metabolização das gorduras. Normalmente não estão presentes na urina. A sua detecção pelo dipstik pode indicar diabetes mellitus mal controlado ou jejum prolongado.

h) Urobilinogênio e bilirrubina

Também normalmente ausentes na urina, podem indicar doença hepática (fígado) ou hemólise (destruição anormal das hemácias). A bilirrubina só costuma aparecer na urina quando os seus níveis sanguíneos ultrapassam 1,5 mg/dL. O urobilinogênio pode estar presente em pequenas quantidades sem que isso tenha relevância clínica.

i) Nitritos

A urina é rica em nitratos. A presença de bactérias na urina transforma esses nitratos em nitritos. Portanto, fita com nitrito positivos é um sinal indireto da presença de bactérias. Nem todas as bactérias tem a capacidade de metabolizar o nitrato, por isso, exame de urina com nitrito negativo de forma alguma descarta infecção urinária.

Na verdade, o EAS apenas sugere infecção. A presença de hemácias, associado a leucócitos e nitritos positivos, fala muito a favor de infecção urinária, porém, o exame de certeza é a urocultura (leia: EXAME UROCULTURA | Indicações e como colher).

A pesquisa do nitrito é feita através da reação de Griess, que é o nome dado a reação do nitrito com um meio ácido. Por isso, alguns laboratórios fornecem o resultado como Griess positivo ou Griess negativo, que é igual a nitrito positivo e nitrito negativo, respectivamente.

j) Cristais

Esse é talvez o resultado mais mal interpretado, tanto por pacientes como por alguns médicos. A presença de cristais na urina, principalmente de oxalato de cálcio, não tem nenhuma importância clínica. Ao contrário do que se possa imaginar, a presença de cristais não indica uma maior propensão à formação de cálculos renais.

Os únicos cristais com relevância clínica são:
- Cristais de cistina
- Cristais de magnésio-amônio-fosfato (estruvita)
- Cristais de tirosina
- Cristais de bilirrubina
- Cristais de colesterol

A presença de cristais de ácido úrico, se em grande quantidade, também deve ser valorizada.

k) Células epiteliais e cilindros

A presença de células epiteliais é normal. São as próprias células do trato urinário que descamam. Elas só têm valor quando se agrupam em forma de cilindro, recebendo o nome de cilindros epiteliais.

Como os túbulos renais são cilíndricos, toda vez que temos alguma substância (proteínas, células, sangue...) em grande quantidade na urina, elas se agrupam em forma de um cilindro. A presença de cilindros indica que esta substância veio dos túbulos renais e não de outros pontos do trato urinário como a bexiga, ureter, próstata, etc. Isto é muito relevante, por exemplo, nos casos de sangramento, onde um cilindro hemático indica o glomérulo como origem, e não a bexiga, por exemplo.

Os cilindros que podem indicar algum problema são:

- Cilindros hemáticos (sangue) = Indica glomerulonefrite
- Cilindros leucocitários = Indicam inflamação dos rins
- Cilindros epiteliais = indicam lesão dos túbulos
- Cilindros gordurosos = indicam proteinúria

Cilindros hialinos não indicam doença, mas pode ser um sinal de desidratação.

A presença de muco na urina é inespecífica e normalmente ocorre pelo acúmulo de células epiteliais com cristais e leucócitos. Tem pouquíssima utilidade clínica. É mais uma obervação.

Em relação ao EAS (urina tipo I) é importante salientar que esta é uma análise que deve ser sempre interpretada. Os falsos positivos e negativos são muito comuns e não dá para se fechar qualquer diagnóstico apenas comparando os resultados com os valores de referência.

EAS (urina tipo I) normal 

Apenas como exemplo, o que segue abaixo é um modelo de como os laboratórios apresentam os resultados do exame sumário de urina. Este exame está normal.

COR ---- amarelo citrino 
ASPECTO ---- limpido
DENSIDADE ---- 1.015 (normal varia entre 1005 e 1030) 
PH ---- 5,0 (normal varia entre 5,5 a 7.5)

EXAME QUÍMICO

Glicose ---- ausente
Proteínas ---- ausente
Cetona ---- ausente
Bilirrubina ---- ausente
Urobilinogênio ---- ausente
Leucócitos ---- ausente
Hemoglobina ---- ausente
Nitrito ---- negativo

MICROSCOPIA DO SEDIMENTO (sedimentoscopia)

Células epiteliais ---- algumas
Leucócitos ---- 5 por campo 
Hemácias ---- 3 por campo
Muco ---- ausente
Bactérias  ---- ausentes
Cristais ---- ausentes
Cilindros ---- ausentes

Leia o texto original no site MD.Saúde: EXAME DE URINA | Leucócitos, nitritos, hemoglobina... http://www.mdsaude.com/2009/08/exame-de-urina.html#ixzz1q4Twxgae

Entenda o hemograma


A dosagem da AST e ALT, também conhecidas como TGO e TGP, são ferramentas essenciais para o diagnóstico das doenças do fígado. Neste artigo vamos explicar o que significa cada elemento do hepatograma, um conjunto de análises sanguíneas que avaliam a função do fígado e das vias biliares.

O que é o hepatograma?

Chamamos de hepatograma o conjunto de elementos dosados no sangue que fornecem indicações sobre o funcionamento do fígado e das vias biliares. Por isso, o hepatograma pode também ser chamado de provas de função hepática.

O hepatograma consiste no doseamento das seguintes substâncias:
  • AST (aspartato aminotransferase) e ALT (alanina aminotransferase), antigamente chamada de TGO (transaminase glutâmica oxalacética) e TGP (transaminase glutâmica pirúvica), respectivamente.
  • Fosfatase alcalina
  • GGT ou Gama GT (Gama glutamil transpeptidase)
  • Bilirrubinas (direta, indireta e total)
  • TAP (tempo de protrombina ativada) ou TP (tempo de protrombina) e INR
  • Albumina
  • 5' nucleotidase (5'NTD)
  • LDH (lactato desidrogenase)
AST, ALT, TGO, TGPEm geral, nos pacientes assintomáticos e sem doença do fígado conhecida, apenas os quatro primeiros elementos costumam ser solicitados. São exames de rastreio para se identificar alguma doença oculta do fígado e/ou das vias biliares. Já naqueles sabidamente com problemas hepáticos, a dosagem de todos os itens se faz necessária para uma melhor avaliação da função do fígado.

Vamos então falar detalhadamente de cada item:

obs: TGO e AST, assim como TGP e ALT, são siglas diferentes para a mesma enzima. Para não criar confusão, usarei a partir de agora apenas as siglas TGO e TGP, que ainda são as mais usadas.

1- Transaminases (ALT e AST) ou (TGP e TGO)

As transaminases ou aminotransferases são enzimas presentes dentro das células do nosso organismo, sendo responsáveis pela metabolização de algumas proteínas. As duas principais aminotransferases são a TGO (transaminase glutâmica oxalacética) e TGP (transaminase glutâmica pirúvica).

Estas enzimas estão presentes em várias células do nosso corpo e apresentam-se em grande quantidade no hepatócitos (células do fígado). O fígado é uma espécie de estação de tratamento, sendo o órgão responsável pela metabolização de todas as substâncias presentes no sangue.

Toda vez que uma célula que contenha TGP ou TGP sofre uma lesão, essas enzimas "vazam" para o sangue, aumentando a sua concentração sanguínea. Portanto, é fácil entender por que doenças do fígado, que causam lesão dos hepatócitos, cursam com níveis sanguíneos elevados de TGO e TGP.

A TGO está presente também nas células dos músculos e do coração, enquanto que a TGP é encontrada quase que somente dentro das células do fígado. A TGP, é portanto, muito mais específica para doenças do fígado que a TGO.

Há algumas décadas, quando ainda não existiam os atuais marcadores de infarto do miocárdio, usávamos a TGO como um marcador de lesão do coração nos doentes com suspeita de isquemia cardíaca (leia: SINTOMAS DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO E ANGINA). Por uma razão óbvia, nestes casos, apenas a TGO se elevava, permanecendo a TGP em níveis normais, já que está última só existe no fígado. 

Como as duas enzimas estão presentes em quantidades semelhantes nas células do fígado, as doenças deste órgão cursam com elevação tanto da TGO quanto da TGP.

As principais doenças que causam elevação das transaminases são:

- Hepatites virais (leia: AS DIFERENÇAS ENTRE AS HEPATITES).
- Cirrose (leia: CAUSAS E SINTOMAS DA CIRROSE HEPÁTICA).
- Esteato-hepatite (leia: O QUE É ESTEATOSE HEPÁTICA?).
- Abuso de bebidas alcoólicas (leia: EFEITOS DO ÁLCOOL E ALCOOLISMO).
- Lesão do fígado por drogas e medicamentos (hepatite medicamentosa).
- Insuficiência cardíaca (leia: INSUFICIÊNCIA CARDÍACA - CAUSAS E SINTOMAS).
- Isquemia do fígado (hepatite isquêmica).
- Câncer do fígado.

Doenças mais raras que frequentemente cursam com lesão hepática:

- Hepatite autoimune.
- Doença de Wilson.
- Deficiência de alfa-1-antitripsina.
- Hemocromatose.

Os valores normais variam de laboratório para laboratório, ficando, porém, o limite superior sempre ao redor de 40 e 50 U/L.

Valores até 3x maiores que o limite são inespecíficos e podem significar lesão de outros órgãos que não o fígado. Lesões musculares e hipotireoidismo são causas de pequenas elevações, principalmente do TGO. Lesões restritas às vias biliares também podem cursar com pequenos aumentos das transaminases, normalmente associada a grandes elevações da GGT e fosfatase alcalina (explico mais adiante).

TGO e TGP acima de 150 U/L sugerem fortemente doença do fígado. Apenas pelas transaminases elevadas não é possível saber a causa da lesão do fígado, sendo necessária uma maior investigação. 

TGO e TGP  maiores que 1000 U/L são causadas habitualmente por hepatites virais, hepatites por drogas (mais comum é intoxicação por paracetamol) ou hepatite isquêmica.

Além do valor absoluto das transaminases, outra dica é comparar a relação entre os valores de TGO e TGP. Normalmente a relação TGP/TGO = 0,8, ou seja, a TGO costuma ser ligeiramente maior que a TGO. Na hepatite por abuso álcool, essa relação se altera e a TGP passa a ser 2x maior que a TGO (TGP/TGO = 2). Nos casos de cirrose, os valores costuma ficar semelhantes (TGP/TGO = 1). Obviamente isso são apenas dicas. São dados que sozinhos não estabelecem nenhum diagnóstico.

É importante salientar que é perfeitamente possível ter uma doença hepática crônica e possuir transaminases normais. Isso é muito comum em pessoas com hepatite C crônica, por exemplo (leia: ENTENDA A HEPATITE C). Portanto, a ausência de alterações na TGO e TGP não descarta doenças do fígado.

A LDH é uma enzima presente em vários tecidos do corpo. Nos casos de lesão hepática, seus valores também aumentam. Ela, porém, é muito menos específica para o fígado do que a TGO e TGP. Mas é sempre mais um dado a ser levado em conta.

2- Fosfatase alcalina (FA) e Gama GT (GGT)

Enquanto as transaminases são usadas para se avaliar lesões das células do fígado, a fosfatase alcalina e a Gama GT são enzimas que se elevam quando há lesão das vias biliares.

Repare na ilustração abaixo. O fígado produz a bile, que é drenada pelas vias biliares. A árvore biliar nasce dentro do fígado e sua ramificações terminam se juntando, formando um ducto biliar comum, já fora do fígado, chamado de colédoco.

Pedra na vesícula - via biliar
Fígado e vias biliares
A GGT e a fosfatase alcalina são enzimas presentes nas células das vias biliares, e analogamente ao TGO e TGP, a lesão dessas células causa a elevação de suas enzimas no sangue.

Porém, a GGT e a FA não são tão específicas para as vias biliares quanto a TGO e, principalmente, a TGP são para o fígado. A fosfatase alcalina pode ser encontrada em grande quantidade em vários outros órgãos, principalmente nos ossos, placenta e intestinos. A Gama GT também encontra-se no coração, no pâncreas e no próprio fígado.

Em geral, o que sugere lesões das vias biliares é a elevação concomitante de ambas enzimas. As principais patologias que cursam com elevação conjunta de GGT e fosfatase alcalina são:

- Obstrução das vias biliares.
- Cirrose biliar primária.
- Colangite (infecção das vias biliares).
- Câncer das vias biliares.
- Uso de alguns medicamentos (corticoides, barbitúricos e fenitoína).

Abuso de bebida alcoólicas costuma causar uma elevação maior da GGT do que a fosfatase alcalina. Um doente com elevação de TGP menor que TGO e uma GGT maior que a fosfatase alcalina, provavelmente tem uma doença hepática causada por álcool.

Doenças do fígado que causem lesão das vias biliares intra-hepáticas podem cursar com elevação da TGO, TGP e também de GGT e FA. Do mesmo modo, obstruções das vias biliares que cursem com lesão do fígado também podem se apresentar com elevação das 4 enzimas.

A 5' nucleotidase A 5´nucleotidase (5'NTD) é outra enzima presente nas vias biliares, semelhante a GGT. Seu aumento tem o mesmo significado.

3- Bilirrubinas

As bilirrubinas são restos da destruição das hemácias velhas e defeituosas pelo baço. A bilirrubina produzida no baço é transportada pelo sangue até o fígado, onde é processada e eliminada na bile. A bile é jogada no intestino, participa da digestão, e posteriormente é eliminada nas fezes (daí a cor marrom das fezes).

A bilirrubina do baço é chamada de bilirrubina indireta, enquanto que a transformada no fígado é a bilirrubina direta.

Nas análises de sangue conseguimos dosar os dois tipos de bilirrubina. De acordo com o tipo que se apresenta aumentado, podemos ter ideia da sua causa.

Se, por exemplo, temos alguma doença que aumente a destruição das hemácias (hemólise), teremos um aumento da bilirrubina indireta no sangue. Do mesmo modo, se o nosso fígado encontra-se doente e não funciona bem, a transformação de bilirrubina indireta em direta fica prejudicada, causando o acumulo da primeira.

Algumas pessoas apresentam alterações genéticas e são incapacidade de conjugar a bilirrubina indireta em direta. A alteração mais comum é a síndrome de Gilbert que está presente em até 7% da população. Frequentemente, essa síndrome é descoberta por acaso ao se solicitar o hepatograma. (leia: SÍNDROME DE GILBERT, CRIGLER-NAJJAR e DUBIN-JOHNSON).

icterícia
Icterícia. Pele e olhos amarelados por deposição de bilirrubina.
Por outro lado, temos os casos em que a bilirrubina é transformada em direta, mas o fígado não consegue eliminá-la, fazendo com a mesma se acumule no sangue. Isto pode ocorrer no casos de obstrução do colédoco, seja por pedra ou por neoplasias. Em casos de hepatite aguda pode ocorrer edema das vias biliares intra-hepáticas e dificuldade das células do fígado em excretar a bilirrubina direta.

A bilirrubina total é a soma da direta com a indireta. Toda vez que seu valor sanguíneo for maior que 2 mg/dL, o paciente costuma apresentar-se com icterícia, a manifestação clínica da deposição de bilirrubina na pele (leia: ICTERÍCIA NO ADULTO E ICTERÍCIA NEONATAL).

Quando a icterícia ocorre por aumento da bilirrubina direta, isso significa que a mesma não consegue chegar aos intestinos. É comum que as fezes fiquem bem claras, quase brancas, pela falta de excreção do seu pigmento.

4- Outras dosagens da prova de função hepática

Uma vez estabelecido o diagnóstico de lesão no fígado, é possível ter uma ideia do grau de falência hepática. As duas principais dosagens para esse fim são a albumina e o TAP (TP).

A albumina é um proteína produzida no fígado e a queda nos seus valores sanguíneos podem indicar má função hepática.

Do mesmo modo, o fígado também participa na produção de vitamina K que está envolvida no processo de coagulação do sangue. Pessoas com falência hepática apresentam maior dificuldade em coagular o sangue, o que pode ser aferido pela dosagem do TAP (TP) ou pelo INR.

Leia o texto original no site MD.Saúde: O QUE SIGNIFICAM TGO, TGP, GAMA GT e BILIRRUBINA? http://www.mdsaude.com/2009/12/ast-alt-tgo-tgp.html#ixzz1q4TQEOfn

15 de mar. de 2012

Mentiras que dizemos para nós mesmos Acreditar convictamente em algo que não é verdade ajuda a não deixar escapar pistas que podem desmascarar as pessoas: perceber a falsidade cria a autofalsidade


Na ópera-rock de Andrew Lloyd Webber de 1970, Jesus Cristo Superstar, um Judas Escariotes cético questiona com falsa inocência (“Não me interprete mal, eu só quero saber”) a natureza divina do messias: “Jesus Cristo Superstar/ Você pensa que é o que dizem que você é?”


Embora eu seja cético quanto à origem divina de Jesus, acredito que ele deveria ter respondido a pergunta de Judas afirmativamente. Por quê? Por causa do que o legendário teórico evolucionário Robert Trivers chama de “a lógica da mentira e autofalsidade”, em seu novo livro The Folly of Fools(Basic Books, 2011). Vejam como funciona: um modelo de gene-egoísta da evolução propõe que devemos maximizar nosso sucesso reprodutivo por meio de astúcia e mentira. Embora a dinâmica da teoria do jogo mostre que se você estiver ciente de que outros competidores também utilizarão estratégias similares (você terá que fingir transparência e honestidade e levá-los à benevolência antes de sair e levar o produto do saque), se eles agirem como você, antecipando essa mudança de estratégia, poderão utilizar o mesmo golpe, o que significa que você deve estar completamente atento à falsidade deles e vice-versa. Dessa forma, nossa capacidade de descobrir o engodo evoluiu, o que levou a uma queda de braço entre a falsidade e a percepção da falsidade.


Agir falsamente representa uma ligeira vantagem sobre perceber a falsidade quando as relações interpessoais são raras e entre estranhos. Se você passar tempo suficiente com seus interlocutores, eles poderão deixar transparecer suas verdadeiras intenções por meio de pistas comportamentais. Como observa Trivers, “quando as interações pessoais são anônimas ou pouco frequentes, as pistas comportamentais não podem ser lidas sob a ótica de comportamentos conhecidos, é preciso utilizar características mais gerais da mentira”. Ele identifica três atributos: Nervosismo – devido às consequências negativas de poder ser descoberto, incluindo ser posto em xeque; normalmente as pessoas ficam mais nervosas quando mentem. Controle – em resposta à preocupação de parecer nervoso, as pessoas podem querer se controlar, tentando dominar o comportamento, com possíveis efeitos colaterais detectáveis como uma impressão planejada e ensaiada. Carga cognitiva – mentir pode implicar numa grande demanda cognitiva. É preciso esconder a verdade, construir uma história falsa com ar verossímil, contá-la de forma convincente e se lembrar dela para não cair em contradição.


A carga cognitiva parece desempenhar o papel mais importante. “Na ausência de mentiras bem ensaiadas, os mentirosos precisam pensar muito e isso provoca vários efeitos”, incluindo um controle excessivo que leva a piscar e a gesticular menos, fazer pausas mais longas e elevar o timbre da voz. Como Abraham Lincoln bem recomendou: “Você pode enganar alguns o tempo todo ou todos por algum tempo, mas não pode enganar todos o tempo todo”, a menos que a autofalsidade esteja envolvida. Se acreditar verdadeiramente na mentira provavelmente não deixará escapar pistas que poderão desmascará-lo diante dos outros: a falsidade e a percepção dela criam a autofalsidade.


A teoria de Trivers inclui uma explicação evolucionária ao meu próprio modelo de condicionamento operante para explicar por que sensitivos, médiuns, líderes espirituais e congêneres provavelmente têm consciência de que suas habilidades envolvem certa quantidade de fraude (justificada em nome de uma causa nobre). À medida que seus seguidores reforçam positivamente sua mensagem, eles acabam acreditando nos próprios talentos – “Talvez eu leia mesmo o pensamento das pessoas, preveja o futuro, salve a humanidade”. No entanto, Trivers perde uma oportunidade de adicionar mais um componente positivo na autofalsidade ao abordar a evolução da moralidade. Como discuti em meu livro de 2004, The Science of Good and Evil (Times Books), a verdadeira moralidade evoluiu pelo fato de ela não ser suficiente para uma pessoa fingir ser boa, porque nos ambientes ancestrais, com pequenos grupos de coleta e caça nos quais todos se relacionavam com os demais ou se conheciam intimamente, a falsa moralidade seria desmascarada. É preciso, na verdade, ser uma boa pessoa por acreditar nisso e agir de acordo.


Empregando a lógica da falsidade e da autofalsidade, podemos construir uma teoria de baixo para cima para a evolução das emoções que controlam o comportamento julgado bom ou mau por nossos parentes primatas. Nessa compreensão baseiam-se as fundações de uma sociedade civil secular. 

Consumo de carne vermelha aumenta risco de morte prematura


por Katherine Harmon

©Luiz Rocha/ Shutterstock
Há anos o consumo exagerado de hambúrgueres, costeletas de porco ou outros tipos de carne vermelha está associado a doenças cardíacas, diabetes e alguns cânceres. Especialmente carne vermelha processada como bacon, salsicha ou mortadela, tem forte relação com doenças crônicas.

Um estudo recente sobre o assunto traz uma notícia ainda mais terrível para os carnívoros inveterados. Além de aumentar a propensão a doenças, a carne vermelha, processada ou não, pode realmente aumentar o risco de morte prematura em geral. A conclusão foi publicada on-line em 12 de março no Archives of Internal Medicine.

Pesquisadores liderados por An Pan, da Harvard School of Public Health, analisaram informações de saúde e de hábitos alimentares de mais de 121 mil homens e mulheres americanos que participaram de dois estudos de longo prazo sobre bem estar. Todos os pesquisados, no início dos estudos, estavam livres de doenças cardíacas e câncer.

No decorrer da longa observação de até 28 anos, mais de 13.900 pessoas faleceram, cerca de 9.460 de câncer e quase 6 mil de doença cardiovascular. Após ajustar outros fatores, descobriu-se que cada porção diária de carne aumentou o risco de morte prematura em cerca de 12%. O consumo de carne processada, em especial, aumentou essas chances ainda mais. Salsichas e bacon pareciam ser os mais suscetíveis a conduzirem a uma morte precoce.

Segundo estimativas, caso todos os participantes do estudo se limitassem a 42 gramas ou menos de carne vermelha por dia (cerca de meia porção padrão), mais de 9.860 mortes prematuras relacionadas à dieta poderiam ter sido evitadas.

Portanto, se deixamos de fora o cordeiro e presunto, além do bife nosso de cada dia, muitos se perguntarão se não estaríamos ingerindo proteína insuficiente a cada refeição. Não temam, asseguram muitos especialistas em saúde, existem outras maneiras mais seguras de ingerir proteínas. Peito de frango tem realmente mais gramas de proteína que um pedaço equivalente de carne vermelha – e o peixe não fica muito atrás. Cientistas descobriram também que o feijão, as nozes e castanhas, leite magro e grãos integrais são substituições saudáveis para uma porção de carne vermelha.
Para os que se preocupam em ter quantidade suficiente de ferro, cientistas advertem que, na verdade, seu excesso está associado a ataques e doenças cardíacas fatais, além de, provavelmente, câncer. Chegar a um nível saudável de consumo de carne vermelha pode ser uma batalha difícil. Nos Estados Unidos, apenas cerca de 9,6% das mulheres e 22,8% dos homens estudados se encaixaram na categoria de baixo risco (de meia-porção ou menos por dia) para o consumo de carne vermelha. Ao contrário do pensamento popular, uma boa dieta inclui tanto o que ingerimos, quanto o que deixamos de fora do cardápio.

O estudo mostra que a troca de uma porção de carne vermelha por peixe ou frango não só elimina o risco como aumenta a chance de longevidade. A substituição diária de uma porção de carne vermelha por peixe reduz o risco de mortalidade prematura em 7%; para as aves, a redução foi duas vezes maior, 14%.

Os vegetarianos ficam melhor ainda. “Alimentos de origem vegetal são ricos em fitoquímicos, bioflavonóides e outras substâncias protetoras”, escreveu Dean Ornish, defensor da dieta integral em um ensaio relacionado, também publicado segunda-feira no Archives of Internal Medicine. “Assim, substituir carne vermelha por alimentos mais saudáveis traz benefícios em dobro para a saúde.”

Ornish observou que o foco para uma dieta saudável deve estar na qualidade, mais que na quantidade: “porções menores de alimentos bons são mais satisfatórios que porções maiores de alimentos pouco saudáveis”. Além disso, ele destaca sugestões atuais, baseadas em pesquisa, para uma dieta mais saudável:

• Consumir pouca ou nenhuma carne vermelha; obter proteína de aves, peixe, legumes, nozes ou outros produtos.

• Comer muitos carboidratos integrais saudáveis, como cereais integrais, feijão, frutas e legumes.

• Evitar carboidratos pouco processados ou refinados, como farinha branca, açúcar ou glicose de milho.

• Procurar ingerir algumas gorduras saudáveis, como ácidos graxos ômega três, contidos em linhaça e óleo de peixe.

• Limitar as poucas gorduras ruins, como hidrogenadas, gorduras saturadas ou trans.

Outro benefício para a redução do consumo de carne vermelha: diminuição das despesas médicas descontroladas, acrescentou Ornish. Evitar doenças crônicas relacionadas ao excesso de consumo de carne vermelha pode diminuir seriamente os gastos médicos.

Teoria científica para quê? Talvez seja hora de reavivar conceitos que, de tão comuns, não são devidamente trabalhados com as novas gerações que chegam às salas de aula e aos laboratórios de pesquisas


por Dimas A. M. Zaia, Rogério F. de Souza, Tiemi Matsuo, Cássia Thaïs B. V. Zaia e Silvia Ponzoni

© Images.com/Corbis Latinstock
Há algum tempo iniciamos uma pesquisa visando detectar o grau de aceitação/rejeição de teorias como origem da vida, do Universo e evolução entre alunos de graduação da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. Embora não tenhamos o mesmo nível de conflito frequentemente observado em países como os Estados Unidos, marcados pelo criacionismo, acreditamos que esse problema seja pouco dimensionado no Brasil, considerando a carência de informações a esse respeito na literatura especializada.

Originalmente nosso grupo de análise selecionou alunos de licenciatura e bacharelado de diferentes cursos. Os resultados mostraram um grau relativamente baixo de rejeição a esse tema: por volta de 8,9%. Assim como em outros países, os mais refratários ao darwinismo estão concentrados entre o que classificamos em nossa pesquisa
como “cristãos não católicos”. E aqui fizemos uma constatação: há uma íntima relação entre o grau de instrução dos pais e a aceitação ou não da teoria evolutiva por parte dos entrevistados. Filhos de pais mais instruídos aceitam o darwinismo. 

Em contraposição nos chamou a atenção a frequência de comentários como “evolução é somente uma teoria” ou “teorias podem ser mudadas com o tempo” nos questionários devolvidos por diferentes estudantes. Em alguns casos foi possível perceber nas entrelinhas que, para muitos deles, o conceito de teoria científica está estrito a um conjunto de ideias ainda sem comprovação. Isso nos estimulou a desenvolver um novo projeto que permitisse compreender minimamente como nossos estudantes interpretam a expressão “teoria científica” e alguns de seus componentes mais básicos. Os resultados que apresentamos foram extraídos de 621 alunos entrevistados — do primeiro ao quarto ano dos cursos de história, filosofia, química, física, geografia, biomedicina, ciências biológicas e medicina. Para facilitar a análise dos dados esses estudantes foram agrupados em três grandes áreas: ciências humanas, exatas e biológicas.

Uma informação que tentamos obter foi se eles teriam tido, em algum momento da sua educação formal, a informação explícita sobre como as teorias científicas são estabelecidas e/ou fundamentadas. Neste caso, 30% dos entrevistados responderam que nunca haviam tido qualquer explicação a esse respeito. Dos que responderam positivamente, 46% afirmaram que haviam aprendido esses conceitos na universidade e/ou em outras situações, como no ensino fundamental e médio, ou nos cursinhos pré-vestibular. Em seguida, perguntamos onde o termo teoria científica seria aplicado, dando a eles três opções de escolha. Em média, 56% dos entrevistados optaram pela definição de que, em ciência, a expressão “teoria científica” seria aplicada nas situações onde existiriam “muitos dados experimentais disponíveis para explicar determinado fenômeno natural”; 20% escolheram a opção “poucos dados experimentais” e 24% preferiram a opção “ainda não existiriam dados experimentais suficientes”.

No último caso, não houve diferenças estatisticamente significativas entre os três grupos de entrevistados (humanas, biológicas, exatas). Esse resultado é uma surpresa,
pois seria de esperar que os alunos das áreas biológicas e exatas, em princípio, devessem estar mais familiarizados com o significado da expressão que os alunos agrupados na área de ciências humanas, com maior conhecimento a esse respeito. 

Também procuramos estabelecer o grau de conhecimento dos estudantes quanto a alguns termos utilizados em ciência. Nesse caso, perguntamos se eles concordariam ou discordariam de três afirmativas. Para a opção “Uma hipótese que não possa ser submetida a testes ou ser refutada não pode ser considerada uma hipótese científica”, houve diferenças estatisticamente significativas entre os entrevistados das três grandes áreas.

Diferença entre áreas

Os alunos das áreas biológicas e exatas foram os que mais concordaram com essa afirmação, com 58% e 60% de resposta afirmativa, respectivamente, contra 47% da área de humanas. Essa discrepância entre alunos das áreas exatas e biológicas e os de humanas pode dever-se ao fato de que os primeiros acabam desenvolvendo a percepção que algo só pode ser verdade se puder ser testado, já que a experimentação é uma atividade comum a eles.

Para as afirmativas “Uma hipótese científica, quando devidamente comprovada, acaba por se tornar uma lei científica” e “Uma lei científica é uma explicação para determinado fenômeno natural que se repete diante de condições bastante específicas”, não houve discordância estatisticamente significativa entre os três grupos de estudantes. O grau médio de concordância em relação a essas duas afirmativas foi de 63% e 80%, respectivamente. Esses índices podem resultar do fato de que, durante sua formação, os estudantes aprendem sobre diferentes leis, como a lei de Lavoisier, Newton e Mendel, entre outras. Mas, a partir das experiências envolvendo a discussão desse tema em aula, percebemos que, para muitos deles, parece claro que uma hipótese científica é algo que, quando comprovado naturalmente, se transforma em lei.

O passo seguinte foi tentar descobrir que ideias científicas os estudantes consideram explicadas ou sustentadas por teorias científicas. Três concepções, a evolução dos seres vivos (74%), a estrutura atômica (73%) e a origem do Universo (70%), foram as mais escolhidas pelos entrevistados. As outras quatro, a transmissão da herança pelos genes (56%), a movimentação dos continentes (54%), a mecânica quântica (53%) e a gravitação (52%), foram escolhidas com menor frequência. 

Dessas sete opções, três, descritas a seguir, apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. A movimentação dos continentes, por exemplo, foi escolhida por 62% dos alunos das áreas biológicas, 52% das exatas e 45% das humanas. Para a evolução dos seres vivos a escolha foi de 81% das biológicas, 71% das exatas e 69% das humanas. E, por fim, a mecânica quântica teve 58% das exatas, 57% das humanas e 44% das biológicas. No geral, podemos dizer que a escolha de determinado fenômeno pode estar relacionada à área em que o aluno está inserido. Mas, em alguns casos, como a estrutura atômica, é difícil haver contestação em uma sociedade habituada a situações como eletricidade, televisores, computadores, bombas atômicas, usinas nucleares etc. Porém, não devemos descartar o papel da mídia nestes casos. Afinal, dos três fenômenos mais escolhidos, dois deles – a origem do Universo e a evolução dos seres vivos – são constantemente abordados pelos meios de comunicação. 

Para finalizar a pesquisa, perguntamos se os estudantes consideravam haver um grau elevado, intermediário ou baixo de sustentação científica para esses mesmos fenômenos. Em média, o fenômeno mais escolhido como portador de um grau elevado de sustentação científica foi a transmissão da herança pelos genes, com média de 77%, e o menor, a origem do Universo, com apenas 16%. Os dois fenômenos mais indicados como apresentando pouca sustentação científica foram a origem do Universo (51%) e a evolução dos seres vivos (17%).

Em pesquisa anteriormente publicada verificamos que esses dois fenômenos são considerados como os menos estabelecidos pela ciência, na visão dos entrevistados. E que essa escolha está relacionada tanto a fatores religiosos como ao nível educacional dos pais.

Em relação à origem do Universo convém destacar que tem havido questionamentos sobre as múltiplas possibilidades do Big Bang, e alguns fenômenos ligados a essa área ainda não são muito bem compreendidos. Os únicos fenômenos que apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre as áreas foram a transmissão da herança pelos genes e o deslocamento dos continentes. Neste caso, os alunos das áreas biológicas os definiram como apresentando um grau mais elevado de sustentação científica que os estudantes das áreas de exatas e humanas. Novamente podemos verificar que essa escolha está relacionada à área em que os estudantes foram agrupados. Ainda assim, algumas questões ficam sem respostas como: por que os estudantes das áreas de exatas não se diferenciaram dos outros em temas como a estrutura atômica, mecânica quântica e gravitação? 

Que tipo de informação esses dados fornecem? De modo geral, os estudantes concordam que as leis científicas são dotadas de maior credibilidade. O que parece gerar dúvidas em muitos deles são justamente os termos “hipótese” e “teoria científica”. Na verdade, as palavras “teoria” e “evolução” parecem trazer em seu cerne um problema relacionado a um significado mais usual. Teoria pode significar especulação, suposição, mas também pode se referir à compreensão de um fenômeno a partir da sua observação. A palavra evolução, num contexto geral, também significa progresso. Em biologia, no entanto, quer dizer modificação ao longo das gerações na composição genética das populações. Embora essa questão de significação pareça trivial, a oportunidade de garantir uma formação mais completa e adequada a uma porção considerável 
dos estudantes pode estar sendo perdida quando esse assunto deixa de ser discutido em sala de aula.

Vamos entender melhor esse raciocínio utilizando como exemplo um curso como o de ciências biológicas. De modo geral, na formação de alunos nessa área são abordados
assuntos como botânica, zoologia, ecologia e biologia molecular. Em meio a tantas disciplinas, há a exigência de trabalhar o conceito de evolução biológica. Normalmente isso é feito ao longo do curso (ou pelo menos se espera que isso aconteça), mas também existe uma disciplina específica para tratar desse tema. Trabalhar com a disciplina de evolução biológica pode ser um desafio interessante, uma vez que, para muitos estudantes, ela parece ser a única do currículo pela qual vão aprender sobre “algo que ainda não foi bem estabelecido”. É interessante notar que, ao utilizar as primeiras aulas da disciplina para o esclarecimento de conceitos como o de que nem todas as hipóteses científicas terão de se transformar em leis para serem aceitas, ou de que todo o conhecimento científico – da sistemática usada na botânica e zoologia, à genética empregada na produção de transgênicos – é sustentado por teorias científicas, as apreensões e dúvidas dos estudantes e até mesmo as suas possíveis defesas contra os diferentes temas trabalhados são consideravelmente reduzidas.

Nessa pesquisa, os alunos foram entrevistados antes do início das aulas de evolução e cerca de dois meses após a conclusão desse estágio. E, para a afirmativa “o termo teoria científica seria aplicado nas situações nas quais existiriam muitos dados experimentais disponíveis para explicar um determinado fenômeno natural”, as diferenças observadas entre as respostas iniciais e finais foram de 65% contra 82%. Ou seja, explicar adequadamente o método científico pode fazer uma grande diferença.

Será que esse tipo de problema é pontual, mais relacionado à formação dos alunos da nossa instituição, ou ele se repete país afora? De modo geral, consideramos que o ensino formal nas escolas ou universidades prepara os alunos para compreender como se dá a construção do conhecimento científico. Ou seja, pelo menos nas disciplinas das áreas biológicas e exatas, esperamos que a escola esclareça o que é e como funciona o método científico.

Na universidade recebemos os alunos e fazemos um esforço considerável (bolsas, horas-atividade, certificados) para levá-los aos laboratórios a fim de introduzi-los no
processo de construção do conhecimento científico (ou apenas procuramos mão de obra barata para as nossas pesquisas?), sem termos em mente que, muitas vezes,
eles não foram devidamente iniciados nesse processo. Quer dizer, mesmo com a melhor das intenções, podemos estar contribuindo para a formação de ótimos repetidores
de procedimentos metodológicos de ponta que não sabem muito bem o que estão fazendo.

Por que não ensinar evolucionismo e criacionismo nas escolas? Ou que tal abrirmos espaço para falarmos de astronomia e astrologia nas aulas de física?

Esse é um tipo de risco que precisamos e devemos minimizar. Por considerarmos esses conhecimentos tão básicos, acreditamos que alguém, em algum momento passado, cumpriu essa tarefa de falar formalmente com os alunos sobre o método científico. Como ninguém aparentemente se preocupa em detectar se isso realmente aconteceu, o
assunto fica no dito pelo não dito. 

Talvez seja hora de reavivarmos conceitos que de tão comuns não são devidamente trabalhados junto às novas gerações que chegam às salas de aula e aos laboratórios. 


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11 de mar. de 2012


Nestlé elimina ingredientes artificiais de todos os seus doces na Grã-Bretanha


O braço da Nestlé no Reino Unido anunciou ter removido totalmente cores, sabores e preservativos artificiais de seus doces, entre os quais barras de chocolate e balas.
Em comunicado, a empresa anunciou que promoverá a mesma mudança em países europeus e no Canadá, mas não menciona o Brasil.

A companhia, que produz marcas populares no Brasil como Nescau, Chokito e Tostines, eliminou mais de 80 ingredientes não naturais das receitas de 79 produtos vendidos no Reino Unido.
Segundo jornais britânicos, a Nestlé seria a primeira grande empresa de produtos alimentícios a retirar todos os componentes artificiais de toda sua linha de doces.
Os químicos foram substituídos por alternativas naturais vindas de concentrados de frutas, legumes e plantas comestíveis, como cenoura, hibisco, cártamo, rabanete e limão.
A barra de chocolate Crunch foi o último dos itens da companhia a ter a fórmula modificada. Há seis anos a empresa vem promovendo as mudanças.
A Food Standards Agency, que cuida da qualidade dos alimentos no país, havia recomendado fabricantes de alimentos a eliminarem ingredientes químicos.
Um estudo da ONG britânica Grupo de Apoio a Crianças Hiperativas mostra que de um total de 357 crianças hiperativas examinadas 87% apresentaram agravamento do seu quadro devido a colorantes artificiais na comida, enquanto 72% reagiram a preservantes.
De acordo com comunicado da Nestlé, as mudanças foram feitas em resposta a pesquisa da empresa Health Focus International que mostra que 74% dos consumidores buscam produtos naturais nas prateleiras de supermercados.
A Health Focus International tem entre seus clientes grandes empresas do ramo de alimentação, incluindo a própria Nestlé.

BBC

Bebês nascidos poucas semanas antes do normal 'têm maior risco de doenças'


s bebês que nascem prematuros por apenas algumas semanas têm um risco ligeiramente maior de ter problemas de saúde na infância, indica uma pesquisa.
Os autores do estudo dizem que ele desafia visões estabelecidas de que os bebês nascidos depois de 37 semanas têm um desenvolvimento de longo prazo semelhante àqueles nascidos no período normal de 40 semanas de gestação.

O estudo verificou as condições de saúde dos bebês, incluindo internações hospitalares e doenças como asma.
A pesquisa, publicada na revista científicaBritish Medical Journal, foi realizada junto a 14 mil crianças, nascidas há dez anos, até atingirem 5 anos de idade.
Trabalhos anteriores se concentraram em bebês nascidos muito prematuramente, antes de 32 semanas de gestação.
Mas este estudo indica que a maioria dos prematuros, composta por crianças nascidas com poucas semanas de antecedência, também precisa de uma atenção extra.
A pesquisa aponta que os bebês nascidos antes de 39 semanas têm um risco ligeiramente maior de ter problemas de saúde até os 5 anos. Quanto mais cedo o bebê nasce, segundo o estudo, maior é o risco.
Por exemplo, enquanto 15% dos bebês nascidos após uma gestação completa apresentaram asma ou chiado no peito, o número sobe para 17% para aqueles nascidos prematuros de algumas semanas.
Além disso, estes bebês desenvolveram uma tendência levemente maior de parar no hospital.
Os autores do estudo, no entanto, afirmam que os pais não devem ser preocupar com o que consideram uma chance modestamente maior de seus filhos prematuros contraírem doenças.
Para os cientistas, o trabalho deve ser usado para questionar o nível de cuidado dado a essas famílias.

'Gradiente de risco'

A pesquisa foi realizada pelas universidades de Leicester, Liverpool, Oxford e Warwick, além da Unidade Nacional de Epidemiologia Perinatal da Grã-Bretanha.
"Nós descobrimos que não é mais apropriado, como fizemos anteriormente, considerar os bebês como ou nascidos no tempo certo ou prematuros", diz a médica Elaine Boyle, da Universidade de Leicester.
"O que nós descobrimos é que existe um gradiente de risco crescente para a saúde com a crescente prematuridade, mas o risco se estende até pouco antes do tempo em que o bebê deveria ter nascido."
O executivo-chefe da instituição de caridade britânica Bliss, Andy Cole, recebeu bem a pesquisa.
"Este estudo lança luz sobre a necessidade de dar o melhor cuidado possível a todos os bebês prematuros", disse.
"Os bebês nascidos antes do tempo estão sob maior risco de contrair doenças como asma na infância, e devem ser submetidos a exames regulares para garantir que continuem saudáveis."
BBC

Revoltante


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